Que balanço faz do sector em 2012?
O ano de 2012 foi um ano mau em termos de investimentos e desinvestimentos, houve poucas operações. Com excepção, mais uma vez, para aqueles fundos muito específicos de recuperação, diria que o ‘fundraising’, não sendo mau de todo - porque mesmo assim conseguimos levantar cerca 268 milhões de euros -, a realidade é que foi fraco, decresceu brutalmente. O nível de investimento foi de cerca de 228 milhões, o que é muito pouco comparado com o que já se fez e tendo em atenção que temos quase dois mil milhões sob gestão em Portugal; este valor não significa liquidez, temos dois mil milhões de activos, e temos um desinvestimento francamente baixo, à volta de 100 milhões de euros, o que mostra que há pouca rotação de carteira.
E que não tem havido mercado?
Não há mercado. E depois há um problema estrutural do sector. Temos um sector que, como todos os outros, tem três actores típicos: tínhamos um actor, o Estado, que, directamente, reduziu muito a sua participação; temos os cativos (os que estão dependentes de bancos) que, com excepção de um ou dois, estão relativamente parados; e nos puramente independentes diria que está a haver uma concentração nos três, quatro grandes, e depois os pequenos vão fazendo pequenas operações.
Acaba por ser um reflexo da conjuntura actual...
Houve uma concentração de levantamento muito grande de capital em Portugal em dois tipos de instituições, na banca e no Estado, e, quer a banca quer o Estado, deixaram de poder ser suporte desta actividade do ponto de vista do investimento, o que leva a um problema, ou diversificamos as fontes de investimento ou temos que ir fora. Mas no exterior não está melhor, o que significa que temos de ser, de facto, muito bons, e quem acaba por, de alguma forma, ter capacidade para fazer este trabalho, são os maiores, porque são aqueles que têm capacidade de criar dinâmicas de ‘roadshow’, que são caras, de montar boas equipas, de gente com grandes currículos. E estes maiores acabam também por se concentrar em três ou quatro operadores, nos independentes. Temos muitos operadores novos, mas pequenos, temos operadores que ainda não arrancaram, temos alguns operadores com dimensão que, agora, além de fazerem capital de risco, também começaram a dedicar-se mais à recuperação de crédito e à reestruturação. Estou a sentir alguns operadores a irem por outros caminhos que tocam com ‘equity’, mas que na verdade são recuperação, apanharam um mercado e desenvolveram-no.
Mas não se enquadra no papel típico do capital de risco. É apenas o aproveitamento de uma oportunidade que surgiu com a crise?
Vou acreditar que não é estrutural, que é conjuntural. Houve uma necessidade de os bancos libertarem-se de uma série de activos, encontrando neste tipo de veículos a forma para resolver um problema de imparidades. O que no fundo os bancos estão a fazer é colocar na mão de entidades profissionais a gestão daqueles activos. Acho bem, mas não é exactamente capital de risco, na realidade é um pouco diferente, é uma tentativa de ‘turnaround’, de recuperação, não é o capital de risco puro e duro como temos visto. Penso que não irá repetir-se. Parece-me que o que aconteceu com parte destes fundos foi aproveitar um constrangimento que se tornou numa oportunidade. Agora é evidente que isto teve um impacto grande na vida do sector, porque estamos a ver operadores de grande dimensão, nos quais temos muita expectativa, a ter um foco grande neste tipo de produto. Mas não deixam de olhar para as operações de capital de risco e ‘private equity’.
Por onde tem que se fazer o caminho para dinamizar o sector?
Penso que temos que caminhar no sentido de criar condições de ter operações de ‘private equity’ sérias em Portugal, há gestores e operadores com capacidade comprovada para o fazerem. Estou preocupado com a capacidade que o país tem para atrair investidores, porque não acredito que tenhamos fundos suficientes em Portugal, nos investidores habituais, para ter sustentabilidade a longo prazo, não é muito fácil levantar capital cá dentro, e diria que vai depender muito daquilo que o país quiser fazer para este sector. E isto leva-me a um ponto, diria um pouco mais político.
E que é?
Numa altura em que as empresas estão descapitalizadas, em que o crédito está quase fechado, em que os empresários não têm ‘cash’ e provavelmente o que têm não querem investir nas empresas, diria que a única forma que temos para dinamizar as empresas é o reforço de capitais próprios, e este é o único instrumento que nós temos, profissional, para reforço dos capitais próprios e para trazer gestão profissional. E só há uma forma de trazer capital para Portugal, é ser melhor que os outros. Não concebo que Portugal continue a ter uma queda brutal, como tem tido, nos ‘rankings’ dos ‘benchmarks’, quando estamos a comparar por exemplo os ‘benchmarks’ fiscal, legal e regulamentar, em que Portugal estava bem classificado e tem caído nos últimos dez anos, porque não tem acompanhado.
E o que é que é preciso mudar?
É preciso ser melhor que os outros. Há mudanças que têm de acontecer ao nível do estatuto dos benefícios fiscais destes fundos, o enquadramento jurídico-tributário do capital de risco tem de mudar, mudar para melhor. Nós temos que ser o melhor, não ser o segundo, o melhor. E esta é a única forma que temos de trazer capital para investir em fundos de capital de risco em Portugal. Boas equipas existem. Agora, nós enquanto país, temos de apresentar um enquadramento muito mais interessante do que hoje temos; o nosso enquadramento já foi interessante, não era o melhor, mas hoje está no último lugar ou quase. Não é que nós tenhamos piorado o nosso modelo, que era bom, os outros é que melhoraram.