Os investidores estão a fugir da China. Desde o final de 2020 que as ações chinesas obtiveram maus resultados, e investir nos títulos do dragão está a gerar um certo ceticismo. A crise do setor imobiliário e as tensões comerciais com os EUA são algumas das razões que penalizam as empresas de Pequim. Leslie Griffe de Malval, gestor de Ações Globais na Crédit Mutuel Asset Management, enumera as razões que afastam o investimento da China.
- Desde o final de 2020 que as autoridades chinesas endureceram consideravelmente a normativa em vários setores, penalizando as empresas dos setores digital, educativo e farmacêutico. “Estas leis mais restritivas pesaram sobre alguns títulos e abrandaram o sentimento dos investidores devido à incerteza que estas criaram”;
- “A China demorou mais do que os outros países a recuperar da COVID”, acrescenta o especialista. O efeito da reabertura não foi tão significativo como se esperava, enquanto a confiança dos consumidores na economia chinesa foi abalada e as taxas de desemprego fomentaram mais a poupança do que a despesa;
- O efeito de riqueza entre a população chinesa foi significativamente afetado por uma grave crise imobiliária no país. O governo chinês pretendia estabilizar o que considerava ser um mercado imobiliário excessivamente especulativo. Os preços imobiliários caíram drasticamente e, atualmente, continuam instáveis. Alguns construtores quebraram, enquanto outros se encontram numa situação precária. “O setor imobiliário representa cerca de 30% do PIB, e a sua situação pouco saudável está a ter um grande impacto no crescimento e na confiança dos chineses, visto que o setor imobiliário representa um componente importante da sua riqueza”, explica Griffe de Malval. Por outro lado, o governo chinês, satisfeito com o crescimento em 2023, não vê necessidade em adotar medidas significativas de apoio económico para estimular energeticamente a queda da procura interna.
- As tensões geopolíticas com os EUA, e agora também com a Europa, sobre os direitos aduaneiros, as proibições de compra de determinadas tecnologias (semicondutores) e as restrições aos investimentos americanos na China pesam no sentimento. “As incertezas decorrentes das eleições norte-americanas de novembro levantam dúvidas sobre o tratamento com a China, especialmente no caso de uma possível eleição de Donald Trump, que expressou a sua intenção de aumentar ainda mais as tarifas”, afirma o gestor.
Esta falta de visibilidade dissuade os investidores de ganharem exposição ao mercado chinês, atualmente subponderado por muitos. “No entanto, o mercado continua atrativo graças às atrativas valorizações, às possíveis medidas governamentais a favor do consumidor, aos planos de apoio ao mercado de ações e às oportunidades que empresas de elevada qualidade oferecem, tanto líderes nacionais, como internacionais”, afirma Griffe de Malval.