Com o verão à porta o que se pode esperar dos próximos meses?

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Bahman Farzad, Flickr, Creative Commons

Avizinha-se atualmente o período que vai desde maio até outubro e no qual a velha máxima norte-americana do “Sell in may and go away” se baseia. Com esta “época” à porta, a Funds People foi saber junto dos profissionais nacionais quais os focos de volatilidade que se podem esperar e como se deverão posicionar os investidores durante aquela que é considerada a “época baixa” dos mercados. Aos gestores perguntámos também: “no mercado português, além de ajustamentos nas carteiras como sentem os ânimos a nível institucional/corporativo depois da confirmada saída limpa?”.

Catarina Quaresma Ferreira, da BPI Gestão de Activos, começa por se focar no caso nacional e refere que “no início deste mês, o governo português anunciou oficialmente a saída do programa de assistência financeira sem recurso a plano cautelar. Esta opção já vinha a ser antecipada pelo mercado, nomeadamente através da descida das yields e valorização das acções portuguesas”. A profissional acrescenta que o “facto do país ter o seu financiamento assegurado durante o prazo de 1 ano, bem como a expectativa de continuação de retoma económica permitem manter uma perspectiva optimista sobre a evolução do mercado acionista português”. Em conclusão a gestora adianta que “ainda assim, o mercado não estará imune no caso de surgirem perturbações a nível geopolítico que condicionem a evolução das principais economias mundiais”.

Da ESAF, João Pina Pereira começa por explicar que “é característica própria dos mercados financeiros o facto de se moverem com subidas e descidas, refletindo desta forma as diferentes visões dos vários participantes do mercado, bem como os diferentes horizontes temporais (por exemplo os hedge funds são mais focados no curto prazo, enquanto que os fundos de pensões são investidores de mais longo prazo...)”. O especialista indica que “situações como aquelas que ocorreram em 2013, de subida praticamente ininterrupta dos mercados, com o breve intervalo do mês de Junho, são raras. O normal é ao longo do ano termos uma mistura de meses de subida, com meses de descida dos preços”. Assim “dado o aceitável início do ano e tendo em atenção eventuais condicionantes desta evolução, de que pode ser exemplo a situação entre Rússia e Ucrânia, alguma prudência por parte dos investidores pode fazer sentido”.

Mais concretamente em relação à Europa Periférica, João Pina Pereira, indica que “se olharmos por exemplo para a Europa periférica, o movimento de subida foi muito forte e rápido neste início do ano, pelo que existe espaço para eventuais correções”. Contudo “deve ser referido que  não subscrevemos - de forma alguma -a ideia de existência de uma "bolha" nestes mercados. Estes mercados continuam a ter valor, ainda que menos do que tinham no início do ano”.

Também debruçando-se sobre o caso português é referido que “o movimento foi especialmente acentuado, especialmente no que diz respeito aos títulos de divida pública. Se nos parece haver motivos para uma pausa ou até uma eventual correcção no preço dos títulos portugueses, um "regresso ao passado" de há 1 ano atrás parece-nos completamente fora de questão. Eventuais quedas deverão ser aproveitadas como pontos de entrada/reforço de posições".

André Braz, da equipa de gestão discricionária de carteiras do Santander Asset Management, começa o seu comentário lembrando um período específico do mercado norte-americano. “Um dado estatístico que passou despercebido por grande parte do mercado e, poderá ter um impacto decisivo em 2014 nos mercados bolsistas norte-americanos, é o facto de a performance no mês de Janeiro ter encerrado em terreno negativo. Desde 1932, registaram-se 14 observações de meses de Janeiro negativos e, apenas por uma vez (1982), o mercado conseguiu quebrar a tendência bearish no decorrer do ano”. Para o profissional “existem, assim, razões para que a sazonalidade de quebras bolsistas a partir de Maio se voltem a repetir em 2014. No entanto, os mercados mundiais permanecem sustentados e, nas últimas semanas, começam a dar sinais de alguma exuberância, com o nível de takeovers e IPOs a disparar em termos de volumes. A actividade corporativa poderá, desta forma, sustentar os índices no decorrer dos meses de verão”.

Passando em revista regiões geográficas, é assinalado que “as reduzidas expectativas do consenso de mercado em relação ao desempenho macroeconómico Zona Euro continuam a beneficiar as praças europeias com fluxos financeiros positivos a registarem-se há vários meses”. Na área do fixed income “o estreitamento de spreads da dívida periférica deverá permanecer até ao fim do ano. A busca por yield, num ambiente de liquidez abundante, suporta esta tendência e, de alguma forma, é responsável pela força que o euro tem apresentado face ao dólar norte-americano, contra a visão geral do mercado que o oposto se iria verificar”, conclui.