Os investimentos da entidade tiveram vários detratores em 2022, mas as ações foram o grande impulsionador das quedas. Posicionamento cambial e alguns investimentos alternativos travaram maiores quedas.
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Como tem acontecido com outros resultados de fundações, também a Fundação Champalimaud não reporta um 2022 benéfico nos seus investimentos. O relatório e contas da entidade, agora conhecido, demonstra que o portefólio de investimentos da fundação sofreu perdas no ano passado. A entidade liderada por Leonor Beleza reporta uma queda de 10,2% na carteira de investimentos da instituição, o que, referem, foi correspondente a uma perda de 49,5 milhões de euros. No final do ano passado, a carteira da fundação cifrava os 368,9 milhões de euros de património sob gestão.
Contextualizando o complicado ano de 2022, a Fundação recorda que "os portefólios diversificados tradicionais passaram por um dos anos mais desafiantes de que há registo, em que tanto ações como obrigações desvalorizaram em conjunto". No caso da entidade, salientam que a perda de 10,2% já referida resultou do facto de "todas as classes de ativos financeiros" terem verificado "performances negativas", com exceção de uma. A componente cambial ficou de fora do radar de quedas, "já que o USD subiu cerca de 6%".
Posicionamento mais defensivo no início de 2022
Apesar deste contexto, a Fundação fez questão de explicar um posicionamento que marcou o início de 2022. No início desse ano assumiram um "posicionamento mais defensivo", em virtude "das necessidades de financiamento do novo Pancreatic Centre". Justificam que esse posicionamento resultou uma menor alocação a ativos de risco, mas também uma redução das linhas de crédito, o que "contribuiu para uma redução das perdas ao longo do ano".
Mantém-se a abordagem passiva
Sem surpresas, a abordagem de investimento da Fundação mantém-se a mesma dos últimos anos. Desse modo, mantêm uma política de investimento "geralmente passiva, com uma alocação top down determinada por tipos de ativos, uma perspetiva de longo prazo e diversificação de investimentos". Oportunisticamente, contudo, salientam que a carteira pode investir "em títulos específicos, escolhidos na perspetiva de reforçar os resultados". Nos últimos anos, um desses exemplos foi conseguido "de forma mais notável através da estratégia de investimento em obrigações AT1 convertíveis de capital contingente (CoCos)".
Outro dos instrumentos a que mantiveram exposição foram os fundos de private equity. Fizeram-no "com o objetivo de reforçar o retorno a longo prazo tanto em termos absolutos como ajustado ao risco".
Ações: o ativo que justificou mais perdas
A carteira de ações foi a que mais perdas causou na performance global da carteira de investimentos da fundação. Segundo o relatório e contas, apresentou uma rendibilidade anual negativa de 27,5%, o que correspondeu a perdas de cerca de 52,6 milhões de euros. "No geral, os gestores ativos da carteira tiveram um desempenho inferior aos respectivos benchmarks, pois muitos tinham investimentos em empresas cujas avaliações foram mais afetadas pelo aumento das taxas de juros", justifica a entidade.
Ainda assim, apesar das perdas, referem que "as estratégias de cobertura por meio de derivados, implementadas para mitigar as quedas de ações, atenuaram as perdas verificadas ao longo do ano".
O segundo impacto negativo teve o protagonismo do rendimento fixo. Com um retorno negativo de 6,9%, causou perdas de cerca de 4,7 milhões de euros. Contudo, a entidade sublinha que "este desempenho negativo superou o desempenho dos mercados globais de rendimento fixo, devido à posição reforçada da carteira em títulos de rendimento ligado a risco de crédito (denominados credit sensitive securities, nomeadamente contingent convertibles e seenior loans)".
Hedge funds e imobiliário: contributo positivo
Os investimentos alternativos, por seu turno, registaram uma rentabilidade negativa de 1%, o referente a sensivelmente 0,8 milhões de euros. Positivamente, a entidade destaca o impulso dado pelo desempenho dos hedge funds, que subiram 0,5%, e o imobiliário, com uma valorização de 10,3%. Por outro lado, os metais preciosos, incluindo ouro e prata, prejudicaram o desempenho do segmento.
Como também já salientado anteriormente, a componente cambial foi fonte de retorno. "Contribuiu positivamente para o desempenho global, devido à valorização do dólar americano, já que a moeda valorizou cerca de 6,0% em relação ao euro", escreve. Desse modo, a Fundação manteve a exposição ao dólar em cerca de 20% do total da carteira durante a maior parte do ano. Além disso, explicam também que "outras moedas que são ineficientes para cobertura (como moedas de mercados emergentes) não foram cobertas".
Apesar do complicado ano de 2022, a Fundação Champalimaud traça algum positivismo para 2023. Adiantam mesmo que até maio deste ano o retorno estimado do portefólio é positivo, "com uma alocação de ativos posicionada para beneficiar das oportunidades do mercado e um valor acima
de 405 milhões de euros".