Numa discussão promovida pela Sycomore (Generali Investments), quatro profissionais do mercado nacional de gestão de ativos juntaram-se para discutir um segmento muito particular da sustentabilidade nos investimentos: a transição energética e as oportunidades e desafios que esta impõe. Diferentes casas, diferentes abordagens, mas uma conclusão comum que começa a ser já recorrente: a adequada implementação do investimento em sustentabilidade, com critérios ESG ou, mais especificamente na transição energética, assenta na qualidade e quantidade dos dados.
A adequada implementação do investimento na transição energética assenta na qualidade e quantidade dos dados
Para a profissional, a transição energética é uma tendência de longo prazo e, portanto, uma oportunidade de investimento também de longo prazo. Segundo conta, a subsidiária Sycomore tem a transição energética muito bem estudada e um expertise muito bem consolidado. “A Sycomore materializa o investimento na transição energética através de seis ou sete subtemáticas”, sendo que as três grandes temáticas que sobressaem neste tópico são a eletrificação, energia solar e economia circular. “Depois de identificadas, os esforços da Sycomore centram-se em medir o impacto em cada modelo de negócio de cada uma das subtemáticas. Perceberam que para medir o impacto da transição energética, a pegada de carbono, apenas, não é suficiente”, conta.
Foi por isso que, segundo Almudena Mendaza, criaram, em conjunto com outras gestoras de ativos e entidades especializadas uma medida específica, que se concretiza numa ferramenta que disponibilizam ao público e que permite guiar o investimento e a atividade sustentável: a NEC Initiative. “A métrica NEC foi criada em resposta à ausência de uma métrica holística que permitisse aos agentes económicos avaliar o impacto ambiental total de um produto, serviço ou empresa. Uma vez que o clima, a biodiversidade e os recursos estão interligados, têm de ser considerados em conjunto. Limitadas pelas métricas existentes que apenas mediam o carbono, as empresas e os investidores necessitavam de uma alternativa”, conta.
1/4Para Sofia Jesus, “a transição energética e climática é um tema muito vasto e com muitos subtemas que permitem obter exposição a diferentes oportunidades no mercado. A forma como preferimos aferir a sua relevância é, basicamente, olhando para a materialidade financeira do tópico. Estamos conscientes que o clima traz riscos e oportunidades para as empresas, que têm um impacto financeiro material nas mesmas. Isso pode materializar-se em subidas de custos ou em receitas adicionais, mas também na capacidade que as empresas têm de aceder a capital para se financiar”, explica.
E para a profissional não podemos falar do tópico sem mencionar a Taxonomia da União Europeia, que define as atividades que são sustentáveis em termos ambientais. “Os objetivos definidos abrangem grandes temas como a mitigação e adaptação às alterações climáticas, recursos hídricos, biodiversidade e ecossistemas, economia circular e poluição. Partindo dos objetivos, os temas que consideramos mais relevantes, e materializamos nos nossos fundos de impacto climático, são os relacionados com energias alternativas, eficiência energética e circularidade dos recursos”, diz. Contudo, algo que para Sofia Jesus é central neste contexto, é a capacidade de medir e acompanhar o impacto. “Apenas podemos pôr em prática o investimento na transição energética com acesso a dados e a capacidade para medir e acompanhar Key Performance Indicators”, termina.
2/4O profissional levanta também a questão do acesso a dados e a sua qualidade. “O subtema da água, por exemplo, é um tema em que é muito difícil produzir dados. Em geral, não creio que os dados a que temos acesso permitam avaliar corretamente onde vamos encontrar as grandes oportunidades na transição energética”, diz.
Paulo Pacheco olha para o tema da transição energética nas carteiras que gere da mesma maneira que olha para qualquer outro investimento, com o foco no perfil de risco e retorno. “Não vejo que seja um tema que configure uma vantagem particularmente interessante em termos de investimento. Vejo muitas entidades gestoras e investidores a olhar para a transição energética, e vejo também que há muitas oportunidades, mas com o elevado volume de dinheiro a fluir para empresas e projetos que capitalizam o tema, não só na União Europeia como nos Estados Unidos, o perfil de risco e retorno perde algum interesse como resultados das elevadas valuations”, explica.
3/4“Os efeitos de longo prazo do ESG nas carteiras estão ser medidos”, comenta também João Pina Gomes. Para o profissional, que integra uma instituição que pretende estar na vanguarda da sustentabilidade e ESG em Portugal e Espanha, a transição energética e a sustentabilidade, em geral, são inescapáveis nos processos de construção e gestão de carteiras. Acredita que “a forma clássica de construir carteiras, faz absoluto sentido, com a fronteira eficiente e outras teorias financeiras, mas, cada vez mais, estamos a obter e continuaremos a obter evidências de que a sustentabilidade nas carteiras terá um impacto de longo prazo”, conta.
Para o profissional, há muitos subtemas que podem ser e são canalizados nas carteiras de investimentos. “Energias renováveis, eficiência energética, agricultura sustentável, gestão da água, transporte sustentável…. há muitos subtemas dentro do E de ESG que, acredito, terão um efeito positivo a médio e longo prazo nas carteiras, em termos de risco e retorno. E com o desenvolvimento da tecnologia, acredito que cada vez mais vamos nessa direção e o efeito desse conjunto de práticas nas carteiras globais aumentará", termina.
4/4