Mais simples, mas não menos desafiante. Num evento promovido pela empresa de serviços FNZ, Afonso Barbosa falou da imperatividade de mudança dos modelos de negócio em Portugal, perante pressões sobre as margens sem precedentes.
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Recentemente, a empresa de serviços financeiros FNZ efetuou a segunda edição do seu fórum FNZ Wealth Management Industry Leadership. Entre outros temas falados no Hotel Altis Belém, os impactos e opções para os players portugueses relativamente à Retail Investment Strategy (RIS) foram um dos pontos altos da exposição.
Afonso Barbosa, diretor da Az.R, começou por lembrar o que foi introduzido de diferente pelo Parlamento Europeu, nas emendas feitas à proposta da Retail Investment Strategy. Na sua opinião, “as principais diferenças notam-se ao nível do conflito de interesses e do conceito de value for money”. Esta é, no seu entender, uma proposta mais simples, mas não por isso menos desafiante.
Pela orientação e olhar do profissional, passamos em revista as medidas retiradas, introduzidas ou mantidas pelo Parlamento Europeu, na avaliação que este organismo fez da proposta da RIS.
# Conflito de interesses
- Retirada: “A medida de banir os incentivos à distribuição em vendas não aconselhadas”.
- Introduzida: um mandato de revisão do tema, para a Comissão Europeia, que passou de três para cinco anos. “Essa revisão vai ser feita com um leque mais alargado de parâmetros de análise dos impactos introduzidos no mercado, devido à introdução da diretiva”, esclarece Afonso Barbosa.
- Mantida: “Os players vão continuar a ser obrigados, de cada vez que fazem uma venda a um cliente, a testar se estão a atuar ou não no melhor interesse do cliente”, começa por expor o profissional. Um teste que está completamente alinhado com o novo modelo de advisory.
# Value for money
- Retirada: Na proposta inicial, um produto que não atingisse um bom nível de rating na medição de value for money, não poderia ser “nem promovido, nem distribuído no mercado”. “Na proposta que foi aprovada pelo Parlamento Europeu essa inibição caiu”, refere.
- Retirada (não na totalidade): a comparação de produtos com benchmarks construídos por autoridades europeias. “Esta foi uma medida que caiu, mas não na totalidade. Mantém-se na proposta o conceito de utilização de benchmarks”, avisa o profissional. Trata-se, segundo a sua interpretação, de um trabalho que o Parlamento Europeu considera de “work in progress”. Vê como provável “a inclusão de benchmarks europeus, ou seja, feitos pela ESMA ou pela EIOPA, de forma a comparar produtos comercializados em mais do que um país”. No caso de produtos que só são comercializados num determinado mercado, acredita que “as autoridades de supervisão locais, provavelmente, terão de desenvolver os seus próprios benchmarks”.
- Mantida: um outro aspeto que não caiu foi “a obrigatoriedade de revisão periódica - com base anual - da oferta de produtos definida consoante os padrões estabelecidos”, refere.
Novo modelo de advisory: sim ou sim
Embora existam diferenças substanciais entre o primeiro texto da Comissão Europeia e o do Parlamento Europeu, na opinião da Az.R e da FNZ, a RIS continua a representar um grande desafio para o negócio de wealth management, em sentido lato. O que se pode chamar de novo modelo de advisory é, na opinião de Afonso Barbosa, um conceito do qual o Parlamento Europeu não abriu mão, com nuances muito específicas, que foram mantidas no texto da diretiva.
“Os players vão continuar a ser obrigados, quando querem comercializar um produto a um determinado cliente, não só a conhecer melhor esse cliente e a recolher mais dados sobre ele, como a analisar uma oferta suficientemente alargada de produtos antes de lhe oferecer uma proposta. Depois dessa análise, só poderão propor aquele produto que for mais eficiente em termos de custos”, assinala.
Fica claro que o conceito de eficiência de custos sofreu alguma flexibilização, relata, pois “já não vai ter apenas em consideração temas de estrutura de custos, ou temas de rentabilidade”, mas vai, por outro lado, “introduzir aspetos qualitativos e relacionados com risco”. No fim de contas: “O conceito foi alargado, mas a obrigatoriedade mantém-se”.
No que diz respeito às recomendações feitas ao cliente, embora persista a decisão de se manter a recomendação do produto mais eficiente em termos de custos, flexibilizou-se outra parte. “Retirou-se a obrigatoriedade complementar de recomendar também um produto mais simples, sem caraterísticas adicionais que o cliente não estivesse a requerer”, explica.
Em resumo, aquilo que saiu do Parlamento Europeu “parece ser uma versão mais simples para o setor”. Uma simplicidade que, na sua opinião, pode ser um trunfo para o negócio. “É mais simples, porque dá mais tempo ao setor para se adaptar. Os desafios continuam lá praticamente todos. A pressão sobre o negócio e sobre as margens do negócio não vai ser mais baixa”, explica.
Proposta de valor dos players tem de mudar
Posto isto, e olhando para o mercado português, no encontro promovido pela FNZ, Afonso Barbosa deu a entender que a proposta de valor dos players nacionais tem de mudar. “Muito provavelmente, muitos modelos de negócio vão ter que evoluir para serviços de advisory e/ou para serviços de gestão discricionária”, vaticina.
Muito provável será também, na sua ótica, uma redução da oferta de produtos existente. “Há produtos que não vão conseguir subsistir no mercado. Por outro lado, haverá uma tendência para a oferta ficar cada vez menos complexa e cada vez mais eficiente em termos de custos”, aponta. Uma evolução que terá um impacto “muito material” nas fábricas de produto que existem no nosso país, que “terão de se especializar em face de uma oferta atual, essencialmente, mainstream”, concluiu.