Ambos os banqueiros centrais optaram por manter as taxas de juro inalteradas, mas o Banco do Japão voltou a inovar.
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A Reserva Federal dos Estados Unidos optou pela prudência e por não variar as taxas de juro nos Estados unidos, que se mantêm em 0,5%, apesar de três membros do Federal Open Market Comittee (FOMC), terem votado pelo incremento do custo do dinheiro. Cumprem-se assim as expectativas dos investidores, que auguravam que a autoridade monetária não mudaria as taxas de juro em setembro. As possibilidades de que a Fed suba as taxas de juro em dezembro aumentaram significativamente, depois do banco central avisar sobre a aplicação de um incremento eminente (ler comunicado).
“Era praticamente uma aposta segura que hoje não iria acontecer uma subida de taxas. O compromisso desta reunião era na realidade trazer o cenário para uma subida em dezembro. O facto de três votantes terem discordado é interessante e é bastante claro ao nível do mapa de pontos que a Fed planeia subir taxas em dezembro se a situação”, assegura Luke Bartholomew gestor da Aberdeen. Para o especialista, uma subida de taxas em dezembro não é de forma nenhuma inevitável. “Já estivemos numa situação em que a Fed carregou as suas munições apenas para disparar no último minuto. Entre este momento e dezembro situam-se as eleições presidenciais nos Estados Unidos. Isto poderá gerar muita volatilidade no mercado e dissuadir Fed. A simples expectativa de uma subida de taxas em dezembro poderá ser suficiente pra desencadear vendas no mercado que levam a Fed a congelar os seus planos num ciclo vicioso”.
O que a Fed não abordou foram as principais questões que enfrenta a autoridade monetária. “Os legisladores estão pouco a pouco a aperceber-se que a estrutura da economia está a mudar e isto significa que as denominadas políticas não convencionais dos últimos anos vão converter-se numa parte muito importante dentro das ferramentas standard à disposição dos bancos no futuro. Isto tem implicações muito mais importantes do que o momento exato em que se produza a próxima subida de taxas já que supõe que o Banco de Japão e a Fed terão que encontrar maneiras mais imaginativas para tentar estimular a economia”, afirma.
E no país do sol nascente?
Mas o Banco do Japão tem vindo, de facto, a inovar. Por um lado, Kuroda manteve intacto o ritmo anual ao qual aumenta a sua base monetária, mas por outro, modificará a composição do seu programa de compra de ativos para evitar uma queda das taxas de juro no longo prazo. Esta mudança tem como objetivo manter a yield da obrigação de dívida nipónica a 10 anos em torno dos 0%, segundo explicou a autoridade monetária do país, que considera que os país já não está em deflação. A resposta inicial do mercado foi uma depreciação do Yen, uma subida da bolsa japonesa e um incremento das rentabilidades da dívida pública nipónica. “Existia o risco de que, ao não reduzir as taxas, o mercado interpretasse a decisão adotada como pouco acomodatícia, o que impulsionaria uma importante revalorização do yen e um endurecimento das condições financeiras”, explicam da Schroders. No entanto, em termos da sua repercussão económica, na gestora são céticos relativamente à capacidade de que esta decisão marque uma diferença considerável.
“Acolhemos de bom grado o compromisso firme, mas para que funcione, os investidores devem acreditar realmente que o Banco do Japão é capaz de fazer subir a inflação, algo em que tem fracassado. Isto não significa que vá fracassar no futuro, mas somente que deverá intervir mais e que esperaríamos um novo corte de taxas de juro na próxima reunião de 1 de novembro”, afirma. Segundo Mitul Patel, responsável de taxas de juro da Henderson, as decisões adotadas refletem que, atualmente, a instituição acredita ter à sua disposição três âmbitos de atuação: as taxas de juro a um dia, o tamanho do seu balanço e as yields da dívida pública a 10 anos. “Na prática, visto que o Banco do japão não pode influir nas três variáveis, podem ser realizadas concessões. Se, por exemplo, as yields das obrigações a 10 anos permanecerem estáveis perante uma redução considerável das compras de dívida pública nipónica, poderá ser mais complicado atingir os objetivos de ampliação do seu balanço”.
Na sua opinião, o banco central deixou passar a oportunidade de baixar de novo as suas taxas para terreno mais negativo neste reunião, mas podem voltar a por esta alternativa em cima da mesa no futuro. “É complicado ver o anúncio realizado pelo Banco do Japão como algo mais do que um mero ajuste ao programa em curso e, sem pôr em marcha algum elemento radicalmente novo, ou atrevido, o objetivo de inflação de 2% continua a ser mais uma meta que uma probabilidade”, indica. A decisão de não acrescentar estímulos adicionais surpreendeu algumas pessoas. Praticamente não havia consenso sobre o que se ia determinar na reunião e, no entanto, de alguma forma o resultado surpreendeu. Para James Athey, gestor da Aberdeen, esta confusão nos mercados faz sentido.
“O Banco do Japão reafirmou o seu objetivo de inflação e tentará superá-lo apesar de não ter conseguido alcançar o seu objetivo a esse nível. Para além disso também não anunciaram nada que possa ajudar a conseguir esse objetivo ou superá-lo no curto prazo. O Banco deu a entender aos mercados que têm uma escala de cor, e neste momento os mercados estão a perguntar-se qual é a pocker face do Kuroda”, diz. De qualquer das formas o anunciado não foi surpresa. Takashi Maruyama, diretor de investimentos da Fidelity, acredita que a iniciativa melhorará a sustentabilidade da política monetária. “As novas medidas acabarão por ser mais efetivas”, diz.
Da entidade explicam que a decisão do Banco do Japão de manter sem mudanças as taxas de juro a curto prazo e elevar a curva das taxas de juro é o facto sem dúvida positivo para o sector financeiro, como os bancos e as seguradoras. “A iniciativa do Banco do Japão tem um efeito cumulativo que é positivo. A decisão de elevar a curva de taxas ajudará a estabilizar a taxa de câmbio dólar/yen, a menos que os Estados Unidos acelerem consideravelmente o ritmo de subidas em relação àquilo que o consenso espera”, indica Kok Wei Yee, gestor do Fidelity Funds Japan Opportunities Fund. No entanto, o anúncio introduz um novo termo: controlo sobre a curva (yield curve control ou YCC), o que na sua essência é a versão japonesa da operação Twist da Fed, tal como considera Cosimo Marasciulo, da Pioneer Investments.