Como pode um banco cair tão rapidamente?

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Créditos: JP Valery (Unsplash)

Como pode um banco cair tão rápido? É uma pergunta que muitos investidores se colocam. A origem da crise do Silicon Valley Bank está no desajuste da duração e no aumento das yields. A entidade viu-se inundada de dinheiro em 2021, quando o setor tecnológico privado estava no auge e desfrutava de grandes investimentos de capital de risco. A base de depósitos de 100.000 milhões de dólares no fim de 2020 quase duplicou e o banco investiu grande parte em obrigações do Tesouro a longo prazo e em obrigações hipotecárias, criando o grande desajuste de maturidades no processo.

“Essas obrigações, na sua maioria na carteira para manter até à maturidade, viram o seu preço descer agressivamente ao longo da histórica queda dos preços das obrigações de 2022. A carteira perdeu cerca de 15.000 milhões de dólares em valor, quase tanto como todo o capital do banco. Essas grandes perdas não realizadas tornaram-se uma ameaça para a vida do banco quando as saídas de depósitos forçaram a venda e as perdas se materializaram”, relatam da Generali Investments. A questão é: poderia ter sido evitado?

Tinham outra saída?

Segundo François Lavier, responsável de Dívida Financeira Subordinada na Lazard Frères Gestion e Julien-Pierre Nouen, economista-chefe na mesma entidade, a estratégia de aumentar maciçamente o tamanho da sua carteira de obrigações do Estado norte-americano para investir os depósitos dos seus clientes correu mal. “O resultado do Silicon Valley Bank poderia ter sido diferente se, em vez de vender rapidamente essa carteira de obrigações tão ampla, tivesse celebrado acordos de recompra com contrapartes bancárias, o FHLB ou a Reserva Federal dos Estados Unidos, o que teria permitido garantir os seus compromissos”, explicam.

Para Jérémie Boudinet, responsável de Crédito de Investment Grade da La Française AM, isto é o que os manuais definem como uma crise bancária. “O Silicon Valley Bank limitou-se a anunciar na quarta-feira à noite que estava a tentar obter capital novo para cobrir a sua perda líquida (que não era significativa do ponto de vista do balanço), mas surgia precisamente depois do colapso do Silvergate, o que provocou mais pânico entre as empresas de capital de risco”. Segundo a CNBC, vários fundos importantes ordenaram que as suas empresas retirassem os depósitos da entidade nos últimos dias, por receio de uma crise bancária. 

Todo o sistema se apoia na confiança dos depositantes

Na sua opinião, a natureza altamente interligada da comunidade de investimentos em tecnologia, juntamente com a câmara de eco das redes sociais, são razões-chave para o rápido desaparecimento do banco. “Já vimos isto antes e não precisamos de voltar à Grande Crise Financeira de 2007-2008 para ter uma visão retrospetiva. Na Europa, o Banco Popular afundou-se devido a uma corrida aos bancos. Nenhuma quantidade de capital e ativos líquidos poderia o salvar de uma crise bancária. Este será sempre o tendão de Aquiles do setor bancário, que afinal depende da confiança dos seus clientes”, sublinha Jérémie Boudinet.

Concorda, neste ponto, com os especialistas da Fidelity International, para quem a principal vulnerabilidade de todos os bancos é a sua sensibilidade à fuga de depositantes, se estes perdem a confiança devido à deterioração dos fundamentais económicos, ao comportamento de manada ou simplesmente devido à desinformação nos meios de comunicação. “O papel do banco central é o de incutir confiança no sistema bancário. As autoridades norte-americanas intervieram para assegurar os depósitos nos bancos que foram sujeitos a levantamentos em massa e colocaram a liquidez à disposição do setor em condições favoráveis, incluindo a valorização das garantias bancárias a 100% do par. São medidas muito úteis”.