Entre os riscos a monitorizar para o próximo ano, João Marques, da direção de estratégia e alocação da Caixagest, destaca um possível choque inflacionista e o ambiente geopolítico mundial. Gonçalo Gomes, da direção de produto e desenvolvimento, elege o Caixagest Investimento Socialmente Responsável como o produto a ter em conta para 2018.
O que esperam de cada uma das principais economias (EUA, Europa, China Japão) no ano de 2018?
Apesar do ambiente de incerteza geopolítica prevalecente, para 2018, perspetivamos que a economia global deva evidenciar um crescimento real acima do potencial, tal como no ano transato, mas abaixo das médias de contextos anteriores à última crise económica e financeira. Esta fase cíclica positiva decorre das sucessivas revisões em baixa das taxas de crescimento económico potencial, dada a evolução desfavorável nos últimos anos de macro fatores estruturais, como a redução do crescimento da população e da produtividade, sobretudo nas economias desenvolvidas, e do elevado grau de endividamento, no caso dos principais países do bloco emergente. Deste modo, em 2018, tendo em conta as leituras favoráveis mais recentes dos indicadores denominados “leading”, os registos de crescimento real poder-se-ão situar novamente acima de 2% nos casos dos EUA e da Área Euro, em torno de 1% no Japão e acima de 6% na China. Relativamente ao Reino Unido, as incertezas associadas ao processo negocial do “Brexit” e o impacto negativo na confiança dos agentes económicos deverão contribuir para níveis de crescimento modestos, abaixo de 2%.
No que concerne à inflação, realçamos três evidências. A primeira decorre da referida conjuntura cíclica de evolução do PIB real, acima do potencial, que deverá contribuir para o fecho dos hiatos do produto - rácio da (i) diferença entre o nível atual de riqueza criada e o nível potencial com o (ii) nível potencial - em diversos países, inclusive europeus. A segunda resulta da recuperação do mercado de trabalho, ao longo dos últimos anos, no bloco desenvolvido, com as de taxas de desemprego atuais a aproximarem-se de patamares considerados de equilíbrio, ou seja, de plena utilização dos recursos em linha com o referido crescimento potencial. Deste modo, a recuperação do emprego poderá ser indutora de um eventual aumento dos preços. Com base na teoria económica, e na realidade histórica, a conjugação destas duas evidências materializa-se num aumento da inflação subjacente (ex. energia e alimentação). Em terceiro lugar, a recente subida do preço do petróleo, desde os mínimos de junho último, se não for revertida, também deverá impactar positivamente a evolução dos indicadores de preços. Deste modo, é provável que as métricas de inflação possam demonstrar, ao longo do ano, uma tendência ascendente.
No domínio das políticas monetárias e fiscais, a nossa expectativa é de evolução algo diferenciada, devendo, no entanto, a atuação global dos bancos centrais permanecer em níveis expansionistas. A Reserva Federal Americana deverá prosseguir com a subida gradual das taxas diretoras e com a redução do seu balanço, através do não reinvestimento dos ativos vincendos. Face ao histórico, e considerando o enquadramento macro, as taxas de referência dos EUA deverão continuar baixas e o portfólio de ativos em dimensão elevada. Em concreto, o menor crescimento potencial e a ausência esperada de fortes tensões inflacionistas serão consonantes com condições monetárias de equilíbrio traduzidas em níveis de taxas moderados. Adicionalmente, a reforma fiscal, recentemente aprovada, poderá significar um novo impulso para o crescimento americano, destacando-se a descida da taxa de imposto estatutária sobre os lucros, de 35% para 21%. Já na Área Euro e no Japão, as taxas de juro de referência deverão permanecer nulas e negativas e os balanços dos bancos centrais continuarão a expandir-se, embora, no caso do BCE, a um ritmo inferior ao atual e até final de setembro. Deste modo, em 2018, a liquidez global não deverá ainda reduzir-se, com a diminuição de Dólares no sistema financeiro a ser compensada com a expansão de Euros e de Ienes. Em termos fiscais, no espaço europeu, o conjunto de políticas orçamentais esperadas aponta para uma ausência de restritividade, comparativamente aos últimos anos, enquanto no caso nipónico, os efeitos do pacote fiscal expansionista lançado em 2016 deverão gerar um impacto positivo no crescimento deste ano, embora menor. Na China, e na sequência do Congresso quinquenal do Partido Comunista realizado em outubro, realçam-se as premissas estratégicas de convergência para um modelo económico mais em linha com o dos países desenvolvidos, de maior relevância do consumo privado e do setor terciário, e de gradual redução do elevado endividamento das empresas públicas. Tal, dever-se-á consubstanciar num aumento das restrições à concessão de crédito, em simultâneo com a manutenção de medidas de política monetária de caráter mais expansionista, que permitam uma consecução benigna dos objetivos políticos.
