Desde fevereiro, a agitação do mercado tem-se refletido nos níveis de volatilidade. Stephane Eckhardt, investment specialist da Amundi, falou à Funds People sobre as estratégias da casa que beneficiam da volatilidade do mercado.
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Os últimos anos têm ficado marcados por um ambiente relativamente calmo em termos de volatilidade nos mercados, mantendo-se esta contida face aos riscos que foram sendo apontados ao longo deste período. Ainda assim, o mês de fevereiro trouxe consigo um aumento da volatilidade, espelhado no comportamento do VIX. Por outro lado, a volatilidade pode ser muito mais do que o reflexo da agitação do mercado, nomeadamente ocupando um papel relevante como investimento e parte integrante de uma carteira, dada a sua correlação negativa com o segmento acionista.
Para Stephane Eckhardt, investment specialist da Amundi, o movimento ascendente registado por parte do VIX foi, de certa forma, amplificada pelos ETNs. “Estes produtos – ETNs que adotaram posições curtas sobre o índice VIX – beneficiaram enquanto a volatilidade permanecia baixa. O objetivo era capturar o risk premium inserido na volatilidade implícita. Através da venda de volatilidade implícita, fizeram com que estas caísse ainda mais. Assim, o declínio da volatilidade resultou, de certa forma, desta dinâmica e não foi uma consequência exclusiva das expectativas do mercado”, explica o especialista.
Ainda assim, este considera que esta correção dos inícios de fevereiro não foi apenas resultado de um aumento dos riscos do mercado, mas também daquilo a que apelida de “short squeeze”. E explica-o de forma bastante sucinta: “Quando se “shorta” um ativo, aposta-se na descida do seu valor. No entanto, se subir, é necessário reduzir esse posicionamento de forma rápida. No caso da subida do VIX, para cortar essa posição é necessário comprá-lo, pelo que quanto mais compradores existirem mais o preço sobe. E foi isso que levou a um aumento do VIX, que acabou, de certa forma, por não ser reflexo de uma efetiva aversão ao risco”.
Não obstante, argumenta que os níveis de volatilidade verificados ao longo do último ano não refletiram de forma adequada os riscos existentes no mercado. Foram resultado do impacto dos factores já referidos, mas também da complacência por parte do mercado, bem como da baixa correlação entre os constituintes do índice. "De facto, o índice de volatilidade é uma função da volatilidade de uma ação individual e da correlação entre os constituintes do índice. Por exemplo: se existirem duas ações num portefólio, se uma subiu 5% enquanto a outra desceu 5%, isto significa que cada ação será volátil mas o portefólio no seu conjunto não terá alterações", explica numa primeira instância, acrescentando que "desde a eleição de Trump, temos vindo a registar uma série de rotações de sector, ou seja, existiu uma grande dispersão entre a performance dos sectores e de ações individuais, que se compensaram uns aos outros, contribuindo, assim, para a baixa volatilidade do índice".
Beneficiar do aumento da volatilidade através de um posicionamento contrarian
Este aumento da volatilidade mais recente acabou por beneficiar a estratégia da gestora francesa, uma vez que apresenta um foco direcional: “A ideia é comprar volatilidade e, se a volatilidade subir, nós acompanhamos essa subida também”, revela o especialista. Esta é uma estratégia que engloba dois produtos, ambos com o mesmo processo de investimento – o Amundi Funds Absolute Volatility Euro Equities, que investe exclusivamente na volatilidade implícita de 1 ano do Euro Stoxx 50, e o Amundi Funds Absolute Volatility World Equities, focado na volatilidade implícita de 1 ano do num cabaz composto pelo S&P 500 (50%), Euro Stoxx (30%) e pelo Nikkei 225 (20%).
O investimento em volatilidade é feito em exclusivo através de derivados cotados devido à necessidade de liquidez. Este aspecto está também relacionado com a escolha dos índices referidos, uma vez que, “em períodos de stress dos mercados, o mercado de opções destes índices, ao contrário de outras classes de ativos, não sofre de problemas de liquidez porque os investidores procuram proteção e compram put options”, ressalva o especialista.
Desempenho “previsível” e em linha com o processo
Quanto ao processo de investimento, Stephane Eckhardt considera que este é semi-sistemático, sendo utilizada uma das principais características da volatilidade: o facto desta, no longo-prazo, demonstrar um padrão de reversão à média. Assim, comprar barato e vender caro é o principal objetivo desta estratégia, pretendendo capturar tendências de médio prazo e beneficiar, através de negociação ativa, das flutuações em torno da tendência de médio prazo da volatilidade.
Como tal, pretendem aproveitar ao máximo essas pequenas flutuações, negociando diariamente. “Temos um posicionamento contrarian ao mercado, ou seja, quando a volatilidade sobe, nós vendemos uma parte desta, reduzindo a nossa exposição e, desta forma, recebendo algum lucro”, revela o especialista. Por outro lado, acrescenta que "na maior parte das vezes, os investidores beneficiam da correlação negativa da volatilidade com os mercados de ações, uma vez que temos uma inclinação longa para a volatilidade. Quando a volatilidade está bastante alta, podemos adotar uma posição curta para que possamos beneficiar da normalização".
Outra das características desta estratégia é a sua grande previsibilidade: “O seu desempenho será em linha com aquilo que é suposto e tendo em conta o cenário imaginado. O ano passado foi negativo para esta estratégia, mas correu de acordo com o esperado neste ambiente de mercado e em linha com o nosso processo”, detalha. O gráfico abaixo exemplifica o processo de investimento.
“Dependendo do nível em que a volatilidade implícita se encontra, este painel revela o posicionamento necessário. O Vega traduz a exposição à volatilidade, pelo que se este for de 2 e a volatilidade aumentar 3 pp significa que a performance do fundo será de 6%”, explica Stephane Eckhardt. Este Vega pode, ainda, ser ajustado recorrendo ao chamado Leeway, que permite ajustar a exposição até +/-1 Vega Point. O especialista destaca que esta é uma ferramenta bastante importante, uma vez que através do ajuste do Vega é possível recolher lucros de forma mais frequente e ajustar o posicionamento de acordo com o ambiente de mercado prevalecente.
Atualmente, tendo em conta que a volatilidade se encontra numa fase mais contida, o posicionamento da gestora passa por assumir posições longas em ambos os produtos. No caso do fundo focado no mercado europeu, o Vega está próximo dos 2,1, enquanto no fundo focado no mercado global esse valor é de 2,1.“Este posicionamento tem como intuito podermos reagir melhor no caso de existir uma queda nos mercados, uma vez que neste contexto a volatilidade sobe e conseguimos capturar essa subida através de uma posição longa e com uma exposição Vega relativamente elevada”, afirma Setphane Eckhardt.
Volatilidade em regime médio-baixo
Nos próximos meses não será expectável uma grande mudança no contexto de volatilidade, mantendo-se o regime médio-baixo. Esta é a visão do especialista, que considera que o facto de existir uma maior percepção dos riscos inflacionistas de possíveis subidas das taxas por parte dos Bancos Centrais levam a que possa existir maior volatilidade nos mercados. “O nosso cenário mantém-se positivo para o segmento acionista, mas com um maior número de picos de volatilidade devido, precisamente, a esses receios”, prevê Stephane Eckhardt.