De visita a Lisboa, Aron Pataki, portfolio manager de Real Return da Newton ( BNY Mellon IM), falou do problema de liquidez no sistema, do gradual desaparecimento da função de intermediário no mercado, e de como está construído o fundo de retorno absoluto da casa.
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O expertise da Newton Investment Management (uma das oito boutiques da BNY Mellon) em fundos de retorno absoluto já tem uma longa data, e o lançamento de produtos deste género no mercado apareceu com um racional por detrás. Foi a propósito da vinda a Lisboa com uma estratégia deste cariz, que Aron Pataki, portfolio manager de real return da entidade, falou das razões que estiveram por detrás do aparecimento dos fundos de retorno absoluto da casa. “No início dos anos 2000, depois da bolha dotcom, achámos que a probabilidade de ciclos boom & bust tinha crescido de forma material. Achámos que essa probabilidade tinha aumentado também porque os bancos centrais estimularam demasiado o sistema financeiro. Então, deparámo-nos com essas enormes oscilações nos preços dos ativos, que subiam e de repente desciam bruscamente. Achamos que nesse ambiente as estratégias de retorno absoluto são totalmente adequadas, porque preservam capital, e conseguem mover-se dentro das várias classes de ativos de forma livre”, iniciou a conversa, dando o pontapé certeiro para ficarmos a conhecer o fundo BNY Mellon Global Real Return (EUR), fundo com Selo FundsPeople pela dupla classificação de BlockBuster e Consistente que tem a sua gestão atribuída à Newton.
O problema da liquidez
As razões que sustentam o investimento neste tipo de produtos não se ficaram por aqui, e às caraterísticas atrás enunciadas Aron juntou um cenário ainda mais convincente. “Achamos que provavelmente acabaremos num novo regime de baixo crescimento e elevada volatilidade, e nesse contexto, mais uma vez, o que necessitamos é de flexibilidade”. E de onde poderá vir essa volatilidade? O especialista é da opinião de que os preços dos ativos estão bastante elevados, e de que a margem de segurança nas valuations já não é assim tão grande. Mas as fontes de volatilidade, são, nas palavras do especialista “inúmeras”, com destaque para uma bem preocupante. “Se se injetar muita liquidez nos preços dos ativos, quando a liquidez sai, faz com que os preços dos ativos caiam agressivamente, e é isso que estamos a ver atualmente”, refere.
Trata-se de um cenário desafiante com muitos catalisadores de sell offs. Esses sell offs poderão ser muito acentuados, e ao contrário de anteriores ciclos poderão fazer com que haja um roll over da economia, porque na verdade a nossa economia atual é muito menos suportada nas instituições financeiras. Achamos, na verdade, que existirá volatilidade nos mercados de capitais que terá um feedback negativo para a economia real, o que poderá causar recessões”, aponta.
Estamos portanto, na opinião do responsável, perante um ciclo económico que nada tem de tradicional. “Em ciclos anteriores o crédito era intermediado pelos bancos, mas durante os últimos 10 anos isso já não acontece tanto assim”, referiu. Lembrou que os bancos foram tendo “os seus balanços por reparar” e então não podiam emprestar da mesma forma à economia real. Uma função que em certa medida foi sendo ocupada pelas gestoras de ativos e pelos mercados de capitais, o que na opinião de Aron Pataki traz um problema. “Anteriormente os bancos trabalhavam como intermediários. Se existisse uma ampliação dos spreads de crédito ou um stress de mercado na classe de ativos, os bancos conseguiam estender os créditos às empresas. Se a pessoa média dos EUA possui crédito high yield através de um ETF ou através de um fundo não existe um intermediário. O ciclo vicioso pode desenrolar-se muito rápido e não existe um middleman. Trata-se de um sistema muito mais frágil”, alerta.
Retorno absoluto com cariz temático
Neste contexto, o BNY Mellon Global Real Return Fund EUR afigura-se como um produto que procura entregar um retorno de Euribor +4% ao longo de todo o ciclo económico. Com este objetivo de retorno e uma volatilidade intermédia entre as obrigações governamentais e as ações, a equipa gestora desenvolve o que apelidam de uma abordagem temática. “Usamos temas para destacar tendências chave, e depois identificamos oportunidades de investimento no mercado... Mas a verdade é que se trata de muito mais do que isto. Temos os nossos 30 analistas a olhar para estas áreas e a identificar títulos individuais que têm perspetivas de gerar melhores retornos ajustados ao risco. A equipa de retorno absoluto onde me incluo, por sua vez, é a responsável por escolher cada título a nível individual da lista recomendada pelos analistas, e com base nisso construímos o portefólio, que numa fase final tem vários níveis de risco embebidos: risco de moeda, sensibilidade às taxas de juro, etc.”, conta.
Os alicerces do portefólio estão construídos em cima de duas camadas: uma camada estabilizadora e o núcleo de procura de rentabilidade ativa. “A camada de estabilização assegura a preservação de capital, e é a esse nível que decidimos em que factores de risco fazer hedging”, comenta. Na parte core é onde estão os ativos de principal risco, como as ações, mas também os alternativos. No âmbito destes últimos investem por exemplo em empresas de infraestruturas ou empresas que não estão conectadas ao risco financeiro tradicional. À volta deste núcleo duro, estão as quatro subcamadas de hedging principais: o ouro, os derivados, as obrigações governamentais e as posições de moeda. “São estes ativos que protegerão os ativos core”, sentencia.
Nos reajustes mais recentes da carteira está um movimento que se prende exatamente com um destes instrumentos de cobertura: o ouro. “Realizámos taticamente mais-valias em ouro, que se tem saído muito bem, não porque a minha visão relativamente ao ativo tenha mudado, mas porque gerámos lucros muito fortes com o ativo. Percebemos que é altura de vender cerca de 2% da posição taticamente”, clarifica e conclui.