Como a transição energética afetará os setores que atravessam mudanças mais profundas?

Veiculo eletrico ev sustentabilidade transporte
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A transição para um mundo com zero emissões líquidas terá um impacto enorme, ainda que desigual, nos distintos setores económicos. Nesta contexto perguntaram a um grupo de analistas da J.P. Morgan Asset Management como acreditam que esta transição afetará os setores que atravessam as mudanças mais profundas: automação, energia, infraestruturas, logística, imobiliário e industrial. Estas foram parte das suas respostas:

Automação

O turismo e os veículos comerciais ligeiros representam mais de um terço das emissões relacionadas com o transporte, o que explica o forte interesse que existe em reduzir as emissões destes veículos e adotar o veículo elétrico, o que implicará uma das transformações de maior relevo na história do setor. Na União Europeia, o desejo de alcançar o objetivo de zero emissões líquidas pode levar a um maior endurecimento dos já rigorosos objetivos de emissões dos veículos fixados para 2030. Esta enorme transição não só está a criar riscos e contratempos importantes para a indústria da automação, mas também oportunidades para as empresas dominantes que podem criar modelos de negócio mais sustentáveis mediante a adoção antecipada de princípios climáticos de emissões, pondo em marcha agora as dispendiosas transformações de negócio.

Energia

A descarbonização e eletrificação da energia apresenta enormes oportunidades e riscos para as empresas energéticas tradicionais. Prognosticar a rentabilidade que geram os ativos de combustíveis fósseis de mínimas emissões e mínimo custo continua a ser essencial quando se investe no setor energético. As posições nas grandes empresas energéticas também podem ser reforçadas ao mesmo tempo que se aproveitam as mudanças nas condutas do consumo. Por exemplo, os pontos de venda a retalho destas empresas terão a oportunidades de oferecer aos clientes com veículos elétricos instalações de recarga, além de ampliar as suas mercadorias em lojas de bairro para atender à maior procura por maior mobilidade. As novas ofertas de produtos, como os compensadores de biocombustíveis, hidrogénio e carbono, com tempo podem trazer benefícios.

Infraestruturas

A transição energética para zero emissões está há muitos anos na mira do setor das infraestruturas privadas, devido aos efeitos diretos reais e potencial sobre o mix de riscos e oportunidades inerentes ao setor. Este interesse foi reforçado com a crise da COVID-19 já que muitos governos se comprometeram a injetar estímulos amigos do ambiente. Facilitar a transição energética continuará a oferecer uma ampla variedade de oportunidades de investimento.

As empresas de abastecimento vão dedicar ainda mais gastos às infraestruturas ecológicas à medida que continuam o processo de substituir os tradicionais combustíveis fósseis por fontes de energias renováveis. Não obstante, devido às intermitências nas renováveis, isto provavelmente vai ser completado com uma geração de gás natural menos intensiva em carbono e não intermitente e, em certa medida, com novas tecnologias de baterias conforme baixam os custos. Também vão surgir os investimentos complementares que sejam precisos em transmissão de eletricidade e redes elétricas públicas, já que as renováveis costumam estar localizadas longe dos centros urbanos.

Logística

O setor dos transportes é responsável por 16,2% das emissões de gases de efeito estufa globais, principalmente o transporte rodoviário, que causa 11,9% em emissões, do qual 40% procede de veículos de mercadorias. Com a aviação e o transporte marítimo a representar apenas 1,9% e 1,7%, respetivamente, o ônus da redução das emissões deve ser mais suportado pelos operadores logísticos que gerem densas redes rodoviárias.

Propriedade imobiliária

Reduzir a dependência do carbono, ter sistemas mais eficientes e reduzir o uso de energia sempre que possível reduz os custos operacionais da exploração imóvel, com a consequente melhoria do desempenho e da rentabilidade. As reduções de carbono também são importantes, pois podem aumentar a atratividade do imóvel aos olhos dos inquilinos ​​da atualidade, proporcionando uma vantagem competitiva que pode justificar aumentos nos preços do arrendamento. A conclusão lógica da competição para atrair inquilinos é obter emissões líquidas zero. No entanto, para alcançar as reduções de carbono necessárias, os proprietários devem realizar investimentos em ativos fixos potencialmente elevados.

Matérias-primas e indústrias

As entidades que operam exclusivamente com energia renovável costumam ser raras e os nomes mais óbvios costumam ser caros. Ainda assim, embora as energias renováveis ​​provavelmente continuem a desfrutar de prémios sólidos devido à sua escassez e às suas credenciais ESG, acreditamos que existem muitas outras maneiras de investir nesta área. Estas empresas vão desde produtores de equipamentos renováveis ​​e fornecedores de redes elétricas, até empresas que possuem tecnologias aplicadas à recolha, armazenamento, produção e transporte de carbono. Fazem parte desse grupo também empresas que se dedicam ao aproveitamento do hidrogénio, como algumas empresas de engenharia e produtoras de células de combustível, além das que possuem tecnologias para descarbonizar indústrias pesadas como, por exemplo, amoníaco para carvão e plantas de hidrogénio para a produção de aço e cimento.