Definimos em que consiste a alocação de ativos de uma carteira e analisamos porque tem um papel fundamental na mesma.
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Durante o ano de 2020, o ânimo dos investidores esteve muito polarizado. Moveu-se entre o pânico desencadeado entre os meses de março e abril até à euforia impulsionada primeiro pelos planos de estímulos dos bancos centrais e governos, e depois pela chegada das vacinas para um vírus que mudou radicalmente a sociedade.
Essa polarização teve reflexo nas carteiras dos investidores como demonstram as grandes diferenças de rentabilidade que se viram, por exemplo, nos fundos mistos. E nisso não só teve influência a habilidade dos gestores quanto à seleção de valores, mas também a destreza na hora de realizar a asset allocation ou, em português, alocação de ativos.
O que é a alocação de ativos e porque é importante
A alocação de ativos implica decidir que ativos e em que percentagem são acrescentados a uma carteira de investimento. Trata-se de ver como se divide um património entre os diferentes tipos de ativos que há no mercado. Entre esses ativos estão os tradicionais (cash, obrigações, ações), as matérias-primas, as divisas e os ativos alternativos onde se incluem os ativos imobiliários, nos quais é preciso assumir um prémio de iliquidez. De facto, crescem as vozes que apontam que numa era de taxas baixas como a atual essa percentagem da carteira em ativos alternativos deve subir em detrimento dos ativos tradicionais.
Quanto ao porquê há diferentes estudos académicos que falam de que é precisamente a alocação de ativos o responsável por grande parte da rentabilidade que uma carteira obtém. Um dos estudos é o Determinants of Portfolio Performance, publicado em 1986 por Gary P: Brinson, L. Randolph Hood e Gilbert L. Beebowe.
Nele é analisado o comportamento de 91 fundos de pensões durante um período de 10 anos atendendo a quatro fatores: alocação de ativos, seleção de valores, eficiência das transações no tempo, custos... Concluíram que uma parte significativa do retorno dos fundos foi determinado pela sua política de investimento e alocação de ativos. Daí a sua grande importância. Não é o único estudo que garante essa importância, mas talvez o mais conhecido.
Passos para fazer uma boa alocação de ativos
Para conseguir uma boa alocação de ativos numa carteira é preciso ter em conta diferentes variáveis que dependem de cada investidor.
“A primeira reflexão que devemos realizar destina-se a conhecer os nossos objetivos como investidor: as rentabilidades que desejamos obter, a nossa necessidade de dispor de capital nos meses seguintes ou também conhecer a nossa capacidade para suportar perdas em momentos negativos dos mercados”.
Ou seja, é preciso estudar o horizonte de investimento (curto, médio ou a longo prazo), o perfil do investidor (conservador, moderado ou arriscado) e a rentabilidade que se espera conseguir. E a teoria diz que quanto maior o prazo de investimento, mais percentagem de ativos arriscados se podem incluir em carteira já que são estes os ativos que melhores expectativas de rentabilidade costumam ter no longo prazo. Uma teoria que se cumpriu no passado como se vê neste gráfico do Guia dos Mercados da J.P. Morgan AM.
Tipos de alocação de ativos
Existem diferentes tipos de alocação de ativos que variam em função sobretudo do horizonte de investimento que tem uma carteira.
Alocação estratégica
Este tipo de alocação de ativos procura combinar ativos com o objetivo de mostrar um equilíbrio entre o risco e o retorno esperado, sempre com os prazos longos em mente. Este tipo de alocação costuma ser fixa e não costuma estar sujeita a mudanças que podem acontecer na economia ou nos mercados.
Alocação dinâmica
É semelhante à anterior já que também está pensada para investidores de longo prazo com a diferença de que na alocação dinâmica são tidas em conta as condições económicas e de mercado para se irem realizando ajustes nos pesos que se dão a cada ativo.
Alocação tática
São duas as grandes diferenças que nos trazem este tipo de alocação de ativos. A primeira é o prazo, que é mais curto do que nas alocações anteriores, e a segunda é que não só se limita a ativos tradicionais, mas também inclui derivados ou outro tipo de coberturas mais focadas nos prazos curtos.
Alocação de ativos núcleo-satélite
É uma combinação de todas as alocações anteriores. Por um lado, realiza-se numa parte da carteira uma alocação mais estratégica que afeta o núcleo da carteira e representa a maior parte da mesma. Por outro lado, destina-se uma parte da carteira a um tipo de alocação mais tática.
A importância do reequilibrio
Um dos aspetos fundamentais no momento de realizar uma alocação de ativos estar conscientes da importância do reequilibrio dessa alocação de ativos. Ou seja, ir modificando os pesos que cada ativo tem na carteira em função do comportamento dos mesmos no mercado.
Um exemplo. Imaginemos que hoje construímos uma carteira de 60% de ações e 40% de obrigações. Se durante o ano seguinte as ações subirem muito, esses 60% iniciais irão crescer, o que pode afetar o perfil do investidor. Será então altura de reequilibrar a carteira para que esta volte à sua alocação inicial. Esse reequilíbrio pode fazer-se com no prazo que o investidor quiser em função do seu perfil.