A alocação do fundo Blockbuster Ruffer Total Return International mudou sensivelmente desde a última visita de Benjamin Boucher-Ferté a Lisboa. Em março, o diretor de investimentos explicou o racional de uma carteira que aloca mais de 40% a inflation bonds.
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Foi com uma declaração de interesses que Benjamin Boucher-Ferté iniciou a sua exposição “intimista” referente ao Ruffer Total Return International, um fundo que tem despertado o interesse dos investidores, a avaliar pela classificação de Blockbuster que recebe nos selos Funds People. “O que para nós é verdadeiramente importante no mercado são os fundamentais, por um lado, e a liquidez por outro. O que estamos interessados é nos preços dos ativos. O que é que faz com que os preços dos ativos flutuem? Os fundamentais podem melhorar ou degradar-se ou então a liquidez pode melhorar ou degradar-se”, iniciou o diretor de investimentos da Ruffer, nos escritórios da sua representante em Portugal, MCH Investment Strategies.
No que ao mercado de ações norte-americano diz respeito – ao qual prestam mais atenção – o profissional lembra que “há muitas formas de olhar para as valuations”. No seu caso, dão atenção ao Shiller PE, que, como visível no gráfico, permite ver que “a seguir à correção do ano passado nos mercados de ações, os lucros cresceram, as valuations caíram, mas ainda assim estão em níveis superiores comparativamente com os da bolha da internet. Então, sim, estão mais baratas, mas ainda assim caras”.
“Onde temos estado nos últimos oito meses podemos apelidar de um período muito difícil e doloroso, porque estamos no que se chama de um regime de transição. O que é este regime de transição? Estamos num regime de resposta a 2008, com taxas de juro muito baixas, quantitative easings. O que é que acontece quando estamos durante muito tempo com taxas de juro muito baixas? Tudo o que tem yield passa a ser muito mais caro”, prosseguiu o especialista dando um exemplo específico de como esse regime afetou o mercado. “Vemos por exemplo investidores a moverem-se de títulos com rating AAA para AA, A, high yield, etc. isso faz com que os comportamentos dentro do mercado mudem”, especifica. Esta é uma situação, que, no entender do especialista, durou especialmente entre 2009 e 2018: os agentes de mercado mudaram portanto o seu comportamento e levaram consigo uma grande quantidade de risco de crédito, liquidez e contraparte. “Achamos que especificamente essa situação vai mudar, e é para ela que nos posicionamos”, referiu.
Desta feita, o profissional reiterou que embora considerem que de facto as ações dos EUA estão caras, o importante é perceber se “são capazes de suportar os fundamentais que estão por detrás desse encarecimento”. É da opinião que “sim”, pois se se olhar para as obrigações, “que é como quem diz se compararmos com o equity risk premium, verifica-se que não está em níveis absurdos”, isto porque “ as yields das obrigações estão muito baixas”.
Com mais uma declaração de interesses, Benjamin Boucher-Ferté prosseguiu em direção ao racional de investimento que aplicam atualmente: “O nosso trabalho é alocar o dinheiro a classes de ativos long only”, mas “chegámos a um ponto em que por via das baixas taxas de juro e do QE, a liquidez no sistema aumentou e os preços dos ativos subiram, todos ao mesmo tempo”. Antes desse período, recorda, foram capazes de ter um elevado nível de confiança “em entregar retornos absolutos através de ativos mais plain vanilla ou tradicionais”. O problema acontece quando “todos os ativos estão caros”. Recorda, nesse sentido, fevereiro do ano passado. “Se se fosse um investidor em dólares, nos colapsos de mercado anteriores, ter-se-ia sempre a “ajuda” das treasuries a 10 anos, do yen, do ouro, ou até do franco suíço. Em casos de pânico de mercado costumavam ser eficazes. Em fevereiro do ano passado nada disso funcionou”, relembra, reiterando a precaução com que se apresentam. “Temos de encontrar formas de proteger-nos no downside contra esse tipo de cenário”.
Obrigações indexadas à inflação
Trazendo à conversa a última vez que esteve em Lisboa, o especialista lembra que algo mudou desde essa altura no portefólio. “Aumentámos a alocação a obrigações indexadas à inflação, por causa do repricing nos EUA”, já que no país se assistiu “às obrigações nominais a subirem, até atingirem o pico de novembro”. Nessa altura, ratifica, apostaram em US Treasury TIPS a 30 anos, “porque as yields nominais estavam a 3.2%, o que era elevado, e as expetativas de inflação eram muito baixas”.
Passado um mês foi a parte mais curta que entrou em jogo – US treasury TIPS a cinco anos. “Achámos que as condições financeiras, que eram tão importantes para a FED decidir o que ia fazer a seguir, tinham apertado fortemente numa altura em que não se podiam emitir obrigações”, lembra.
Atualmente, como visível na imagem abaixo, a convicção nestes ativos vale uma exposição de 44% no portefólio, ou seja, quase metade. No espetro das ações, por sua vez, são 40% da carteira que lhes estão reservados. Investem, referiu o diretor de investimentos, num misto de empresas cíclicas, value e ainda algumas financeiras no Japão e no Reino Unido. "Contudo, embora ao nível do Japão ainda tenham em carteira os maiores bancos, reduziram um pouco a sua exposição precisamente à medida que a sua visão sobre o ciclo de subidas de taxas pela Fed se foi alterando".