A inflação e um novo taper tantrum são os principais riscos para os gestores

fundos de ações

No aniversário da sua passagem a pandemia, a COVID-19 deixa de ser o grande risco para os mercados. Segundo o Fund Manager Survey do BofA de março, a inflação e um novo taper tantrum destronaram o vírus como principal risco atual. Volta pela primeira vez desde fevereiro de 2020 como a grande preocupação do mercado.

Mas isto é uma consequência de que o sentimento investidor é inequivocamente bullish. Um em cada dois gestores inquiridos afirma que a recuperação económica terá forma de V. Mês após mês desde maio essa convicção por um claro crescimento foi aumentando. Em maio só 10% era dessa opinião. Mas, agora, um número recorde de investidores espera uma economia mais forte: 91%. É a melhor previsão económica dos últimos 25 anos.

Mais sinais bullish. As previsões de melhoria dos lucros empresariais também são históricas. 89% espera que os lucros globais vão crescer nos próximos 12 meses. Um consenso mais claro ainda que em fevereiro de 2002 ou dezembro de 2009. Os dois picos otimistas do passado.

E isto está a influenciar o posicionamento das carteiras. Os gestores estão a ajustar-se e a virar-se para os cíclicos. E é uma rotação completa. Vejamos como mudaram as carteiras apenas nos últimos 12 meses. Agora há uma grande sobreponderação (em comparação com o histórico) pelos setores cíclicos. Destaca essa viragem para as matérias-primas, indústrias, banca e consumo discricionário. Aposta-se nos ativos de risco como as ações e os mercados emergentes. Em contraste, há um ano, o forte movimento dirigia-se para a liquidez e obrigações e setores como a saúde, consumo básico e tecnologia.

Curiosamente, o otimismo interpreta-se como justificado. A maioria afirma que estamos numa fase tardia de um mercado bullish. Só 15% diria que estamos numa bolha. Nem sequer os hedge funds, que continuam a subir a sua exposição líquida a ações. Já está no seu pico mais alto desde junho de 2020.

Momento crítico nas carteiras das obrigações

É precisamente essa recuperação em V na economia e nas empresas que convida a pensar que veremos uma subida de taxas de juro. E uma subida mais cedo do que mais tarde. A maioria calcula que a Fed vai subir as taxas em fevereiro de 2023. Outra parte importante considera que será na segunda metade de 2022. Um em cada dois gestores espera taxas a curto prazo mais altas. É o que está a provocar a queda na inclinação da curva.

Tudo se deve ao facto de haver um claro consenso de que haverá mais inflação. 93% dos investidores vê preços mais elevados nos 12 meses seguintes. De novo, um máximo histórico nas expectativas. E pela primeira vez em cinco anos o consenso vê mais crescimento e mais inflação. A tendência até agora tinha sido de crescimento, mas sem subida de preços.

E isso leva o mercado de obrigações a um momento crítico. Com as yields da dívida em níveis tão baixos, qualquer movimento brusco pode causar uma correção. Ninguém acredita que o Tesouro americano a 10 anos a 1,75% tenha um impacto negativo. Mas se subir apenas 25 pontos base… 43% dos gestores acredita que bastaria ver o Tesouro americano a 2% para se desenvolver uma correção de 10% nas bolsas. Mas como comentamos, estamos num ponto crítico. 2% começará uma correção. Mas se subisse já para 2,5%, seria uma oportunidade de compra para as obrigações.