Numa noite de celebração da cultura escocesa proporcionada pela Aberdeen Standard Investments em Lisboa, o tema central foi a dívida corporativa de mercados emergentes e as suas qualidades.
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Numa noite de celebração da cultura escocesa, proporcionada pela Aberdeen Standard Investments em Lisboa, em que as palavras e gostos do famoso poeta britânico Robert Burns foram centrais, Henrique Morato, um português, parte da equipa de mercados emergentes na entidade gestora, dissipou alguns preconceitos e argumentou a favor do investimento numa classe de ativos que frequentemente é mal compreendida, a dívida corporativa emergente em hard currency (USD). Num contexto em que, na visão da casa, o ambiente económico é positivo globalmente, Henrique Morato vê também os mercados emergentes numa fase de recuperação. “Quando pensamos em mercados emergentes e nos lembramos de países como o Brasil ou a Rússia, em que as moedas desvalorizaram rapidamente e os bancos centrais se viram obrigados a subir taxas para combater a inflação, vemos que no momento atual acontece o oposto. A inflação tem vindo a descer, os bancos centrais estão a cortar taxas... e isso é positivo para as obrigações em geral, mas especialmente para obrigacoes denominadas em moeda local”. Contudo, o profissional não deixa de realçar que, obviamente, estes mercados não estão isentos de riscos, “mas é por essa razão que proporcionam o acesso a um prémio interessante”.
Mas porque é o segmento corporate do mercado de dívida emergente em moeda forte tão interessante? “Falamos da parte mais defensiva do mercado de divida emergente e aquela que proporciona os melhores retornos ajustados ao risco. Além disso, falamos de um segmento que se tornou demasiado grande para ser ignorado, maior que o high yield europeu e norte-americano, ou mesmo que a dívida soberana de mercados emergentes. É um mercado muito grande e com o tamanho vem a liquidez, que tem melhorado significativamente ao longo dos anos”, enuncia o especialista. No entanto, um dos principais argumentos a favor do segmento de mercado é o facto de ser um “segmento maioritariamente investment grade”. “É comum associar-se empresas de mercados emergentescom risco de crédito elevado, mas isso resulta maioritariamente dos países onde estas operam, onde os riscos políticos e das instituições são elevados. Mas quando olhamos para os balanços, vemos métricas de qualidade de crédito muito interessantes e uma capacidade de reembolso e pagamento muito sólida”, explica. Henrique Morato destaca assim a grande quantidade de empresas cujo rating de crédito está limitado pelo rating soberano, mas cujas qualidades de crédito justificariam um rating mais elevado em geografias mais desenvolvidas.
Mas os argumentos a favor não ficam por aqui: “Falamos de uma classe de ativos com uma menor duration, especialmente quando comparamos com as obrigações soberanas e outras classes de crédito. Além disso, quando vimos as commodities a colapsarem em 2015, as obrigações corporativas emergentes apresentaram uma melhor performance do que o high yield europeu, por exemplo. É interessante observar que o segmento corporate Oil & Gas emergentes recuou apenas 3,14% enquanto o high yield americano no segmento recuou mais de 20%”, comenta o especialista.
Risco cambial
Para Henrique Morato o risco cambial é mais um dos riscos que são mal compreendidos pelos mercado na dívida emergente em hard currency. “Se desconstruirmos o benchmark e olharmos para a real exposição ao risco cambial vemos que é um risco muito menos preponderante do que é assumido. Por um lado, temos as empresas financeiras cuja exposição cambial em balanço é altamente regulada. Por outro, uma grande parte do mercado é composta por empresas no segmento de matérias primas, cujas receitas são principalmente em dólares, pelo que faz sentido que tenham dívida em dólares no balanço. Por fim, se olharmos para o resto do benchmark vemos que inclui economias da América Central e do Médio Oriente que têm moedas ligadas – ou ‘pegged’ - ao dólar americano. Se acreditarmos que o ‘peg’ é forte, e a verdade é que foi bem testado durante o colapso dos preços do petróleo, então o risco cambial não é assim tão arriscado. Sobra então um terço do mercado exposto ao risco cambial. Um terço que tem a opção de proteger os balanços com swaps cambiais, e o nosso trabalho como investidores é garantir que investimos em empresas que protegem ativamente os balanços”, explica.
Em suma, Henrique Morato vê na classe de ativos, fortes fundamentais e elevada qualidade, o que se tem refletido nos retornos, ao mesmo tempo que considera que “há ainda muito espaço para novos investidores entrarem no segmento e portanto, espaço para os spreads comprimirem ainda mais”. Os exemplos dados são vários e sempre resultado de um trabalho bottom-up minucioso. Desde a Cablevisión, empresa de televisão e media da Argentina cuja dívida se manteve incólume mesmo depois do default argentino, à Central America Bottling Company, cujo negócio defensivo proporciona um bom perfil de rentabilidade e risco, em termos relativos, as oportunidades de investimento são diversas para um investidor experiente como a AberdeenStandard.