Relatório global de mercados privados 2023 da McKinsey: correção após um ano recorde

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Créditos: Firmbee.com (Unsplash)

A consultora McKinsey publicou o seu Relatório Global de Mercados Privados 2023, uma análise exaustiva da evolução e dos resultados do setor de investimento de capital privado, que abrange o capital de risco, o setor imobiliário, a dívida e as infraestruturas, bem como recursos naturais. O Global Private Markets Review 2023 mostra que 2022 marcou o comportamento do mercado de investimento privado devido às grandes mudanças que sofreu, tanto por fatores internos como externos. 

Após um ano recorde em 2021, o volume de transações de private equity diminuiu 26% em valor e 15% em número de operações. No total, as empresas de private equity completaram menos 2.639 aquisições, uma diminuição de 14% interanual, com a dimensão média das operações a diminuir 7%. Mas apesar de grande parte do setor ter sentido o abrandamento da atividade, 2022 foi o segundo ano mais ativo da história.

Entre os fatores adversos que tiveram influência neste comportamento estão o aumento da inflação e das taxas de juro, a invasão russa da Ucrânia e a queda das cotações dos mercados públicos.

Efeito denominador

Outro tema relevante em 2022 foi o efeito denominador, um aumento das alocações dos investidores institucionais nos mercados privados devido à rápida queda das cotações dos mercados públicos. Os grandes fundos e os seus patrocinadores beneficiaram desta situação de incerteza, devido a uma maior indecisão por parte dos investidores na hora de destinar fundos aos mercados privados e que, por isso, optaram por GP (general partners) mais consolidados e com melhor track record, que atingiram o seu auge em 2022. Os fundos com mais de 5.000 milhões de dólares arrecadaram 445.000 milhões de dólares em 2022, o que representou 35% do total da angariação de fundos de capital privado. Em contrapartida, os fundos com menos de 5.000 milhões de dólares diminuíram cerca de 44% e apenas foram criados 2.141 fundos em 2022, menos 1.600 do que em 2021. 

Dívida privada

No que diz respeito à dívida privada, o levantamento de capital aumentou durante cinco anos consecutivos, crescendo 2% em 2022. Num contexto de incerteza macroeconómica, a estabilidade do levantamento de capital depende da diversidade das estratégias de dívida privada. Em 2022, as dívidas mezzanine foram as mais favorecidas, uma vez que os totais de levantamento de capital para esta estratégia triplicaram em relação ao ano anterior, graças a três fundos que arrecadaram mais de 5.000 milhões de dólares cada um. No total, entre todas as estratégias, o levantamento de capital de fundos de dívida privada cresceu 11% ao ano nos últimos cinco anos.

“A dívida privada foi a classe de ativos privados de maior crescimento durante a última década e a mais atrativa ao longo do ciclo, como evidenciado pelo crescimento no levantamento de capital durante as recessões de 2020 e 2022. No ano passado, os credores privados captaram ainda mais quota de mercado e continuaram a financiar acordos na segunda metade do ano, quando os canais de financiamento tradicionais estavam praticamente encerrados”, assinala Alejandro Beltrán, sócio sénior da McKinsey e líder global da prática de Private Equity.

Evolução dos ativos geridos

O relatório deste ano também analisou o comportamento dos ativos geridos, que tiveram um crescimento de 19% interanual na primeira metade de 2022 nos mercados privados. Esta evolução foi influenciada pelo crescimento do valor do património líquido (NAV), que conduziu a 80% do resultado. Além disso, os resultados positivos no crédito privado e nas infraestruturas acrescentaram valor aos ativos em carteira. Quanto aos mercados privados mundiais, o levantamento de capital diminuiu 11% internual em 2022, sendo o setor imobiliário o que caiu mais abruptamente em relação aos máximos históricos alcançados em 2021, com uma queda de 23%. 

Por outro lado, no campo dos investimentos sustentáveis registou-se um crescimento notável em relação a outras áreas, e 2022 está no bom caminho para ser o melhor ano para os fundos relacionados com assuntos ambientais, sociais e de governance (ESG).

Setor energético está em expansão

Seguindo esta linha, o setor energético também está em expansão. Os investimentos energéticos tradicionais aumentaram devido à crise energética e à subida vertiginosa do preço do petróleo e do gás natural, mas a transição energética continua a ser a estrela do investimento a longo prazo, atingindo um máximo histórico de 158.000 milhões de dólares em 2022, com cinco fundos a captar mais de 10.000 milhões de dólares, representando 47% do total de capital levantado.

“No ano passado houve desafios para os mercados privados, que se materializaram em retornos erodidos em relação ao ano anterior, mas também assistimos a uma grande evolução na indústria. A transição energética continua a aumentar e isto irá atrair níveis de capital cada vez maiores no espaço da energia e sustentabilidade”, conclui Tomeu Palmer, sócio da McKinsey e líder da prática de Private Equity & Principal Investors na Península Ibérica.