Andrea Delitala (Pictet Multi Asset Global Opportunities): “Temos visto os piores fatores das últimas crises”

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Andrea Delitala. Créditos: FundsPeople

Em termos de construção da carteira, Andrea Delitala enfrentou os piores fatores das últimas crises. “Tem havido danos globais em todo o universo investido”, lamenta o gestor do Pictet Multi Asset Global Opportunities, fundo com Rating FundsPeople 2022. Na sua opinião, isso deve-se à reação acelerada dos bancos centrais na sequência da anterior repressão financeira. “Sabíamos que iria acontecer, mas não num único ano”, reconhece.

Na sua opinião, o positivo é que as expetativas de yield to maturity da dívida e das ações melhoraram, consequência da queda das avaliações. “De facto, o sentimento está muito deprimido, porque o mercado descontou as piores notícias”, afirma. O gestor assegura que não sabe se haverá recessão, mas sabe que haverá se for necessária para controlar a inflação. “Se houver, será induzida pelos bancos centrais”.

No momento, Delitala acredita que a inflação pode atingir o pico no próximo trimestre. “Nesse cenário, as obrigações vão portar-se bem”, prevê. No caso de recessão, pelo menos um dos pilares da sua carteira vai sair-se bem: as obrigações. “Embora tenhamos de ser cautelosos, dado que há agora mais probabilidade de assistirmos a uma recessão no próximo ano, é possível que, em algum momento em 2023, possamos ver uma recuperação mais segura”.

Posicionamento atual

Todas as classes de ativos dirigem-se para a mesma direção simultaneamente. Mas, segundo Delitala, estamos a aproximar-nos de um ponto, dependendo da inflação, em que os investimentos em multiativos vão ser muito importantes. “Se não houver recessão, irei ganhar com entre 3% e 4% adicionais de yields to maturity do que há um ano. O movimento em ações pode ser o oposto nos próximos trimestres: ou se mantêm ou caem, uma vez que ainda não descontam inteiramente a possibilidade de uma recessão”.  

De acordo com a sua visão, se a recessão não ocorrer, as ações europeias, onde o prémio de risco aumentou devido à guerra, podem sair-se bem. Também os ativos dos mercados emergentes. “Qualquer processo visível de paz fará com que as avaliações aumentem muito. Mas nos EUA ainda vemos algum excesso de otimismo na previsão de lucros. Embora já tenha havido uma grande queda neste mercado, têm sido relativamente resistentes”.

Neste caso, segundo o gestor, em 2023, passado o pico da inflação, falar-se-á novamente de perspetivas de crescimento. “De facto, pode ser o momento de evitar reações emocionais e investir. Para o investidor com preocupações com a volatilidade a curto prazo, pode ser apropriado investir de forma faseada durante os próximos dois trimestres. Esperar que tudo esteja mais seguro pode implicar perder oportunidades e possibilidade de recuperar. De facto, assim que a preocupação com a inflação ficar para trás, esperamos que a volatilidade volte a ser um fator que possamos controlar para que os benefícios da diversificação funcionem”, argumenta.

Últimas mudanças realizadas na carteira

Neste momento, a sua exposição a variações de taxas de juro - duração - tem sido muito baixa, com um alto nível de rendimento. “Só a aumentámos nas últimas duas semanas. É preciso ter em conta que a yield to maturity atingiu níveis reais próximos ou acima do nível neutro dos Estados Unidos. É semelhante na Europa, embora com expetativas de taxas de juro um pouco mais baixas e de inflação mais elevadas. Também noutros países desenvolvidos, à exceção do Japão”.

Em concreto, venderam dívida norte-americana de maiores vencimentos após o rally e voltaram a comprá-la recentemente. Além disso, estão a entrar na parte curta dos vencimentos de dívida da zona euro, que, na sua opinião, desconta um maior ajuste do BCE do que a economia europeia pode aguentar.

“Somos muito defensivos. O peso das ações esteve em mínimos há duas semanas, (20%), embora tenhamos comprado na correção e tenha recentemente chegado aos 25%. Mas, em conjunto, estamos subponderados em mercados desenvolvidos. Vemos mais valor em ações europeias que em norte-americanas, embora o risco seja maior, pelo que mantemos uma posição de proteção. A Europa terá potencial quando o panorama geopolítico for clarificado”, conclui o gestor da Pictet AM.