Como obter exposição a megatendências de longo prazo no Japão através de um investimento bottom up em small caps

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O argumento a favor do maior potencial de crescimento das small caps japonesas face às grandes capitalizações ficou em suspenso: hoje as valorizações em ambos os segmentos são semelhantes. “Temos uma situação onde ambas apresentam valorizações similares; mesmo as grandes capitalizações estão ligeiramente mais baratas e os lucros são mais ou menos os mesmos”, explica Tony Glover, responsável do departamento da gestão de ativos da BNP Paribas AM no Japão. Este acrescenta que “desde o início do ano, as small caps têm superado ligeiramente as big caps em rentabilidade e surpreender-me-ia que num curto prazo se revertesse a tendência”.

É esta situação, por si só, negativa? O especialista recorda que, se se mantiverem as valorizações atuais, “a única maneira em que a cotação da ação pode aumentar é mediante o crescimento dos lucros corporativos”. Neste sentido, Glover acredita que tanto as grandes como as pequenas capitalizações vão apresentar uma tendência de crescimento de lucros semelhantes neste ano fiscal e no seguinte. A conclusão principal sobre a que incide o especialista e a mensagem que transmite aos seus clientes, é que “ao longo do tempo as small caps têm batido sempre a média do mercado, tanto no médio prazo como no longo prazo”.

A proposta da BNP Paribas AM para investir neste segmento é o Parvest Equity Japan Small Cap, classificado com o selo Blockbuster Funds People. O fundo está em soft close desde junho do ano passado; perante a afluência de subscritores, a empresa optou por encerrá-lo a novos participantes para preservar a viabilidade da estratégia.

Retomando a ideia das valorizações, Glover afirma que, apesar do desconto já não ser o que era em termos gerais, continuam a existir oportunidades: “O mercado é muito grande em termos de número de empresas: há quase 4.000 títulos cotados no Japão. As empresas grandes são bem conhecidas por investidores e analistas, mas acreditamos que ainda há segmentos entre as empresas mais pequenas na bolsa que ainda são ineficientes, que não têm cobertura suficiente por parte dos investidores ou pelos analistas do sell-side, sendo com frequência ignoradas pelo mercado”.

A equipa de gestão do fundo utiliza uma análise bottom up para detetar as empresas com os fundamentais mais interessantes, visibilidade sobre o crescimento dos seus lucros e que, consequentemente, ofereçam exposição a temáticas que se estejam a desenvolver-se no contexto da melhoria económica do país. Esta análise é complementada com reuniões com as equipas de direção, para obter mais pontos de vista sobre a evolução das empresas. “O contexto geral não tem mudado muito. As receitas continuam a ser fortes, e o consenso para o próximo ano fiscal calcula um crescimento perto dos dois dígitos”, comenta o especialista.

Este também não acredita que as ações estejam caras em geral: o PER do Topix Small Index situa-se em 15 vezes os seus lucros e o Topix geral ronda as 14 vezes. Apesar disso, faz uma declaração a respeito da análise do fundo: “Procuramos sempre enquadrar as expectativas do mercado acionista relativamente aos lucros, em vez de nos fixarmos nas valorizações. Não seria saudável esperar que subissem as valorizações se por detrás da subida estivesse só a expansão de múltiplos”. A este respeito, Glover faz um lembrete importante: “Desde que Abe chegou ao poder em 2012 e impulsionou as Abenomics, temos visto que o crescimento dos lucros corporativos têm-se produzindo ao mesmo ritmo que a subida dos mercados”.

Glover deixa um último comentário sobre a evolução dos lucros empresariais no Japão: “Acredito que as empresas japonesas têm identificado fontes de crescimento e estão a investir nelas. É crescimento de primeira qualidade: as empresas já são capazes de fazer crescer as suas vendas e isto é resultado de uma economia nacional bastante forte; também existem empresas exportadoras que têm sido capazes de manter ou aumentar a sua atividade no estrangeiro. De igual forma, as empresas japonesas estão a dedicar muitos esforços na redução de custos; têm-se tornado muito disciplinadas nos anos seguintes à quebra do Lehman Brothers e do terramoto e posterior tsunami de 2011. As empresas japonesas têm utilizado este corte de despesas como uma medida adicional para alcançar o crescimento de lucros”.

Ideias de investimento

Uma das tendências onde o gestor está mais positivo é no consumo de energia e, mais concretamente, na eficiência energética. Expressa esta temática através do investimento em fabricantes de aparelhos eletrónicos com uma vida de utilização mais longa, veículos elétricos ou híbridos, fabricantes de componentes eletrónicos ou empresas inovadoras em fabrico de baterias.

A carteira também oferece exposição à automatização e robótica. Esta tendência responde ao ajuste do mercado laboral, praticamente em pleno emprego, fator que obriga as empresas japonesas a aumentar a sua eficiência para compensar a falta de procura de emprego; uma maneira de consegui-lo é através do aumento do investimento sobre o próprio capital “na automatização, criação de linhas de trabalho, renovação da maquinaria ou revisão das linhas de produto existentes”. Glover acrescenta que esta força do mercado laboral também representa uma fonte de oportunidades para as empresas que oferecem serviços relacionados, como a informação sobre trabalhos ou formação de empregados já existentes.

A terceira tendência destacada é o auge do turismo: os últimos dados indicam que o número de turistas estrangeiros que tem visitado o Japão praticamente triplicou. Glover explica que o gestor do fundo tem investido na indústria hoteleira e no consumo, principalmente através das cadeias de parafarmácias ou lojas nas proximidades e lojas de vendas ao pormenor, embora também se tenha encontrado uma oportunidade num distribuidor que por sua vez distribui produtos em lojas retalhistas. “Neste caso existe uma exposição com um duplo tema, porque esta ideia oferece exposição ao consumo dos turistas e também a automatização”, explica o especialista.

Em contrapartida, uma temática com menor peso na carteira é a demografia, que, segundo Glover, “também está vinculada, de certo modo, com o ajuste do mercado laboral”. Este indica que o envelhecimento da população “tem sido sempre visto como um problema, porque as pessoas vêm-no como uma queda do índice da população ativa e da produtividade, mas também gera oportunidades de investimento”, como por exemplo no segmento do lazer, aproveitando a conjunção do rendimento disponível e do aumento dos cuidados de saúde e da esperança de vida.