As consequências para a Rússia de ser desconectada do sistema SWIFT

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Créditos: Michel Didier Joomun (Unsplash)

Uma das sanções anunciadas pela União Europeia à Rússia foi a desconexão parcial do país dos sistemas de pagamento SWIFT. Na prática isto representa desconectar o país do sistema de transação internacional mais utilizado. Trata-se de uma medida muito mencionada, mas que no passado foi usada raramente. "Isso é porque se considera uma arma de destruição económica maciça", explica John Plassard, especialista em Investimento na Mirabaud Equity Research.

Em 2014, quando se planificou pela primeira vez uma possível proibição em resposta ao papel da Rússia no conflito da Ucrânia, a SWIFT emitiu um comunicado indicando que era uma sociedade cooperativa global neutral estabelecida sob a lei belga. Nesse momento, afirmou-se que a SWIFT não tomaria decisões unilaterais para desconectar instituições da sua rede como resultado de pressões políticas, mas que cumpriria sim todas as leis europeias aplicáveis. E, importa recordar, o Parlamento Europeu adotou uma resolução a 29 de abril de 2021 sobre a exclusão da Rússia do SWIFT em caso de invasão da Ucrânia por parte das suas tropas.

O Irão

Existe um precedente que se pode analisar: o Irão. A SWIFT introduziu uma proibição de acesso do Irão ao sistema em resposta às sanções contra esse país. "Depois da desconexão dos bancos iranianos do SWIFT, o Irão perdeu quase metade das suas receitas por exportação de petróleo. E também 30% do seu comércio externo", recorda Plassard. Para o especialista, "o impacto na economia russa seria igualmente devastador, especialmente a curto-prazo".

É algo até reconhecido por Alexei Kudrin, ex-ministro das finanças russo. Quando o governo britânico o ameaçou com a medida, previu que isso poderia conduzir a uma queda de 5% no PIB da Rússia. Segundo o especialista em Investimentos na Mirabaud AM, a Rússia depende em grande medida do SWIFT devido às suas multimilionárias exportações de hidrocarbonetos. "O corte pararia todas as transações internacionais, desencadearia a volatilidade da moeda e provocaria saídas massivas de capital", augura.

Que alternativas teria a Rússia

De acordo com Plassard, a alternativa russa mais óbvia seria o Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras (SPFS). Introduzido em resposta à primeira ameaça de SWIFT para a Rússia, o uso do sistema tem crescido a nível nacional, mas ainda não se adotou amplamente em termos internacionais.

"Desde 2014, as empresas petrolíferas russas têm pressionado para aumentar o comércio em moedas alternativas e agregaram mecanismos nos contratos para permitir o pagamento em diferentes moedas, se necessário. Os produtores de petróleo, incluídos a Rosneft e a Gazprom Neft, declararam que a opção de pagar em moedas alternativas está incluída em muitos contratos de fornecimento".

Mas a maioria do petróleo russo é ainda comercializado em dólares. Na verdade, o Banco Central da Rússia declarou num comunicado de 1 de novembro de 2017 que dois terços dos contratos de exportação de hidrocarbonetos estão na divisa americana. Mas a tendência parece estar a inverter-se.

Segundo o Banco Central Russo, de 2013 a 2019, o dólar foi substituído em grande medida do serviço de fluxo de exportações por pagamentos em euros e em rublos. Assim, o peso do dólar em 2013-2019 teria diminuído cerca de 17,6%. Ao mesmo tempo, o peso do euro e do rublo aumentaram cerca de 11,5% e perto de 48%, respetivamente.

Em abril de 2014, os EUA incluíram na sua lista negra vários bancos russos. A Visa e a Mastercard suspenderam os serviços a estes bancos e impediram-nos de usar sistemas de pagamento. No mês seguinte, o governo russo aprovou uma nova lei que introduziu o sistema nacional de cartões de pagamento, mais tarde conhecido como Mir ("Mundo"). O sistema de cartões, de propriedade absoluta do Banco Central da Rússia, é o centro de processamento de transações com cartões no país.

"Desde 2014, a participação das transações Mir cresceu para 24% do total das transações nacionais com cartões. Emitiram-se mais de 73 milhões de cartões utilizando o sistema Mir. O rápido crescimento do sistema deve-se em grande medida ao facto de que, na Rússia, os cartões bancários costumam ser emitidos pelo empregador (ou o estado). Os cartões Mir são agora a norma para os pensionistas, empregados do setor público e outros destinatários de fundos públicos. No entanto, ainda está longe de ser fácil realizar pagamentos fora da Rússia com um cartão Mir", conclui.