Como o futuro das finanças será determinado pelos avanços tecnológicos?

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Remko van Dokkum, Flickr, Creative Commons

As Fintech e o blockchain têm sido dos temas dos quais mais se fala este ano pela sua capacidade disruptiva sobre a indústria de gestão de ativos. Mas não são os únicos avanços tecnológicos que podem modelar o futuro da indústria financeira. Especialistas da Goldman Sachs AM, Blackrock e Robeco partilham os seus pontos de vista sobre o impacto do big data, assessoria digital e ciber segurança sobre as finanças.

Big Data

A informação nunca foi classificada, partilhada e acedida em tal quantidade e com tamanha rapidez na história como está a ser em 2016. “Os investidores podem aceder a uma enorme quantidade de informação sobre cada empresa que tenha publicado as suas contas, informação que pode influir potencialmente sobre as captações e outras oportunidades de investimento”, comentam os especialistas da Goldman Sachs AM.

Mas é claro, “há limitações sobre os dados aos quais cada individuo pode aceder, o que torna o poder da computação mais essencial do que nunca”, esclarecem. O propósito do big data, então, consiste na geração de “instrumentos avançados de análise e tecnologia superior de processamento que são chave para extrair valor e processar pontos de vista sobre o investimento, a partir dessa abundância de informação”.

De facto, a gestora desenvolveu um sofisticado programa de processamento de dados em princípios não relacionados com fundamentais para encontrar antes do mercado novas ideias de investimento. Este programa é parte do modelo quantitativo que aplica a equipa de gestão da gama GS Core Equity.

“Os dados por si só têm pouco valor, a não ser que possam levar a uma ação rápida e informada. Os utilizadores de dados também devem exercitar o seu juízo e uma vigilância cuidadosa, dado que depender cegamente da análise de dados pode ser perigoso”, advertem os especialistas. O seu ponto de vista é que “a utilização efetiva de dados requer uma administração cuidadosa por parte dos gestores, dado que emparelhar as percepções humanas com a tecnologia produz os melhores resultados”.

Para os especialistas da Goldman Sachs AM, reconhecer o quanto antes o potencial do Big Data para modelar a economia é crítico, posto que “aqueles que possam empregar o poder do big data podem desfrutar de uma vantagem competitiva”. Apresentam exemplos de grandes mudanças em algumas indústrias. Uma das mais evidentes é a indústria das agências online de viagens: hoje podem-se encontrar números motores de busca que detetam rapidamente as melhores ofertas para reservar alojamento. Outro caso atual é o de vendas a retalho: numerosas empresas criaram programas para fidelizar os seus clientes e aproveitam os seus dados para criar modelos que  lhes permitam segmentar melhor os consumidores, fixar preços e desenhar novas oferta.

Ciber segurança

O risco cibernético é agora tão sério que é algo que os comités devem abordar diretamente como parte da sua análise de risco corporativo. No passado, o risco cibernético era uma problema que era tratado por algum departamento de quarto piso, mas isso já não é aceitável”, adverte Carola Van Lamoen, responsável de bom governo e ativismo na Robeco.

Para Van Lamoen, os comités administrativos “têm uma margem significativa para melhoria”, poque o risco cibernétivo cresceu e expandiu-se, principalmente em duas áreas: o risco de ser hackeado, com os ciber deliquentes a mostrarem-se mais profissionais, e o risco de uma implementação errada do software. Um caso recente e muito emblemático tem sido o roubo de 81 milhões de dólares do Banco Central do Bangladesh, levado a cabo por hackers que conseguiram piratear a conta que o banco central tinha na Reserva Federal de Nova York.

A responsável da Robeco também adverte para a existência do perigo de que as empresas cujas contas tenham sido pirateadas mantenham o sucedido em silêncio, o que representa um dano para os acionistas: “Obviamente, como investidores é bom saber, em primeiro lugar, como uma empresa enfrenta os ciber delitos. Necessitam ser transparentes sobre quem é o responsável último, como se identificam os ciber riscos e que sistemas mantêm para prevenir os incidentes e, finalmente, se se produzir algum, como o vão solucionar”.

Uma forma bastante habitual de um vírus penetrar a rede de uma empresa é através de algum link ao qual tenha acedido algum empregado no horário de trabalho através do seu mail pessoal, sem saber que continha um malware suficientemente sofisticado para atravessar as firewalls da empresa. “Deve-se criar uma cultura em que as pessoas não estejam preocupadas em informar se há um problema, porque de outra forma pode danificar a empresa”, comenta Van Lamoen.

“É importante que se integre a supervisão dos ciber risco nas estratégia e gestão do risco da empresa, particularmente em relação com a identificação dos dados chave da empresa e os ativos informáticos”, conclui a especialista.

Assessoria digital

Hollie Fagan, responsável da divisão de assessores  registados da Blackrock, resume uma conversa recente sobre o futuro da profissão com Joe Duran, CEO da United Capital. Segundo Duran, esse futuro é “digital e móvel”, dado que “a morada está  a tornar-se cada vez menos importante a cada dia”. O especialista esclarece que o futuro da assessoria “se tornará móvel, colaborativo e disponível 24/7. Não somente será emitido o aconselhamento através do smartphone, mas também o processo será mais interativo e participativo, proporcionando aos indivíduos mais controlo que nunca”.

Segundo Duran, no futuro do processo de assessoria este “será muito mais dinâmico e interativo”, onde os assessores “estarão nos bolsos dos clientes, nos seus telemóveis e prontos para responder a todas as suas perguntas, todos os dias e durante todo o dia”.

Para o especialista, no que se refere à assessoria “por vezes não se trata do produto, mas sim da forma como se entrega esse produto”. Duran afirma que “para a indústria da gestão de ativos, algumas empresas estão demasiado presas a fazer as coisas da forma que se fazia no passado  - reuniões aborrecidas em salas de conferência – mas isso não é o que os clientes querem hoje”.