A gestora francesa afirmou-se no mercado com o seu marcado estilo growth de qualidade e, apesar da underperformance nos últimos meses, mantém-se fiel à sua abordagem de investimento.
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Está a ser um ano complicado para os fundos growth. Estratégias como o Comgest Growth Europe, que durante anos se destacaram pela consistência dos seus retornos, em 2024 estão a ficar atrasados face ao índice. No caso particular deste fundo com Rating FundsPeople+, a mais alta distinção atribuída pela equipa de Análise da FundsPeople, a underperformance no ano ascende a 600 pontos base.
Durante um evento com clientes na Península Ibérica, a resposta de James Hanford, gestor do fundo, foi muito transparente: foram penalizados pela falta de exposição a zonas mais cíclicas do mercado. “Metade da underperformance face ao Eurstoxx é explicada pela ausência de bancos em carteira”, explica. Mas a verdade é que o fundo nunca investiu no setor financeiro, nem tem planos de o fazer no curto prazo. “Na Comgest priorizamos a visibilidade e clareza dos lucros empresariais, bem como a qualidade dos negócios e não sentimos que possamos encontrar essas prioridades no setor bancário”, afirma.
Período de digestão
Além disso, o gestor recorda que o fundo, em particular, está a sair de três anos excelentes. Em 2021, o crescimento dos lucros em carteira foi de 25%, em 2022, de 23% e em 2023, de 11%. “São três anos seguidos de crescimento de dois dígitos. A longo prazo é o que procuramos, mas a curto prazo o mercado necessitava de um período de digestão, como é natural depois de períodos tão fortes”, afirma James Hanford.
A tendência para cíclicos e value não é o único vento contrário com que o profissional se deparou na gestão de ações europeias em 2024. A China foi outro fator de volatilidade. Como reconhece o gestor, várias grandes empresas europeias alertaram para a debilidade do consumidor chinês este ano. No entanto, não é um elemento que preocupe a equipa gestora, uma vez que apenas 8% dos lucros das empresas em carteira procedem da China. “E é fruto de uma decisão consciente que tomámos há anos, de reduzir a exposição à China e aumentar a países desenvolvidos. Salvo exceções como a L’Oreal ou a Hermes, não há praticamente dependência do mercado chinês na declaração de resultados”, explica.
Como estão a ajustar as velas
Esta prioridade aos negócios de qualidade também está presente em todos os outros fundos da gestora francesa. “Uma tentação pode ser correr atrás das empresas que estão a crescer mais, essas estrelas cadentes, mas não é o nosso estilo. Preferimos ser a tartaruga da fábula”, afirma Justin Streeter. É uma história que o gestor Comgest Growth America, fundo com Rating FundsPeople 2024, usa acertadamente para falar da sua trajetória em ações norte-americanas. Na sua experiência, a paciência e a confiança na tese têm sido recompensadas em troca de uma resistência que parece mais aborrecida no curto prazo.
Nos últimos anos, aconteceu com a Microsoft, a Visa e a Oracle. Nos três casos, houve um período no mercado em que parecia que a sua concorrência ia levar a melhor. Aconteceu com a Zoom, Paypal e Block, e Salesforce, respetivamente, que durante a pandemia se saíram muito melhor do que as três primeiras. Mas, como o tempo demonstrou que foi só um pico. “Preferimos continuar a apostar na visibilidade e qualidade em vez da volatilidade que os resultados da moda podem trazer”, afirma Justin Streeter.
Um grande exemplo dessa visibilidade nas contas é a Costco, uma das posições relevantes do fundo. “70% dos seus lucros vêm das quotas que os seus sócios pagam para fazerem compras lá. Isso significa que, apesar de ser uma loja de alimentação, não estão à mercê da inflação do seu produto”, explica o gestor.
Growth no Japão? É posível
Richard Kaye, gestor do Comgest Growth Japan, também se mostra otimista quanto ao seu estilo de investimento. Também foram dois anos difíceis para a estratégia e, apesar do mercado japonês ter tido um período de subida, o fundo conseguiu superar o seu índice ao encontrar joias de crescimento no mercado japonês. “Agora os investidores concentram-se noutras partes”, lamenta. De facto, o fundo encontra-se no PER relativo ao crescimento mais baixo dos 16 anos de track record. “As pessoas esqueceram-se do que, para mim, é a parte mais emocionante do Japão”, afirma.
Porque sim, Richard Kaye acredita firmemente que se pode ser um investidor growth no Japão. Tal como acontece com o fundo de ações europeias, o Japão não é realmente relevante para o seu fundo de ações japonesas. “Investimos em empresas japonesas, não no Japão”, afirma. Para o gestor, o mercado abre a porta a zonas de elevado crescimento, como a Ásia. É também onde se encontram os vencedores globais, como a Keyence.