A diminuição da inflação e a redução dos custos financeiros parecem abrir caminho para o crescimento económico, no entanto, existem vários riscos políticos e económicos que podem afetar o comportamento dos mercados. Stefan Hofrichter (Allianz GI) analisa os possíveis cenários.
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Enquanto o mundo assiste cautelosamente aos altos e baixos da economia global, as projeções para 2025 apontam para uma aterragem suave nos EUA, com a esperança de uma estabilização económica após anos de turbulência. A diminuição da inflação e a redução dos custos financeiros parecem abrir caminho para um crescimento económico sustentado. No entanto, este cenário otimista não está isento de riscos, especialmente num mundo marcado pela incerteza política global e pela influência da inovação disruptiva.
Foi este panorama misto que a Allianz Global Investors descreveu num encontro, no qual Stefan Hofrichter, estratega-chefe da entidade, analisou as soluções deste complexo quebra-cabeças económico, um cenário em que os fatores políticos e económicos se entrelaçam e dão o mote para os próximos anos. O especialista centrou-se nas recentes eleições nos EUA e expressou com um governo populista pode colocar em risco as previsões de crescimento económico e o comportamento dos mercados financeiros.
Risco em dois cenários possíveis
A partir de um cenário de base otimista, marcado por uma aterragem suave nos EUA, o primeiro cenário de risco, segundo Stefan Hofrichter, é aquele em que a inflação persiste e há uma aceleração económica. Num contexto de condições financeiras flexíveis e estímulos, o crescimento económico pode superar as expetativas e fazer subir a inflação acima dos 2%. Este fenómeno é explicado por fatores de longo prazo, como o envelhecimento populacional e a transição para uma economia menos dependente dos combustíveis fósseis, que aumentam os custos de produção. Este cenário poderá reavivar a atividade económica, especialmente após as eleições dos EUA, que deverão conduzir a novos estímulos.
Por outro lado, o estratega concebe um cenário de recessão. “Embora não haja atualmente sinais de recessão, existe a possibilidade de uma desaceleração económica”, explica Stefan Hofrichter. A história mostra que aumentos de taxas de juro acima do nível neutro precedem frequentemente recessões. As curvas de yields invertidas das obrigações do Tesouro norte-americano, um sinal comum de recessão, já mostraram padrões semelhantes no passado. Desta forma, a probabilidade de uma contração económica não deve ser ignorada.
A influência das eleições dos EUA e o impacto do populismo nos mercados
As eleições presidenciais nos EUA estão a tornar-se um importante ponto de viragem. Stefan Hofrichter sublinhou que o ciclo eleitoral nos EUA tem influência direta nos mercados financeiros e que o contexto político tende a reduzir a volatilidade após as eleições. No entanto, o profissional argumenta que os efeitos do populismo poderá representar um desafio para os mercados globais.
Segundo a análise histórica da Allianz GI, as economias com governos populistas registam frequentemente um crescimento mais lento e um aumento da inflação, da dívida e das restrições civis. Estes governos costumam implementar estímulos fiscais nos seus primeiros anos, o que pode impulsionar temporariamente o crescimento. No entanto, a longo prazo, o impacto é negativo para os mercados e para o crescimento económico global.
Quando governos populistas tomam o poder, o crescimento real do PIB é normalmente mais baixo, tanto em comparação com a própria trajetória do país como com a média mundial a longo prazo. Isto acontece porque as economias sob regimes populistas tornam-se, muitas vezes, menos abertas, registam um aumento da inflação, níveis mais elevados de endividamento e uma redução dos direitos de liberdade. No entanto, esta desaceleração do crescimento geralmente não se manifesta no curto prazo. A tendência mostra que são necessários pelo menos dois anos para que estes efeitos se façam sentir, uma vez que os populistas normalmente levam mais tempo a implementar mudanças significativas na política económica e, nos seus primeiros anos de governo, tendem a recorrer a estímulos fiscais para impulsionar a atividade económica.
Por outro lado, os retornos das ações a longo prazo, ajustados à inflação, costumam ser débeis quando os governos populistas estão no poder. Isto está em consonância com o abrandamento do crescimento económico a longo prazo que carateriza este tipo de administrações. No entanto, nos primeiros três anos, os mercados de ações tendem a registar um desempenho robusto, refletindo a estabilidade económica inicial impulsionada pelos estímulos fiscais e as medidas a curto prazo que frequentemente caraterizam os inícios de governos populistas.
A transformação dos mercados financeiros
O estratega da Allianz GI destacou que os mercados de obrigações oferecem oportunidades de retorno moderadas, com expetativas que a curva de yields continue a normalizar-se, o que deverá traduzir-se em rendimentos relativamente estáveis a longo prazo. No entanto, a administração de Donald Trump poderá introduzir alguns riscos a curto prazo, afetando as yields das obrigações, especialmente das obrigações do Tesouro dos EUA.
Se a economia norte-americana mantiver um crescimento nominal médio de 4% (somando o crescimento real e a inflação) e a Fed mantiver uma política monetária neutra, o rendimento esperado das obrigações do Tesouro a longo prazo também será de cerca de 4%. Por outro lado, o estratega prevê que o spread de rendimento entre as obrigações norte-americanas e as obrigações da zona euro aumente, devido às diferenças de crescimento económico.
Para o mercado de ações, as projeções também apontam para um rendimento moderado a médio prazo. Embora a volatilidade costume ser elevada em anos eleitorais, espera-se que entre naquilo a que os especialistas chamam um degelo, à medida que a incerteza política se estabiliza após as eleições nos EUA. Enquanto os indicadores económicos não apontarem para um abrandamento significativo da economia e a inflação não recuperar significativamente, é provável que o mercado de ações continue a mostrar um desempenho positivo. No entanto, os risco a longo prazo aumentam se se tiver em conta as elevadas valorizações das ações norte-americanas e as elevadas expetativas de crescimento dos lucros a longo prazo.
Menor correlação entre obrigações e ações e uma estabilidade moderada no crédito
As obrigações e as ações estão positivamente correlacionadas quando a inflação subjacente é maior do que o intervalo de 2,5% a 3% e o crescimento do PIB nominal é superior a 5% ou 6%. Mas, dado que se prevê uma diminuição gradual da inflação nos próximos trimestres, esta correlação positiva deverá diminuir, regressando a um comportamento mais independente entre os dois mercados.
A volatilidade também é um fator a considerar. Com o índice VIX significativamente mais baixo do que o implícito nas anteriores subidas de taxas da Fed e o achatamento da curva de yields, a volatilidade das ações poderá aumentar, em vez de diminuir, nos meses posteriores às eleições norte-americanas de 2024.
Por último, no que diz respeito ao mercado de crédito, os spreads tanto de investment grade como de high yield são bastante estreitos. Embora as taxas de incumprimento estejam a aumentar e a cobertura global de juros esteja a atingir o seu limite, a qualidade creditícia deverá permanecer sólida enquanto a economia mundial continuar a crescer moderadamente. Isto sugere que, apesar dos desafios, o contexto de crédito poderá manter-se estável no curto e médio prazo.