Terão conseguido os hedge funds bater o mercado em 2016?

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Artemuestra, Flickr, Creative Commons

Já é oficial: os hedge funds também não conseguiram bater o mercado em 2016, nem os produtos de ações, nem os de obrigações. No entanto, é justo afirmar que o ano que terminou foi também especialmente difícil para a gestão ativa, considerando que os fundos ativos não conseguiram, em termos gerais, bater os índices.

Da Lyxor AM, a equipa composta por Jeanne Asseraf-Bitton (responsável global de análise cross asset), Philippe Ferreira (estratega cross asset sénior) e Clémente Chaulot (analista de fundos) destacam como principal armadilha “a mudança do medo perante um cenário de deflação, para as esperanças de uma reflação no segundo semestre, que levou a consideráveis reversões de tendências nos mercados. Isto apanhou muitos investidores de surpresa”.

 Os membros da equipa opinam que “há margem para que os gestores de ações long/short norte-americanas usufruam de uma maior dispersão de valores em 2017”. Paralelamente, prognosticam que “uma maior atividade corporativa nos EUA poderá impulsionar os fundos event driven”. Por outro lado, na Lyxor declaram-se “mais conservadores com os gestores europeus, tanto de ações long/short como event driven”. Por fim, destacam que recentemente mudaram a alocação a CTAs: “Acreditamos que a conjuntura atual para o investimento deverá melhorar em 2017”, explicam.

A entidade detalha também o comportamento das principais estratégias de hedge funds durante dezembro. O mês teve a particularidade de que este conjunto de fundos de investimento gerou retornos positivos e superiores aos índices de referencia de ações e obrigações nas últimas semanas do ano. Desta forma, o índice hedge da Lyxor terminou dezembro com uma rentabilidade de 1,3%.

Vencedores e perdedores em dezembro

A desagregação das estratégias revela o bom comportamento dos fundos global macro. Os especialistas destacam que “os ganhos gerados na parte final de dezembro permitiram a alguns gestores regressar a território positivo no global do ano de 2016”. Dentro da categoria, observa-se que as alocações a moedas têm continuado a ser um forte gerador da rentabilidade, especialmente durante a terceira semana de dezembro, coincidindo com a última reunião da Fed: “As posições longas em dólares em comparação com outras divisas de mercados desenvolvidos beneficiaram da ação do FOMC e das subidas de taxas de juro esperadas para 2017”. Este movimento provocou, por outro lado, a perda de parte da rentabilidade acumulada nas posições curtas na Europa, no Reino Unido e em obrigações norte-americanas. Finalmente, a exposição a ações por região beneficiou somente alguns gestores que operam nos mercados europeu e japonês, por oposição àqueles que tentam bater o S&P.

Os CTAs também mostraram um comportamento positivo, com o cabaz de divisas como o principal contribuinte para a rentabilidade das estratégias. Assim, da Lyxor observam o bom resultado do posicionamento longo em dólares, perante a queda geral das restantes moedas. Foi igualmente positiva a contribuição dos CTAs sobre ações, sobretudo os que investem na Europa e Japão e sobretudo, durante a terceira semana de dezembro. “Interessantemente, o movimento em alta das yields nos mercados desenvolvidos não danificou a rentabilidade dos CTAs. De facto, depois de passar grande parte do ano com uma exposição líquida longa, em termos gerais, a recente viragem para uma duration curta permitiu que a estratégias se comportasse bem durante o período posterior à eleição de Trump”, detalha o trio de especialistas. Estes acrescentam que os CTAs “beneficiaram das suas alocações a dívida australiana, alemã e norte-americana”. O único detrator de rentabilidade foi a exposição a matérias primas, “mesmo que com um impacto limitado”, esclarecem da empresa.

Dentro do universo Event Driven – que gerou um ganho de 0,8% no mês -, brilharam os bons resultados dos fundos focados em situações especiais, graças às suas posições em consumo cíclico, energia e tecnologia. Também se produziram movimentos destacáveis de M&A, como  a OPA da Johnson & Johnson à Actelion, e a luz verde ao acordo Aleren/Abbott, depois da aprovação dos reguladores chinês, japonês e brasileiro.

A decisão da Fed de subir as taxas de juro em dezembro não desencadeou uma forte correção do crédito, considerando que tinha já sido amplamente sinalizada pelo banco central. Neste contexto, os fundos de arbitragem de crédito long short tiveram que lidar com o comportamento bastante flat tanto do segmento high yield, como das obrigações com grau de investimento. Neste contexto, os principais ganhos foram obtidos em ativos AT1, enquanto que a dívida financeira – e as CoCos em particular – beneficiou da inclinação da curva.

Desta forma, as estratégias presentes na plataforma da Lyxor apenas conseguiram gerar uma rentabilidade positiva de 20 pontos base no mês, ainda que a nota positiva é que o conjunto de fundos de crédito acabou 2016 em terreno positivo. A estratégia de maior rentabilidade foi o crédito emergente, com uma rentabilidade de 22,5%.

Depois do inesperado rally pós-Trump, os mercados de ações abrandaram o ritmo na fase final do ano, um período que tradicionalmente foi caracterizado por um menor volume e uma volatilidade inferior. “Logicamente, os gestores de ações long/short têm sido menos ativos e têm mantido as suas exposições relativamente estáveis”, explica a equipa composta por Ferreira, Asseraf-Bitton e Chaulot. Estes acrescentam que “os gestores centrados em ações europeias geraram alfa através das suas posições longas graças ao bom tom dos mercados”. As alocações mais rentáveis foram as realizadas nos sectores do consumo, saúde e tecnologia.