A gestora espanhola encontra-se num momento chave de gestão de liquidez perante os resgates registados. Conheça a estratégia adoptada.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
Em apenas sete dias, os fundos da Bestinver com alguma componente de ações em carteira sofreram resgates no valor de 1.321 milhões de euros (esta soma não inclui as entradas do Bestinver Renta por tratar-se de um produto exclusivo de obrigações).
Como é que uma gestora pode fazer frente a este forte fluxo de resgates em pouco mais de uma semana, mantendo intacta a sua liquidez? A questão parece ser ainda mais difícil de responder quando falamos de uma entidade que se caracterizou nas duas últimas décadas por ter uma percentagem significativa do capital de pequenas e médias e empresas.
Mensagem de tranquilidade
Olhando para as informações que a gestora tem enviado aos seus clientes nas últimas duas semanas, onde se destaca que mantiveram inclusive uma melhoria da liquidez nas suas carteiras, parece que jogaram a quadratura do círculo. A mensagem que o Bestinver está a transmitir aos investidores é de tranquilidade. Fontes próximas da entidade apontam que a todo o momento, e apesar dos resgates, as percentagens de liquidez nas carteiras dos seus fundos sofreram poucas variações. Na verdade, nos fundos mais conhecidos da entidade espanhola (Bestinver Bolsa, Bestinfond e Bestinver Internacional) a liquidez chegou mesmo a crescer entre um e dois pontos percentuais, comparativamente com a segunda-feira passada antes de se conhecer a saída de Paramés.
Relativamente à queda no valor líquido que experimentaram os seus principais fundos, da Bestinver explicam que se deve principalmente à evolução de certas posições, como é o caso da Tesco ou Hyundai, com quedas significativas na negociação dos últimos dias. Denote-se que em nenhum caso atribuem o problemas à venda de posições pouco líquidas para fazer faceaos resgates.
O legado de Paramés
Como têm então conseguido fazer frente aos resgates de mais de 1.300 milhões de euros sem castigar a liquidez das suas carteiras nem vender a preço de saldo as participações menos líquidas? Para responder a esta pergunta há que olhar para o legado de Francisco Garcia Paramés. Nas diferentes entrevistas que Paramés concedeu à Funds People Espanha o gestor sempre reconheceu que incluía em carteira títulos que negociavam com uma liquidez limitada.
Garcia Paramés pensava em tudo. Neste sentido, destacava os contactos que tinha com grandes investidores institucionais e com as próprias empresas, para comprarem apercentagem de ações da companhia, caso a gestora viesse a necessitar de realizar um elevado volume de resgates. No primeiro caso, há grandes investidores institucionais com interesse em entrar nas empresas em carteira do Bestinver. No segundo caso, as próprias empresas podem estar interessadas em comprar essa percentagem de capital da empresa, de forma a protegerem a negociação em bolsa.
Compras para a auto-carteira
Nos últimos dias assistiu-se a algumas empresas presentes na carteira dos produtos do Bestinver que acabaram por comprar uma percentagem de ações da empresa. Desta forma, já são duas as cotadas que perante eventos significativos na Comissão Nacional de Mercado de Valores (CNMV), anunciaram uma aquisição derivativa de ações para a autocarteira. Isto consiste numa compra de uma percentagem de ações em posições que a Bestinver tinha nestas empresas. São elas a Miquel y Costas e a Iberpapel Gestión.
Estas operações dotam a gestora do grupo Acciona de uma maior liquidez para fazer frente ao elevado volume de resgates sofrido na última semana e meia, consequência da saída do seu ex-diretor de investimentos, Francisco García Paramés.
A primeira das empresas a dar conta dessa vontade foi a Miquel y Costes, assinalando que tinha adquirido do Grupo Bestinver 400.000 ações próprias, que representavam 3,21% do capital social, a um preço unitário de 25,00 euros, pelo procedimento de “operação em bloco”. De acordo com o facto relevante, a finalidade da referida operação é “aumentar a auto-carteira, por representar uma oportunidade excecional para a aquisição de uma quantidade relevante de ações”.
No caso da Iberpapel Gestión, a empresa indicava que iria comprar para a auto-carteira até 562.367 de ações, o que representa 5% do capital social. Neste momento apontavam que o preço da aquisição das ditas ações tinha sido de 12,11 euros por ação, “preço inferior à posição de venda mais baixa no mercado nesse momento que era de 12,20 euros por ação”.