Adriá Beso (WisdomTree): “Antes, o interesse por matérias-primas além do ouro era muito baixo. Agora isso está a mudar”

Adriá Beso. Créditos: Cedida (WisdomTree)

Falar da WisdomTree é falar da gestora com uma das gamas de fundos cotados e ETC mais extensas do mercado no que diz respeito ao número de produtos comercializados. O número na Europa ronda os 300. É um dado que diz muito da diferença em relação aos seus concorrentes da estratégia seguida por esta entidade norte-americana com presença global, fundada em 2006, e que atualmente gere 90.000 milhões de dólares, dos quais 30.000 correspondem a produtos europeus.

A sua filosofia baseia-se na capacidade de oferecer produtos diferenciados e únicos. “Não vão encontrar nenhum ETF da WisdomTree que reproduza o S&P 500 ou os índices tradicionais”, explica Adriá Beso, responsável de Distribuição para a Península Ibérica da entidade, numa entrevista à FundsPeople. A casa tem duas formas de criar soluções de investimento para os seus clientes. “A primeira é serem os primeiros no mercado a oferecer exposição a uma classe de ativos nova ou de difícil acesso”, indica.

Esta tem sido uma constante na gestora. “Fomos o primeiro provedor a lançar um produto cotado de ouro físico na Europa. Fomos também os primeiros a colocar à disposição dos nossos clientes o primeiro fundo cotado de obrigações AT1. Há dois anos lançamos um produto sobre os direitos de emissão da União Europeia e voltámos a ser os primeiros a dar acesso ao mercado dos direitos de emissão de carbono na Califórnia, com uma estratégia que é a única na Europa a investir neste tema”, sublinha.

Procura pela originalidade

Se não são os primeiros, tentam criar uma estratégia nova e inovadora através de índices diferenciados, quer sejam índices próprios ou apoiando-se em algum provedor externo. É o caso, por exemplo, dos produtos de smart beta ou de investimento em fatores, que a gestora comercializa há mais de 17 anos, sempre através de ETF, o veículo que, desde a sua fundação, a gestora identificou como o mais eficaz para canalizar o investimento.

Essa abordagem diferenciada do produto, não só como provedor do índice, mas também na sua estrutura, tem-se mantido desde as suas origens. “O fundador da WisdomTree continua a ser o CEO da gestora, pelo que a filosofia mantém-se intacta”. Na Europa, uma parte muito importante da sua gama está em commodities. A principal razão é que em 2018 a WisdomTree comprou o negócio de matérias-primas de ETF Securities, um dos players mais relevantes nesta classe de ativos.

“Com essa aquisição, passamos de uma gestão 2.000 milhões na Europa para 20.000 milhões. Dos 30.000 milhões que temos hoje, 25.000 milhões estão em matérias-primas. Continuamos a ser líderes na Europa em produtos cotados sobre commodities, tanto em termos de ativos sob gestão como de números de produtos (neste momento oferecemos mais de 120 estratégias). Em qualquer matéria-prima que seja líquida, provavelmente temos um produto para que os investidores a possam aceder”, destaca Adriá Beso.

Mais concretamente, para investir no mercado de commodities dispõem tanto de ETC como de ETF UCITS. “Temos na nossa gama três ETF diversificados de matérias-primas. O de maior dimensão tem 600 milhões em património. Na gama de ETC, os principais são os de ouro físico, que em conjunto têm 15.000 milhões. Por ativos, segue-se os de cobre e de petróleo”.

Alocação do cliente a commodities e critérios de seleção

Até agora as commodities para além do ouro não têm sido muito utilizadas. Mas a necessidade de diversificação fez com que alguns investidores institucionais começassem a olhar com mais atenção para o mercado de matérias-primas. É uma tendência clara. Antes, havia muito pouco interesse em explorar. Agora, isso está a mudar bastante”.

Na hora de selecionar o produto, o mais importante para o cliente é a estrutura. “Em ETC há a réplica física, que apenas está disponível para o ouro e metais preciosos. Tudo o resto (metais industriais, setor agrícola, petróleo, energia, …) é feito através de réplica sintética. A estrutura do produto é algo que o cliente analisa com especial atenção: tipo de réplica, a experiência da entidade na gestão destes produtos (gerir um ETF UCITS não é o mesmo que gerir um ETC), os provedores com que trabalha (quando é uma estratégia física, o custodiante; quando é sintética, o banco que dá o swap), o colateral por detrás para mitigar o risco de contrapartida”.

Temáticos e estratégias de qualidade centradas no dividendo

Além da gama de matérias-primas, na Europa dispõem de ETF de ações e obrigações. Onde concentram o património e têm vindo a lançar mais produtos é na gama de ETFs Quality Dividend Growth, por um lado e temáticos, por outro. No que diz respeito aos primeiros, os que concentram o interesse são um fundo global e outro centrado nos Estados Unidos. Relativamente aos temáticos, os de cloud computing, inteligência artificial e baterias e armazenamento de energia são os três produtos com mais track record e também os maiores. 

“Embora os ETF estejam associados ao investimento passivo, tento quebrar essa ligação. É gestão indexada, não passiva. Há decisões de investimento por trás, especialmente na construção dos índices. Na parte temática, acreditamos que construir estratégias de forma totalmente quantitativa não é a melhor opção. Por isso, para cada tema, trabalhamos com uma equipa de especialistas externos. A WisdomTree é o provedor do produto, mas para cloud computing, por exemplo, trabalhamos com a Bessemer Venture Partners, uma empresa de venture capital especialista em investir em empresas da cloud. Ajudam-nos a criar o índice a partir do zero. Isto garante-nos a pureza e a distinção da carteira”.

Adriá Beso reconhece que, com a chegada de novas gestoras à indústria dos ETF, se está a falar mais de ETF de gestão ativa ou sistemáticos, com muitas entidades a criar os seus próprios índices para se diferenciarem. “Aqui estamos totalmente de acordo. Há duas formas de competir; uma é o volume e custos. Esse é o mercado de índices tradicionais. A outra é a diferenciação, inovação e acrescentar valor. Desde o nosso nascimento em 2006 que apostamos nessa segunda abordagem. Antes de se chamar smart beta ou investimento temático, na WisdomTree já o fazíamos”, conclui.