Ariel Bezalel e a sua crença na descida da inflação

Ariel Bezalel Jupiter
Ariel Bezalel, Jupiter. Créditos: Foto cedida (Jupiter AM)

Pela primeira vez em muito tempo, Ariel Bezalel sente-se oportunista com as perspetivas de obrigações. O mítico gestor do Jupiter Dynamic Bond, um fundo tradicionalmente destacado entre os selecionadores de fundos do sul da Europa, sempre teve tendência para ser cauteloso na sua visão, especialmente após anos de estímulos monetários e de crescimento da dívida pública mundial. Mas numa recente visita a clientes ibéricos, o gestor defendeu que as atuais avaliações em obrigações já refletem um cenário suficientemente negativo. De facto, um dos principais movimentos na carteira deste fundo com Rating FundsPeople 2022 tem sido o progressivo aumento da exposição à duração, como se pode ver no gráfico seguinte:

Curiosamente, o seu interesse por maior risco na carteira anda a par com perspetivas muito sombrias para a economia global a curto prazo. De facto, como reconhece o próprio Bezalel, uma aterragem forçada da economia norte-americana já começa a ser o seu cenário base. “A Reserva Federal está tão preocupada em não ser a Fed dos anos 70, que se vai tornar na Fed dos anos 30”, afirma. A sua preocupação é que o banco central norte-americano esteja totalmente apegado à luta contra a inflação. Uma luta olhando para o passado. “A Fed está às cegas”. Está dependente unicamente dos dados do IPC e do desemprego, dos indicadores atrasados de como está realmente a economia”, lamenta o gestor.

Já nos encontramos num ciclo monetário historicamente restritivo. Desde o início de 2021, o mundo já passou por mais de 300 subidas de taxas. A isto soma-se a forte subida das yields nas obrigações corporativas e o rally nos preços das matérias-primas. “Esta retirada de liquidez no mercado já está a mostrar falhas no sistema”, afirma o gestor.

A grande bolha no mercado imobiliário

Um dos motivos por detrás do pessimismo de Bezalel em relação ao crescimento é a China. O gigante asiático era, antigamente, o motor da economia mundial. Em tempos de desaceleração, foi a boia do crescimento global. Agora, na opinião do gestor, os dias de crescimento do PIB da China de 6% ficaram para trás. O país está a optar mais por se focar em lidar com os seus problemas demográficos. “Desde 2015 que a mão de obra da China se está a contrair. A isto junta-se o colapso da sua bolha imobiliária e a recusa do governo em impedir a sua queda”, recorda.

E o imobiliário chinês não é o único com problemas. “O setor da habitação está a rebentar a nível global”, diz Bezalel. Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Suécia, Alemanha e agora os Estados Unidos. O efeito de uma política monetária mais restritiva já é visível nos dados macroeconómicos.

Os consumidores estão a começar a sentir a dupla pressão da crise do custo de vida e da crise do custo das hipotecas. Para contextualizar em números, na Nova Zelândia 50% das hipotecas deverão ser revistas em 2023 e passarão de uma taxa de juros de 2% para 6% em média.

A viragem na inflação

Os Índices dos Gestores de Compras (PMI) da indústria transformadora também dão sinais de alerta. Como bem assinala o gestor, os novos pedidos de produção estão a contrair-se em 75% dos países que publicam os dados “A história diz-nos que sempre que a Fed subiu as taxas com uma inflação de 5% ou superior, seguiu-se uma recessão”, recorda Bezalel. Na sua opinião, desta vez não será diferente. E, tendo em conta o historial, uma tendência de contração nos PMI da indústria transformadora será em breve seguida por uma nos PMI dos serviços.

Mas, de mão dada a esta contração, virá também uma queda dos preços. Algo que o gestor já deteta em algumas áreas do mercado de bens. Por exemplo, os níveis de inventários elevados, que em algumas zonas estão a levar a reduções dos preços. Isto é, deflação. As rendas também é uma área que está a acalmar. “É por isso que estou confiante que a inflação vai baixar”, defende Bezalel.

“Não há nada como uma boa recessão para derrubar a inflação”, afirma o gestor. E apoia-se de novo nos dados. Como vemos na tabela seguinte, o período médio para a inflação regressar aos 2% é de 16 meses.

Todos os dados utilizados pela sua equipa apontam para que os problemas nas cadeias de abastecimento criados pela pandemia se estejam a dissipar. Os estrangulamentos que uma vez impulsionaram parte das subidas dos preços estão agora a desaparecer. Não só porque os custos de transporte marítimo e terrestre estão a descer, mas também porque a procura do consumidor está a diminuir.

Acrescentar duração ao Jupiter Dynamic Bond

Assim, quando estes riscos se tornarem mais evidentes na economia, Bezalel argumenta que as yields das obrigações voltarão a baixar. Por esse motivo, o Jupiter Dynamic Bond Fund tem estado a aumentar gradualmente a duração à carteira. É um movimento que, durante os últimos meses, os penalizou, mas o gestor mantém-se fiel à sua convicção. “Os mercados de crédito começam a refletir uma recessão”, afirma.

E onde é que está a ser acrescentado o risco? A equipa gestora vê oportunidades tanto em dívida investment grade como em high yield, mas com um viés defensivo. Ou seja, principalmente em emissões sénior e setores defensivos.