A internacionalização do coronavírus ativa o modo risk off dos investidores: reações das gestoras

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Durante o fim de semana surgiu o alerta: os casos de coronavírus crescem além da fronteira chinesa, com Itália, Coreia do Sul e Irão como grandes protagonistas. Em concreto, em Itália já há mais de 323 infetados e 11 vítimas mortais, enquanto na Coreia do Sul há mais de 977 casos e 10 mortos e no Irão foram identificados 43 casos e 16 mortes.

As consequências da internacionalização de um vírus que até agora tinha ficado mais ou menos contido ao território chinês fez-se sentir nos mercados de valores de uma forma mais forte. Os principais índices europeus iniciaram a semana com quedas superiores a 3%, os americanos fizeram o mesmo com retrocessos próximos de 3%, ao mesmo tempo que os investidores voltaram a recorrer aos clássicos ativos refúgio como salva-vidas das suas carteiras. Por isso, o ouro ultrapassou o nível dos 1.600 dólares e a rentabilidade do bund voltou a retroceder para níveis de -0,50%, por exemplo.

Mas, o que está por detrás deste medo renovado dos investidores? Segundo explica Gilles Moëc, economista chefe da AXA IM, “até agora, o impacto económico da epidemia do COVID-19 foi um choque no fornecimento de produtos, mas o aparecimento de um foco de contágio espontâneo em Itália muda a dimensão do problema”, enquanto destaca que as zonas que foram afetadas pelo vírus, Lombardía, Véneto e Emilia Romagna, são cruciais em termos de produção já que representam por si só 40% do PIB de Itália e 6% do PIB total da zona euro”.

Se há uma razão que explica porque é que os mercados tinham estado mais ou menos tranquilos quando se começou a conhecer a existência do coronavírus na China essa era a confiança que demonstravam em que o impacto económico na China fosse só a curto prazo e que, no caso de se prolongar, que o Banco Central da China resgatasse em forma de novos estímulos que minimizarão o impacto no PIB da China e no PIB mundial.

Mas essa hipótese na zona euro não funciona de todo. “Até antes de estalar a crise em Itália, estávamos convencidos de que o BCE já tinha começado a comprometer-se com a preparação de planos de emergência. O facto de Luis de Guindos ter decidido concluir o seu último discurso a realçar que o BCE está preparado para atuar sempre que for necessário, independentemente da revisão estratégica, torna-se interessante”, afirma o economista chefe da AXA IM. Claro que estas ferramentas seriam muito mais limitadas do que no caso da China e, por sua vez, só no pior dos casos, vão implicar mais compra de dívida pública se os spreads dispararem.

Além disso, segundo recorda Philipp Waetcher, diretor de investigação económica da Ostrum AM (Natixis IM) “a epidemia atual começou a gerar um choque de oferta que a política monetária não poderá gerir”. Ao mesmo tempo, sublinha que “a zona euro não é vista como uma economia bastante imunizada, ao contrário do que acontece nos EUA” que têm a seu favor a força do dólar e também uma maior capacidade da Fed para enfrentar uma queda da sua economia dada a sua maior autonomia.

 A volatilidade manter-se-á a curto prazo

Neste contexto, Frank Häusler, estratega chefe da Vontobel Asset Management, recomenda aos investidores manter um posicionamento neutro ao risco nas suas carteiras enquanto esperam para ver como se desenvolvem os acontecimentos, ainda que defenda que acredita “que vão surgir oportunidades de compra nos mercados desenvolvidos e nos emergentes tão depressa quanto o impacto do vírus for contido mais claramente e o dano económico se tenha manifestado nos dados económicos da China e dos mercados desenvolvidos. Até lá, defende que é previsível que os rendimentos das obrigações soberanas continuem a cair, sobretudo nos EUA.

Uma visão com a qual concorda Adrien Pichoud, economista chefe da SYZ Asset Management, que considera que não há melhor ativo para proteger uma carteira dos que obrigações dos EUA. “Acreditamos que as obrigações do Tesouro dos EUA continuarão a ser o refúgio preferido dos investidores, em primeiro lugar, pelas suas características únicas de liquidez, moeda de reserva, etc., mas também pelo potencial de diminuição das taxas e, portanto, de apreciação dos preços, que oferecem no caso de uma deterioração da economia mundial ou do sentimento de mercado”.