2023: O ano das oportunidades em obrigações

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Créditos: Tarryn Myburgh (Unsplash)

É certo que seria difícil encontrar algum gestor que citasse algum ano como tendo sido fácil nos mercados, mas hoje, com os números na mão, podemos confirmar que 2022 foi um dos anos mais duros da história para o investidor em obrigações. Não faltam exemplos, mas para citar apenas um deles, no gráfico seguinte podemos ver os retornos a seis meses do Tesouro norte-americano desde 1973 para nos dar uma ideia de como o início do ano tem sido especialmente difícil.

Mikko Ripatti

Por que é que 2022 foi tão doloroso? Mike Gitlin, responsável de Obrigações na Capital Group, cita três elementos-chave: um ponto de partida ultra-baixo nas yields, a magnitude dos aumentos das yields e a velocidade a que isto aconteceu. Se tivéssemos uma carteira com uma duração de sete anos, por exemplo, a matemática básica dita que um aumento de 250 pontos base nas yields significa perdas de cerca de 15%.

Assim, Gitlin considera 2022 o ano do desinvestimento e das perdas para os fundos de obrigações. Mas prefere olhar para o futuro. Na sua opinião, 2023 será o ano do reinvestimento e das oportunidades. “Uma análise retrospetiva ao nível inicial mostra que investir quando o índice Barclays Global Aggregate está a render cerca de 3,7% e o high yield cerca de 10%, como acontece atualmente, traduziu-se em bons resultados nos anos seguintes”, argumenta.

O especialista não espera uma recuperação rápida, como a que se viveu em 2020, mas arrisca-se a prever que as coisas irão melhorar gradualmente durante os próximos seis a 12 meses. “Estamos a sair de um período dos últimos dois anos em que até 40% do Global Aggregate Index teve uma yield negativa”, recorda.

Oportunidades em obrigações

E o tom otimista de Gitlin vai, pouco a pouco, convertendo-se em consenso. “A queda tem sido tão grave que muitas obrigações e crédito, de mercados desenvolvidos e emergentes, estão a começar a mostrar valor. Efetivamente, as yields to maturity estão a compensar cada vez mais os investidores pela volatilidade”, argumenta também Jon Mawby, CFA, diretor de Dívida Empresarial Investment Grade da Pictet AM.

Para ser mais específico, Mawby opina que estão a começar a surgir oportunidades atrativas, sobretudo em dívida corporativa, onde os spreads aumentaram significativamente. Mesmo a dívida convertível contingente, no extremo de mais risco do mercado de dívida corporativa, parece-lhe atrativa, com yields to maturity de até dois dígitos e preços relativamente baixos. “Com o tempo, este tipo de oportunidades é capaz de proporcionar aos investidores retornos anualizados atrativos”, defende o especialista. De facto, ao contrário de há um ano, quando os investidores obtinham rentabilidade de obrigações com risco de ações, podem agora obter riscos típicos das obrigações com as habituais expectativas de retorno das ações.