António Luna Vaz, diretor executivo do Private Banking do Banco BPI, em entrevista à FundsPeople, alerta para as limitações de uma carteira composta apenas pelas classes de ativos tradicionais e comenta as soluções no atual ambiente de taxas de juro baixas.
António Luna Vaz, diretor executivo do Private Banking do Banco BPI, em entrevista à FundsPeople, alerta para as limitações de uma carteira composta apenas pelas classes de ativos tradicionais e comenta as soluções no atual ambiente de taxas de juro baixas.
Como vê o atual contexto de taxas de juro e de mercado impactar o potencial de diversificação dos portefólios tradicionais?
No atual contexto de taxas de juro, as tradicionais carteiras compostas exclusivamente por ações e obrigações não apresentam o rendimento e a diversificação adequados. Face à histórica correlação de desempenhos dos mercados de ações e de obrigações num contexto de subida de yields, urge reforçar a capacidade de resistência das carteiras a condições mais adversas de mercado através de uma maior diversificação. A alocação de carteiras limitada apenas às classes tradicionais condiciona a capacidade de gerar retornos, revelando-se também pouco prudente em matéria de gestão de risco. Neste sentido, o investimento noutras classes de ativos, com especial destaque para os chamados investimentos alternativos, reveste-se da maior importância, beneficiando a relação risco-retorno das carteiras.
Adicionalmente, mesmo na componente de ações, em ambientes de subida de taxas de juro há sectores que saem mais beneficiados que outros, caso das empresas cíclicas e financeiras, o chamado estilo mais value, pelo que o posicionamento tradicional em zonas geográficas também se torna insuficiente para proporcionar a diversificação desejada.
Assim, no atual contexto é necessário procurar novas fontes de diversificação, adicionando às carteiras ativos que potencialmente proporcionem rendimentos atrativos e cada vez mais descorrelacionados, permitindo enfrentar momentos de maior volatilidade em ambientes de subida de taxas de juro, em que a componente obrigacionista não oferece a sua habitual proteção.
Que classes de ativos surgem como alternativa de diversificação?
A classe de investimentos alternativos tem vindo a afirmar-se no atual contexto de taxas de juro baixas, como uma alternativa para reduzir a liquidez das carteiras e oferecer algum rendimento sem aumentar muito a volatilidade das mesmas.
Neste contexto, soluções como hedge funds sobretudo de estratégia market neutral, fundos de imobiliário ou private equity têm assumido alguma relevância no passado recente, apresentando-se como uma alternativa para uma parte do património dos clientes, sobretudo nos clientes com maior grau de sofisticação.
Também ativos como as commodities, com especial destaque para o ouro ou o dólar oferecem alguma proteção num ambiente de subida de taxas, ou mesmo quando há momentos de maior volatilidade no mercado, pelo que desde há algum tempo que fazem parte do nosso asset allocation recomendado
Que valor aportam essas classes de ativos?
Através do investimento em classes de ativos menos tradicionais é possível o acesso a estratégias e ativos com desempenhos descorrelacionados, não só dos índices acionistas, mas também com os restantes segmentos tradicionais de mercado, contribuindo para a diversificação dos portefólios. As estratégias de gestão alternativa muitas vezes materializam-se em fontes de rentabilidade de diversas origens, que dependem geralmente de fatores idiossincráticos, com pouca correlação com o mercado.
Em suma, estas classes de ativos podem aumentar o potencial de rentabilidade de uma carteira, mas devido à sua reduzida correlação com os ativos mais tradicionais, permitem também uma mitigação do risco da mesma.
Há que sacrificar alguma liquidez para obter retornos satisfatórios?
Sem prejuízo de recomendarmos a manutenção de uma carteira de investimentos ancorada no investimento em produtos mais líquidos nas principais classes de ativos (ações, obrigações), no atual contexto de mercado, uma alocação marginal a ativos de menor liquidez permitirá potenciar não só a rentabilidade dos portefólios, como também proporcionar retornos com baixos coeficientes de correlação com os movimentos de mercado, o que torna as carteiras ainda mais robustas, em condições adversas.