Cerca de 0% em obrigações: porque é que o Flossbach Von Multiple Opportunities II não tem agora obrigações em carteira

Bert Flossbach Flossbach von Storch
Bert Flossbach. Créditos: Cedida (Flossbach von Storch)

O Flossbach von Storch Multiple Opportunities II é um dos poucos fundos que podem gabar-se de ter o Rating FundsPeople+ 2022. Ou seja, este fundo misto flexível da casa alemã Flossbach von Storch cumpre os três critérios FundsPeople em simultâneo: consistência, ser um dos fundos mais votados pelos selecionadores do sul da Europa, e ser também líder de vendas na mesma região. Estamos perante um fundo que pode mover-se por todo o espetro do mercado, entre todas as principais classes de ativos. E por isso mesmo, é ainda mais notável uma das suas grandes convicções do momento: não tem obrigações em carteira.

Isso mesmo. No Flossbach von Storch Multiple Opportunities II a exposição a obrigações é de 0%, no final de 2021. "O seu perfil de risco-retorno atual não é suficientemente atrativo, na nossa opinião", explica Bert Flossbach, cofundador da Flossbach von Storch. Nessa mesma data, o peso em ações era de 82,06%. A participação em ouro (física/não física) era de 10,07% e a liquidez, 8,61%.

A importância do risco-retorno

Recordemos que um fator determinante para cada decisão de investimento no Flossbach von Storch Multiple Opportunities II é a relação risco-recompensa. O potencial de retorno deve compensar consideravelmente os riscos de perda. É que a estrutura da carteira e, portanto, o perfil de risco-retorno do fundo está alinhado com os cinco pilares do pentagrama da Flossbach von Storch, em particular o princípio da diversificação. E como sustenta o especialista, na sua opinião as obrigações não cumprem com este requisito atualmente.

Mas não utilizar obrigações não implica que se tenha esquecido do princípio da diversificação ou que se tenha aumentado desmesuradamente o risco total do fundo. Dentro da carteira de ações, criou-se um compartimento com ações de empresas muito estáveis e com dividendos sólidos que, de alguma forma, assumem o papel que vinham a desempenhar as obrigações corporativas. Desta maneira, embora o fundo possa ter alguma volatilidade no curtíssimo prazo, melhora-se o perfil de rentabilidade/risco a médio e longo prazo.

Cenário central no Flossbach von Storch Multiple Opportunities

O atual posicionamento é um reflexo da sua filosofia de investimento ativa. A única máxima é que o gestor do fundo possa investir em qualquer classe de investimento que, na sua opinião, pareça atrativa no contexto relevante do mercado de capitais. "O princípio básico para a alocação de ativos é uma visão idiossincrática e independente do mundo que se modela a partir de parâmetros económicos, políticos e demográficos, e que se encontram em constante revisão", explica.

Para 2022, o gestor vê como provável que as discussões em curso sobre possíveis ajustes nas taxas de juro gerem incerteza nos mercados uma e outra vez. Por tanto, não esperam que os principais índices bolsistas subam tão significativamente como subiram em 2021.

"Os mercados financeiros parecem ter chegado a um entendimento sobre o COVID-19 e olharam em frente", analisa Flossbach. Os relatórios de aumento dos números de infeções ou novas mutações já não provocam retrocessos significativos nos preços, apesar de terem um efeito seletivo nos setores ou empresas que são especialmente afetados.

No entanto, o problema mais importante que deteta nos mercados é o aumento significativo da inflação. Isto deve-se principalmente a problemas de fornecimento do lado da produção, que em parte apenas podem corrigir-se mediante a construção de linhas de produção e fábricas adicionais, por exemplo, para semicondutores. "Dado que estes processos de ajuste não se podem gerir da noite para o dia, é provável que a elevada inflação fique por aqui algum tempo", vaticina o especialista. Especialmente porque os fatores inflacionários a longo prazo (os três D: desglobalização, descarbonização e demografia) apontam para esta tendência.

O ponto chave: as taxas de juro

A pergunta que se faz então Flossbach é: como reagirão os bancos centrais se a inflação superar permanentemente a sua meta? "Uma dura política anti-inflacionária com taxas de juro ou yields das obrigações significativamente mais elevadas provocaria graves danos colaterais na economia e nos mercados financeiros", interpreta.

Uma mudança real nas taxas de juro teria que aceitar o regresso a yields reais positivas. Ou seja, um nível de taxa de juro acima da taxa de inflação. "Este era o caso normal no passado, mas hoje é quase inconcebível", sentencia o gestor. Especialmente na Zona Euro, a carga de juros dificilmente seria suportável para os estados altamente endividados. Na sua opinião, nenhum banqueiro central quereria arriscar-se a isso. Portanto, vê como provável que as taxas permaneçam baixas a longo prazo, mais além de alguns ajustes cosméticos. "Porque têm que o fazer", ressalta.

Neste contexto, o seu enfoque continua a estar em ativos reais líquidos de primeira classe. "Sai muito bem que a pressão sobre os bancos centrais para endurecer a sua política monetária continuará a crescer", sublinha. Por isso, vê como provável que as discussões recorrentes sobre este tema gerem incerteza nos mercados.