Quais as classes de ativos melhor posicionadas para enfrentar o novo ano e que perspetivas têm para cada uma delas (obrigações, ações, imobiliário...).
No que respeita à evolução dos mercados financeiros, com as elevadas valorizações absolutas atingidas, constatamos que, aos níveis correntes, as rendibilidades esperadas para as principais classes de ativos, a médio e longo prazo, não apresentam um potencial significativo.
No ponto inicial (mais baixo) da hierarquia de risco, ou seja o mercado monetário, as taxas deverão permanecer reduzidas, ou mesmo negativas no caso das Euribor, potenciando retornos reais (ajustados por inflação) negativos.
Por sua vez, o universo de rendimento fixo apresenta agregadamente cupões bastante baixos o que, sendo uma componente relevante da sua rendibilidade, torna a classe bastante vulnerável a contributos negativos para os preços das obrigações advindos de prováveis subidas das yields. Neste contexto, os instrumentos do tesouro de referência apresentam yields substancialmente reduzidas, abaixo do crescimento económico nominal, sendo o caso de Alemanha o mais paradigmático ao traduzir ainda um elevado prémio de “refúgio”. Já as obrigações de risco crédito, soberano e corporativo, apresentam genericamente spreads comprimidos face aos riscos inerentes embora, numa abordagem mais granular, em segmentos específicos se possam detetar algumas oportunidades de valor. Apesar de não assumirmos um forte alargamento dos mesmos, ainda assim o seu contributo para a rendibilidade total poderá não ser tão positivo como em anos anteriores. Consequentemente, no mercado de obrigações, não antecipamos desempenhos atrativos, numa base de retorno vs. risco, podendo nas subclasses de melhor qualidade creditícia ser eventualmente negativo.
Por sua vez, no patamar superior da escala de risco, a classe acionista global apresenta múltiplos de preços elevados face aos fundamentais empresariais. Neste espaço, não perspetivando a continuação da expansão das referidas métricas, é expectável que possam ser novamente atingidas rendibilidades positivas, superiores às das restantes classes, por via da continuação do crescimento dos lucros em função das vendas, dada a forte relação destas últimas com a evolução económica. Adicionalmente, nos EUA, a redução da taxa de imposto sobre os lucros, já com efeitos em 2018, espelhar-se-á num choque adicional positivo nos resultados esperados. No que concerne à trajetória das margens, operacionais e de lucros, nos EUA, com as observações extremas atuais face às últimas décadas e a possibilidade de aumento do ritmo de crescimento dos salários bem como das taxas de juro, não atribuímos uma forte probabilidade à expansão das mesmas. No caso da Área Euro, os níveis mais baixos face ao seu histórico, a presumível existência de alguns hiatos no mercado de trabalho e a perspetiva de uma política monetária mais expansionista a vigorar, comparativamente aos EUA, poderão possibilitar um aumento das margens o que, por sua vez, constituirá um contributo adicional para o crescimento dos resultados corporativos da região.
Deste modo, num enquadramento em que não antevemos ganhos absolutos significativos ao nível dos mercados de referência, a principal hipótese de valor numa estratégia de alocação de ativos residirá no diferencial de rendibilidades perspetivadas favorável ao mercado acionista. Assim, dado o enquadramento económico, monetário e fiscal esperado, e apesar dos potenciais focos de instabilidade geopolítica, com base na informação disponível à data, as ações, americanas e da Área Euro, oferecem maior valor do que as classes de obrigações do tesouro, sobretudo de emitentes “core”, e de crédito.
Que riscos monitorizam por esta altura com maior preocupação e porquê?
