Cinco lições da economia moderna para enfrentar os problemas atuais

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No enquadramento da Conferência Europeia de Investimento do CFA Institute, a economista prémio Nobel da Economia, Esther Duflo, analisou as crises atuais de um ponto de vista económico e assinalou a desconfiança que a sociedade mostra face a organismos económicos e governamentais como o ponto de partida no qual trabalhar para enfrentar e superar os problemas atuais. A sua argumentação baseia-se no facto de a sociedade não estar de acordo com a economia na maioria das questões fundamentais, não porque não entende o porquê de certas medidas, mas pelo descrédito dos poderes económicos e políticos. Uma das causas que apontou Duflo foi que os economistas tradicionais não se centraram no que realmente importa para a sociedade. Neste contexto, Esther Duflo expôs cinco lições que a economia moderna assinalava como o caminho para trabalhar num maior entendimento entre ambos os estratos: economia e sociedade.

Primeira lição: a legitimidade dos governos

Duflo explica que atualmente tende-se a usar os governos como “o saco de box no qual centrar todas as frustrações”. Nos últimos anos consideraram-se os governos não como parte da solução, mas como parte do problema. Neste sentido, a economista argumenta que apesar dos governos atuais também sofrerem de ineficiência e corrupção, são estes os que atuam quando os problemas ultrapassam o terreno económico. Dá como exemplo a crise ocasionada pela COVID-19, a constante perda de confiança nos governos levou a uma importante polarização na sociedade. Duflo aponta que estamos num momento decisivo no qual a gestão da crise da COVID-19 pode servir de empurrão para aumentar a legitimidade dos governos.

Segunda lição: os incentivos financeiros estão sobrevalorizados

Neste ponto a especialista demonstra o mito de que um rendimento garantido demasiado generoso poderá servir de travão na procura de trabalho. Segundo alguns dos ensaios que realizou em países desenvolvidos, a criação de um rendimento mínimo, não reduzia a quantidade de gente que continuava a procurar ativamente trabalho. Duflo reafirma que o bem-estar e preguiça não estão relacionados.

Terceira lição: a economia está muito mais enraizada do que se acredita

Os economistas tradicionais trabalham sob a premissa de que as pessoas vão para onde existir trabalho. Não obstante, Duflo explica que atualmente esta tese é muito menos certa do que costumava ser. Tal como se observa no gráfico, menciona algumas regiões dos EUA em que se observa uma profunda pobreza porque as pessoas não optam por se mudar quando perdem o trabalho, o que acarreta uma redução de rendimentos nessas regiões.

Fonte: U.S. Census Bureau Data; Population survey 1948; 2016

Quarta lição: a dignidade importa

Duflo alude que a perda de trabalho é muito mais do que a perda de uma fonte de rendimentos. Segundo a sua teoria, também se está a perder o sentido de valor. O sentido de que o trabalho que desempenha é apreciado e faz um bem na sociedade.

Quinta lição: a responsabilidade social corporativa

Neste sentido, a especialista vem dizer que é preciso dar o exemplo a partir do mundo empresarial. Do ponto de vista fiscal, as empresas devem pagar os impostos e não devem tentar fugir deles ao registarem-se em paraísos fiscais. É uma mostra de respeito perante a sociedade e o governo. Também refere a importância que têm as empresas na luta contra as mudanças climáticas. Uma crise que já estava a decorrer antes da pandemia e que continuará quando terminar a COVID-19. Para Duflo é uma questão vital que devem abordar a partir do mundo empresarial.