Como detetar oportunidades de investimento em dívida emergente: o método do risco de buraco negro 

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Créditos: Héctor J. Rivas (Unsplash)

Tal como os observadores de estrelas, os investidores podem beneficiar de olhar através de uma variedade de lentes para formar uma imagem global. As três lentes tipicamente utilizadas para avaliar os investimentos são as valuations, os fatores técnicos e as características fundamentais, e a relação entre as três pode variar ao longo de um ciclo de mercado. Nos mercados emergentes, as valuations - que comparam o valor de um ativo relativamente a títulos semelhantes, comportamento histórico e expetativas futuras - hoje em dia parecem atrativas, após as perdas sofridas pelos mercados financeiros no início do ano.

Os OAS (Option-Adjusted Spreads) dos mercados emergentes situaram-se recentemente no percentil 98 dos níveis observados nos últimos 20 anos, de acordo com os dados do índice global EMBI da J.P. Morgan de 29 de julho de 2022. No entanto, os mercados emergentes continuam suscetíveis aos fatores técnicos, que incluem a dinâmica comercial de um mercado e as mudanças no sentimento dos investidores. Este ano, de acordo com a Emerging Portfolio Fund Research, registaram-se as piores saídas de fundos dos mercados emergentes de que se tem conhecimento, e estes continuam vulneráveis, à medida que a Reserva Federal dos EUA e outros bancos centrais aumentam as taxas de juro numa tentativa de combater a inflação sem induzir numa recessão.

Localização de distorções gravitacionais

O processo de investimento da PIMCO baseia-se nas perspetivas macroeconómicas da empresa e na sua análise interna sobre países e créditos. Para orientar ainda mais esse processo, a gestora desenvolveu um sistema de risco de buraco negro que pretende identificar e evitar situações extremas, específicas de cada país, onde a primeira queda dos preços pode não sinalizar uma oportunidade de compra, mas sim uma porta de entrada a novas descidas, criando uma espiral gravitacional que não oferece nenhuma escapatória aos investidores.

Uma abordagem cuidadosa à seleção de países e valores pode ajudar a antecipar perturbações como a descida da notação de crédito, a agitação política, mudanças de políticas, a imposição de controlos de capitais ou o incumprimento da dívida soberana. O nosso enquadramento de risco tem em conta fatores como a inflação, o PIB, os níveis da dívida e do déficit, as reservas de divisas, os riscos do setor empresarial e bancário e a disponibilidade de financiamento externo”, explicam Pramol Dhawan, diretor de Mercados Emergentes, e Lupin Rahman, diretor de Crédito Soberano de Mercados Emergentes na PIMCO. 

Também integra fatores qualitativos, como a política, os cenários eleitorais, as exigências sociais e outras fontes de risco latente, tais como o desajuste cambial, os passivos contingentes soberanos implícitos e a geopolítica. “Isto cria um painel de avaliações com indicadores de alerta antecipado do risco de crédito soberano relacionado com o peso da dívida, a liquidez, os desequilíbrios financeiros e as variáveis qualitativas que podem potencialmente desencadear reestruturações de obrigações ou desvalorizações monetárias”, explicam.

O painel de avaliações, hoje

Se observarmos esse painel de avaliações hoje, a boa notícia é que os fundamentais dos mercados emergentes parecem geralmente sólidos, mas esses fundamentais podem deteriorar-se alguns países selecionados. “Menos de 9% da dívida do índice mundial J.P. Morgan EMBI por capitalização de mercado negoceia com spreads que indicam níveis de dificuldade elevados”, revelam.

Segundo explicam, a identificação dos segmentos de maior risco do índice pode ajudar os investidores a tomar decisões mais prudentes e defensivas, como não procurar o rendimento assumindo um risco de crédito adicional num determinado país. “O nosso enquadramento pretende detetar os países com risco elevado para designá-los e tratá-los cuidadosamente com antecedência; por exemplo, o Sri Lanka em 2020, muito antes de o país ter faltado ao pagamento da dívida dois anos depois”.

Quanto aos mercados fronteira de menor qualidade, podem parecer oferecer um grande valor. Mas deixam o aviso: os investidores devem atuar com cautela dado o grau de risco envolvido. “Historicamente, segundo a Moody’s, os níveis mais baixos das notações de crédito dos mercados emergentes registaram taxas de incumprimento mais elevadas (12,2%) que as obrigações corporativas de mercados desenvolvidos com notações similares (9,3%). Da mesma forma, os níveis de classificação mais baixos da dívida dos mercados emergentes estiveram sujeitos a reduções periódicas mais acentuadas do que a dívida corporativa dos Estados Unidos”, sublinham.

Máximo drawdown mensal por notação de crédito nos últimos 10 anos

Para ambos os especialistas, é muitas vezes prudente evitar a tentação de se ser demasiado otimista com determinado país, uma vez que o contexto técnico geral dos mercados emergentes pode, por vezes, prevalecer sobre os fundamentais. “Centrar-se na mitigação do risco da descida pode ajudar a suavizar o caminho do que pode ser uma classe de ativos volátil. Embora as avaliações dos mercados emergentes se tenham tornado mais atrativas, especialmente no caso de alguns emissores de menor qualidade, preferimos esperar que as atuais dificuldades globais se tornem mais claras antes de tomarmos uma postura mais positiva", concluem.