Chris Bowie (TwentyFour AM): "Não temos preocupações quanto à qualidade de crédito, mas sim no que se refere às valorizações"

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Chris Bowie. Créditos: Cedida (Vontobel AM)

Pode preservar-se o capital investindo em obrigações corporativas com taxas 0%? Chris Bowie, sócio e gestor da TwentyFour AM, defende que sim. Na verdade, esse é o objetivo de um dos fundos desta boutique da Vontobel, o Vontobel Fund - Twenty Four Absolute Return Credit, que conta com Selo FundsPeople 2021 pela sua classificação de Blockbuster. O seu outro objetivo é duplo: conseguir uma rentabilidade de Euribor mais 250 pontos base uma vez descontadas as comissões e sem superar os 3% de volatilidade.

Objetivos que podem ser simples em contextos normais de mercado, mas não tanto assim se se tiver em conta que grande parte das obrigações negoceiam já com yields negativas, e que a volatilidade está na ordem do dia no mercado de obrigações. "O maior risco neste momento é ficar abaixo da curva e, por isso, temos a duração mais baixa que podemos ter", afirma Bowie. De facto, considera que o elevado risco global de inflação não impedirá que vejamos este ano as primeiras subidas de taxas, como o confirmou o Bank of England que subiu recentemente as taxas de juro. A Fed será a seguinte, como anunciou Christine Lagarde prometendo três subidas de taxas em 2022, mas ainda resta tempo para ver um pico de inflação nos EUA. "Não creio que se tenha chegado ao pico, é possível que se alcance o nível de 7% a curto prazo para que depois se estabilize em torno dos 3% durante os próximos cinco anos".

Valorizações ajustadas; risco de crédito controlado

Não teme, portanto, um descarrilamento da economia num contexto de normalização monetária, embora muito progressiva. E de facto não se mostra preocupado com as taxas de incumprimento do mercado corporativo nem com o risco de crédito, embora defenda que as valorizações estão cada vez mais ajustadas, o que obriga a ser cada vez mais seletivo. "O maior risco para a carteira continua a ser o risco de taxas de juro. Do ponto de vista dos fundamentais não temos preocupações quanto à qualidade de crédito, mas sim quanto às valorizações", afirma. Na verdade, reconhece que o aumento da incerteza que se tem visto no mercado levou-o a elevar o peso em dívida governamental como medida de proteção, assim como a reduzir a duração da sua carteira até ao ponto em que 27% da mesma esteja em emissões com um vencimento inferior aos 12 meses.

O potencial do setor financeiro

Em todo o caso, pelo facto de o contexto ser complicado, não significa que não se possam encontrar oportunidades que, para além disso, contem com esse viés ESG que também aplica o fundo - está classificado como artigo 8 segundo a SFDR. Bowie mostra nesse sentido uma preferência por mercados como o britânico - destina mais de 50% da sua carteira -e pelo setor financeiro, sobretudo pelas seguradoras, que representam cerca de 24% da carteira (os bancos são os outros 21%). Ao mesmo tempo defende a idoneidade dos ABS europeus, tanto pela sua elevada yield, como pela baixa duração e porque "em caso de elevada inflação em subida protegem, embora gostemos das emissões mais seguras e só compremos ativos apoiados pelas hipotecas", afirma.

Elevada diversificação

Uma particularidade deste fundo é que apresenta menos nomes em carteira do que os seus outros concorrentes. Concretamente, apenas investe em 100 títulos, o que limita o seu potencial quanto a ativos sob gestão, diz, e os obriga a cifrar um máximo de património, ainda longe dos 3.600 milhões de euros que gerem. Face a essa maior concentração prestam muita atenção à diversificação da carteira, de tal forma que, às vezes, optam por ter em carteira setores ou ativos apenas para conseguir a maior diversificação possível, com o menor risco.

Como selecionam esta centena de eleitos? "Olhamos para a volatilidade da obrigação e comparamo-la com a rentabilidade que oferece o cupão. Se nos parece bem optamos por conhecer a empresa e aplicamos um perfil ESG", explica Bowie.

Outra curiosidade é que embora se trate de um fundo global não investe em mercados emergentes, já que é algo incompatível com o seu objetivo de manter a volatilidade em níveis inferiores a 3%, como também não assume posições curtas, alavancagem, ou investe em dívida high yield de menor qualidade.