Neste mês de maio, a CMVM aprovou a distribuição do primeiro fundo com exposição a criptomoedas, gerido pela 3 Comma Capital, especialistas em investimentos alternativos. À FundsPeople, Nuno Serafim, da entidade, explica-nos a estratégia.
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A 3 Comma Capital é originalmente uma sociedade de capital de risco, focada em investimentos early stage, nomeadamente em projetos baseados em Distributed Ledger Technology (DLT), Web3 e ativos digitais. Apresentam-se como especialistas em investimentos alternativos, com foco em ativos digitais. Recentemente, a gestora lançou no mercado nacional o primeiro fundo de investimento alternativo com exposição a criptoativos registado na CMVM e domiciliado em Portugal, o 3CC Global Crypto Fund.
Este novo fundo, pioneiro a nível nacional, usou como seed money a própria 3CC e os seus sócios. “Na 3CC só oferecemos produtos em que a sociedade, os gestores e os colaboradores investem”, diz Nuno Serafim, managing partner da gestora, e acrescenta: “Acreditamos no nosso processo e todos temos skin in the game, e, na maioria dos casos, não é só skin, são órgãos vitais”.
O 3CC Global Crypto Fund pretende, “de forma simples e transparente”, proporcionar acesso a este novo prémio de risco, “como se de qualquer fundo de ações ou obrigações com liquidez diária se tratasse”. Oferece exposição aos ativos mais representativos desta nova classe, consoante a sua capitalização e, apesar do risco inegavelmente elevado, Nuno Serafim assegura serem projetos consolidados, que não irão desaparecer. Afirma também que “a convicção da 3CC é de que os criptoativos irão continuarão a oferecer retornos incomparavelmente superiores a qualquer outra classe de ativos à medida que aumente a taxa de adoção da tecnologia e que isso se reflita na alocação dos investidores”.
A cargo da Gemini Digital, entidade com licença para operar na Europa, ficou a custódia dos ativos digitais e prime broker do fundo, enquanto o Bison Bank é o custodiante de qualquer moeda fiat. Os criptoativos são guardados em cold storage, com disponibilidade imediata, com exceção aos ativos em staking.
Portugal, um hub de ativos digitais
Perante a eventual estranheza que possa existir sobre o porquê de um fundo desta natureza estar domiciliado em Portugal, Nuno Serafim não tem dúvidas na resposta. “Dificilmente se percebe porque é que um grande fundo de ações ou hedge fund é gerido em Portugal, ou por um gestor português, mas penso que o mercado percebe facilmente porque é que um especialista em criptoativos possa estar em Portugal. Lisboa é hoje um ecossistema interessante de inovação e um hub de Web3. Praticamente todos os protocolos de referência na Web3 têm equipas em Portugal”, diz Nuno Serafim. Para além desta atratividade, o profissional soma à conversa outro fator que foi de sucesso no processo: o regulador. Nuno Serafim detalha que a CMVM sempre apresentou uma “posição construtiva no processo de aprovação” e que é sua convicção "a sofisticação, ou falta dela, do mercado português, não está relacionada com o regulador, mas com temas estruturais de falta de capital, excessiva bancarização, falta de cultura de risco e literacia financeira”.
Gerar Alpha
O CF Ultra Cap 5 (Eur), índice composto pelos cinco maiores criptoativos (i.e. Bitcoin, Ethereum, Solana, Ripple, Cardano), é utilizado como benchmark, e a gestora propõe-se a gerir o fundo ativamente contra este, com um risco ativo máximo de 35%, incluindo 10% off benchmark. De forma a gerar alpha, para além de uma alocação dinâmica, a 3CC procurará obter rendimento passivo associado à validação das networks a que cada um dos tokens está associado. O managing partner da 3CC refere que, por exemplo, em Ethereum e Solana se está a falar de um “retorno anualizado em cima do inventário de 3% e 7%, respetivamente”. “De momento, a active share é de 13%, com sub-alocação a Bitcoin, Ripple e Cardano, e por contrapartida, sobrealocado a Ethereum, principalmente, e de forma mais residual, Solana”, acrescenta.
Segundo comenta a gestora, a Bitcoin, o primeiro criptoativo a chegar ao mercado traz como proposta de valor uma reserva de valor, dada a sua “política monetária conhecida e imutável, o que a torna um scarce asset, ao contrário das moedas designadas por fiat, que estão sujeitas a debasement em virtude dos modelos das principais economias estarem suportadas na expansão persistente da oferta monetária”. Já os outros projetos, têm cada um a sua proposta de valor, como por exemplo a Ethereum, que, é descrevida como “o driver da taxa de adoção da tecnologia blockchain”.
Nuno Serafim não espera um turnover significativo da carteira, já que as convicções da equipa são sobretudo a longo prazo. De momento, também não acreditam que faça sentido ter alocação off-benchmark, e só colocam essa hipótese caso faltem oportunidades no universo do CF Ultra Cap 5, ou grande convicção num específico criptoativo.
Distribuição direta a clientes profissionais e mais três fundos
Numa primeira fase, segundo dizem da entidade, a distribuição do Global Crypto Fund será direta, para clientes profissionais, high net-worth, family offices e gestores de ativos. É um fundo com liquidez diária, com duas classes que diferem na comissão de gestão, dependente do montante investido. No entanto, a 3CC não quer ficar por aí, e já planeia lançar mais três fundos este ano. Dois OIA, com liquidez diária, sendo um deles um PPR, e um OIA/FCR, focado em projetos early stage de Web3.
A equipa acredita que após o último bear market, ao longo de 2022, durante o qual a classe perdeu credibilidade a nível mediático, houve uma expurgação dos bad actors e dos projetos de menor mérito. Assim, como comentam à FundsPeople, ao longo de 2023, foi possível reforçar as bases da classe e consolidar a ideia de que a tecnologia blockchain é robusta, aumentando assim o apetite e a confiança institucional, que teve como ponto alto o lançamento dos ETF sobre Bitcoin.