Ao nível económico-financeiro, o principal risco reside num choque inflacionista, eventualmente derivado de uma forte subida dos preços da energia, a partir dos níveis atuais que, para além das consequências imediatas na redução do rendimento real disponível dos consumidores, seja gerador de uma mudança no paradigma de políticas monetárias globalmente expansionistas. Tal, refletir-se-á em subidas das taxas de juro mais acentuadas, face ao atualmente descontado, bem como na aceleração e antecipação do término das medidas de expansão de balanços e de liquidez. Tendo em conta que este regime suportou claramente o comportamento positivo das principais classes de ativos e a recuperação económica nos últimos anos, então uma eventual reversão do mesmo poderá contribuir para uma forte correção dos ativos de risco e uma subida das yields, gerando efeitos de riqueza negativos e aumentando a restritividade das condições de crédito às economias. Adicionalmente, neste hipotético contexto, as autoridades monetárias dos países do bloco emergente serão possivelmente forçadas a acompanhar a redução das políticas acomodatícias das economias desenvolvidas, através de subidas de taxas de juro e intervenções no mercado cambial, para minorar um potencial êxodo de capitais.
Por outro lado, no espectro geopolítico, permanecem fontes de risco potencialmente indutoras de instabilidade nos mercados e nas economias. A gestão das relações comerciais dos EUA com os seus principais parceiros, nomeadamente a China, constituirão um ponto fulcral. Paralelamente, as tensões com a Coreia do Norte serão também um aspeto a monitorizar. Ao nível europeu, para além do processo de negociação do “Brexit”, destacam-se a imprevisibilidade do resultado das eleições legislativas italianas, no início de março, bem como a instabilidade na Catalunha relacionada com a questão independentista. Prevalecem, também, incertezas quanto à formação de uma coligação governamental na Alemanha e, consequentemente, quanto ao maior ou menor grau de atitude pró-europeia germânica. Finalmente, ao longo de 2018, irão decorrer eleições em diversos países latino-americanos, realçando-se o Brasil. Dada a emergência de movimentos populistas nestas geografias, os resultados poderão ser geradores de consequências negativas não só a nível doméstico como internacional.
Qual o fundo de investimento (obrigações, ações, misto) que recomendam para o ano de 2018 e porquê?
Uma solução Multiativos será a mais ajustada à generalidade dos investidores, por ter um mandato de investimento abrangente e diversificado, permitindo ajustar o nível de risco e retorno potencial desejados. Dentro da nossa oferta Multiativos, destacamos o Caixagest Investimento Socialmente Responsável*, que completou recentemente o seu primeiro aniversário, tendo sido o primeiro fundo disponibilizado em Portugal cuja estratégia de investimento se baseia na seleção de empresas com práticas reconhecidas de Negócio Responsável. O seu lançamento foi impulsionado pela cada vez maior consciencialização dos consumidores para o impacto ambiental, social e económico das suas decisões de investimento. O fundo privilegia as empresas que apresentam as melhores práticas em áreas como o bem-estar social, a sustentabilidade ambiental ou as boas regras de governação corporativa. Pelo contrário, não investe em empresas cuja atividade esteja significativamente associada a setores com impacto social ou ambiental negativo, como o jogo, o tabaco, o armamento ou a energia nuclear. O fundo investe em ações (com um limite máximo de 40% e uma exposição no final de dezembro de 34,66%) e em obrigações.
O fundo tem sido um assinalável sucesso comercial, tendo acumulado em apenas um ano um total de ativos de € 68,85 Milhões, tendo-se associado à campanha de reposição florestal “Reflorestar Pedrógão”, em parceria com a Caixa Geral de Depósitos, da qual resultará a doação de cerca de 30000 árvores nativas para a zona de Pedrógão Grande.
Ativos sob gestão: € 68,85 Milhões (31/12/2017)
Subscrição inicial: €100
Subscrições subsequentes: Preço de uma unidade de participação
Comissão de gestão: 1,25%
Comissão de depósito: 0,1%
Comissão de subscrição: 0%
Comissão de resgate: 1% para investimentos inferiores a 89 dias; 0,5% para investimentos entre 90 e 179 dias; 0% para investimentos superiores a 180 dias
Data de lançamento: 03/01/2017
Pergunta mais provocatória: Qual o objetivo que gostariam de ver concretizado em 2018, no trabalho que executam?
Tendo em conta os impactos significativos esperados, da implementação da DMIF II, na estrutura e funcionamento do mercado de capitais português, gostaríamos que a respetiva adaptação constituísse um valor acrescentado para todos agentes intervenientes ao nível do sell-side e do buy-side.
*O prospeto e Informações Fundamentais destinadas aos Investidores encontram-se disponíveis nos locais e meios de comercialização e nos sites www.caixagest.pt.
O investimento no Fundo pode implicar a perda do capital investido, pois não há capital garantido.