A country head para a Península Ibérica defende que não nos devemos distrair com o ruído de mercado e que nos devemos concentrar no cliente. Nesta entrevista com a FundsPeople, faz um balanço dos seus cinco anos à frente do escritório ibérico e do plano que traçou em 2019.
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Centrar-se no cliente e naquilo que cada gestora sabe fazer bem. É esta a mensagem transmitida por Alicia García Santos, country head de Espanha, Portugal e Andorra da M&G, a poucas semanas do final de um novo ano complicado para a indústria. “Não nos devemos distrair com o ruído de mercado. Temos de estar focados no cliente; saber muito bem quais são as nossas capacidades core e defendê-las bem. Quando há convicção numa estratégia, é preciso saber transmiti-lo ao mercado”, afirma.
Passaram cinco anos desde que assumiu as rédeas do escritório ibérico da M&G. Cinco anos em que o contexto de mercado tem sido um desafio para o negócio das gestoras internacionais. “Em meia década, o setor enfrentou uma pandemia, múltiplas eleições, uma inflação histórica, o colapso dos bancos, a subida de taxas de juro mais agressiva da história e agora uma nova guerra comercial”, recorda a profissional.
Apesar dos ventos contrários, os ativos sob gestão da M&G na Península Ibérica aumentaram nos últimos quatro anos. “2020 foi um ano difícil porque alguns dos nossos fundos não responderam como nós gostaríamos, mas desde então temos fechado em território positivo ano após ano. Temos sabido preservar o património nas nossas capacidades core e depois outros segmentos, como as ações, ajudaram-nos”, afirma Alicia García Santos. É um crescimento que não é fruto do acaso. “As alavancas de crescimento que estabelecemos na equipa há cinco anos revelaram-se o motor do nosso negócio nesse período”, afirma.
E 2024 será, mais uma vez, um ano de crescimento para a entidade. Embora ainda faltem algumas semanas para terminar o ano, e embora a cautela que carateriza a equipa administrativa não permita um otimismo excessivo, tudo aponta para que fechem o ano perto dos 7.500 milhões em ativos sob gestão. Isto representaria um crescimento de 1.000 milhões líquidos, que começou o ano com 6.498 milhões.
Planos para crescer em mercados privados
Os mercados privados serão uma alavanca de crescimento para a M&G, mas Alicia García Santos está consciente de que demorará mais tempo a colher os frutos. “Não somos um player novo ou pequeno em ativos privados. Através do nosso negócio segurador, a Life, investimos em ilíquidos há décadas. Por exemplo, temos uma das maiores equipas de crédito privado do setor. A dimensão é ainda mais importante no setor privado, porque é isso que nos permite sentar à mesa nos deals mais interessantes”, conta.
No entanto, crescer em mercados privados não é um percurso tão simples. Requer educação financeira com o cliente, para que este compreenda bem o que está a comprar, e abre um debate mais complexo para uma gestora sobre o veículo mais idóneo para o mercado local. Os primeiros passos da M&G neste segmento foram dados através dos ELTIF.
A importância de diversificar o negócio
Um dos desafios que Alicia García Santos colocou a si própria foi o de diversificar o negócio da M&G na Península Ibérica. A entidade posicionou-se rapidamente na região como uma das referências em obrigações com o sucesso do M&G (LUX) Optimal Income, mas, como reconheceu várias vezes, estar dependente de um fundo é um risco para a estabilidade do negócio. “Qualquer empresa veria isto como necessário. Se quisermos ter um livro de negócio saudável, é preciso ter uma fonte de negócio diversificada”, insiste.
E assim cumpriu o seu objetivo. Agora, embora o Optimal Income continue a ser um dos seus principais fundos, fundos como o M&G (Lux) European Strategic Value Fund, o M&G (Lux) Global Floating Rate High Yield Fund e o M&G (Lux) Dynamic Allocation Fund também são blockbuster no mercado português. Quanto às estratégias em que se vão posicionar nos próximos meses, a profissional destaca duas estratégias de obrigações, dos Estados Unidos e Ásia, que gerem há anos para clientes internos e que agora lançam em formato UCITS.
Estão também a diversificar o seu negócio por tipo de cliente. “Queremos continuar a consolidar-nos no segmento de weatlh, uma vez que estamos a entrar em negócios mais institucionais, como family offices e seguradoras, que são compradores a mais longo prazo que proporcionam mais estabilidade em momentos de incerteza”, explica.
Nesta linha de diversificação, a equipa da M&G também identificou oportunidades-chave no mercado português: “É mais institucional em comparação com o espanhol, com as seguradoras e os bancos privados a desempenharem um papel-chave”, e continua “com compradores muito profissionais e também de longo prazo, que valorizam relações sólidas e dedicam tempo às suas seleções de fundos”.
O valor da gestão ativa
Numa indústria cada vez mais exigente com a alocação de ativos, em que os clientes abrem cada vez mais as suas carteiras à gestão indexada, a M&G está a posicionar-se como uma casa com uma poderosa gama de gestão ativa. “É verdade que temos tido sucesso com fundos mais core como o Euro Credit, mas também com estratégias que definiria mais como de serviço, de solução para uma necessidade concreta”, reconhece a profissional.
E Alicia García Santos defende que há sempre espaço para a gestão ativa na indústria de fundos. “O que acontece é que tem de demonstrar o seu valor. O veículo é o menos importante. O que é relevante para o cliente é se uma estratégia é capaz de estar consistentemente no primeiro ou segundo quartil da sua categoria. A M&G não vai trazer produtos para o mercado se não vão aportar valor”, afirma.