Ativo total e carteira de investimentos da Fundação Gulbenkian crescem em 2021, em ano de retornos "extraordinários"

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Créditos: FundsPeople

O último relatório e contas da Fundação Calouste Gulbenkian, começa com um esclarecimento importante sobre a importância da carteira de investimentos da entidade. "A perpetuidade da fundação é a maior responsabilidade de cada conselho de administração. Sabemos que parte significativa da perpetuidade passa pelo valor de mercado da carteira da fundação", pode ler-se no documento que retrata a atividade da Fundação em 2021.

O que é facto é que o valor da carteira de investimentos da entidade tem crescido a olhos vistos. "Em 2017 esse valor era de 2.8 mil milhões de euros e, em 2021, este valor atingiu os 3.7 mil milhões", constatam da própria entidade. No ano de 2021 apelidam mesmo o retorno da carteira de títulos de "extraordinário", fazendo com que o capital da Fundação fique "ao nível de um dos melhores resultados atingidos".

O ativo da Fundação Calouste Gulbenkian também cresceu face aos 3.332,19 milhões de euros de 2020. Em 2021 reportam um valor de 3.834,05 milhões de euros, aumentando 15,06% face ao valor de final de 2020. Os ativos financeiros (a carteira de investimentos da Fundação), com um valor de 3.722,84 milhões de euros como já referido, são a fatia mais robusta do ativo total. A carteira de investimentos da fundação aumentou mesmo mais 435,84 milhões de euros (+13,26%) face ao valor de 31 de dezembro de 2020. 

A fundação explica o acréscimo de forma simples: "Corresponde essencialmente à diferença, em 2021, entre a subida de valor da carteira, o pagamento dos empréstimos obtidos em 2020 e o financiamento da atividade da fundação".

Os ativos financeiros correntes detidos para negociação eram em 2021 compostos da seguinte forma:

O fundo de capital, por sua vez, atingiu os 3.471,02 milhões de euros (o que corresponde a 90,5% do valor do Ativo) e reflete um acréscimo de 459,29 milhões de euros (+15,25%) face ao valor de final do ano anterior. Este acréscimo, explicam, "resulta da transferência para o fundo de capital de um resultado positivo de 473,13 milhões de euros (no exercício de 2020 fora transferido um resultado positivo de 124,14 milhões de euros) e da redução de 13,85 milhões de euros da rubrica de reservas".

A variação do fundo de capital referida explica-se por várias razões que a fundação elenca, entre as quais figura "um retorno positivo da carteira de ativos financeiros no valor de 561,75 milhões de euros, que compara com um retorno positivo de 218,33 milhões de euros registado em 2020".

No que toca aos ativos financeiros não correntes decorridos para negociação, a fundação apresenta os seguintes detalhes:

A diferença apresentada na variação face a 2020, dizem ser "explicada pela transferência da maioria dos fundos de investimento na carteira custodiada pelo JP Morgan para ativos financeiros correntes detidos para negociação de acordo com a política de investimento da fundação", ou seja, os considerados na tabela anterior a esta.

Rendimento real total de 3,5%

A fundação apresenta também muito bem definidos os requisitos que devem ter os ativos que incluem na carteira de investimentos. Apontam, por exemplo, que "o valor real da carteira deverá ser preservado após tomar em consideração a erosão provocada pela inflação dos custos da fundação". Isto ao passo que "as contribuições da carteira para o financiamento da atividade da fundação deverão manter o seu valor real, isto é, deverão crescer o suficiente para acompanhar, pelo menos, a inflação dos custos da fundação".

Fixam, desse modo, o objetivo de "um rendimento real total de 3,5% (rendimento da carteira acima da inflação portuguesa a cada período sobreposto de cinco anos)".

Desagregação do retorno financeiro atingido em 2021 e 2020

Reforço da gestão ativa mantém-se

Tal como já acontecia em 2020, o reforço da gestão ativa manteve-se forte em 2021, factor que se reflete nos custos operacionais das carteiras de investimento:

Justificam então a variação da rubrica da carteira de investimentos, por um lado com "o aumento da dimensão da mesma, por aplicação do proveito da venda da Partex" e, por outro, com "a maior complexidade da carteira que tem hoje maior peso de gestão ativa".

Criação de uma Comissão Operacional dos Investimentos

A própria estrutura da fundação mudou no que toca à área dos investimentos. No relatório e contas 2021 contam que "na área dos investimentos financeiros foi também criada uma comissão operacional dos investimentos, para além do já existente comité de investimentos, ao nível do conselho de administração". O comité de investimentos, por seu lado, aconselha o conselho de administração, plenário e executivo, em matérias de investimentos. "É composto por três a cinco membros independentes de reconhecido prestígio e idoneidade, designados pelo conselho de administração", explicam.

Impacto do conflito

Embora o relatório e contas da fundação seja referente ao ano passado, não deixaram passar em branco o conflito entre a Rússia e a Ucrânia e o potencial impacto nos investimentos da instituição. "Os mercados de capitais reagiram negativamente, tendo impactos adversos na carteira de investimentos da fundação", alertam. "A exposição direta a ativos russos e ucranianos é bastante reduzida. Porém, as perspetivas de abrandamento da economia têm impacto material no desempenho da carteira de investimento a muito curto prazo", preveem.