Os investidores com preocupações ambientais que pretendem ter em conta a biodiversidade nas suas carteiras enfrentam este importante desafio. Iván Merillas, fundador e CEO da Imath Sherp, explica como isso pode ser feito com as ferramentas atualmente disponíveis.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
A sustentabilidade ambiental começa a ser um fator muito importante na construção de uma carteira de investimento. Alguns investidores procuram beneficiar das oportunidades oferecidas pela transição energética, enquanto outros simplesmente desejam mitigar os riscos físicos ou de transição associados às alterações climáticas. Seja por uma razão ou por outra, é evidente que muitas carteiras estão a integrar indicadores ambientais nos seus critérios de decisão, tais como os objetivos de redução de carbono, redução do consumo de água ou de alinhamento com cenários de temperatura como o apresentado no Acordo de Paris.
Os investidores com preocupações ambientais que pretendem ter em conta a biodiversidade nas suas carteiras enfrentam um importante desafio: o de quantificar e monitorizar este tema. Tal como explica Iván Merillas, fundador e CEO da Imath Sherpa, uma empresa dedicada ao aconselhamento e integração do Investimento Socialmente Responsável nos processos de investimento, atualmente não existem ferramentas estandardizadas para medir o impacto da carteira na biodiversidade. “Além disso, a complexidade deste problema dificulta a sua medição e, por conseguinte, a integração no processo de investimento”, reconhece.
Enquanto estão a ser desenvolvidas e acordadas técnicas rigorosas de medição no âmbito da biodiversidade, o especialista considera que podemos aplicar certos métodos de análise para conhecermos melhor o impacto de uma carteira na natureza. “A primeira ideia é que podemos tentar medir o compromisso que uma empresa está a comunicar no âmbito da biodiversidade. E para isso podemos utilizar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos na Agenda 2030, uma vez que as empresas estão, maioritariamente, a utilizar estes objetivos para mostrar a sua estratégia em matéria ESG”.
Existem dois objetivos dos 17 que estão fortemente ligados à biodiversidade. Em primeiro lugar, o ODS 14: conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos, os mares e os recursos marinhos (vida subaquática). Em segundo, o ODS 15: gerir de forma sustentável as florestas, lutar contra a desertificação, travar e inverter a degradação dos solos e travar a perda de biodiversidade. “Por isso, para analisar uma carteira a partir da perspetiva do compromisso com a biodiversidade, bastará conhecer a percentagem de investimento em empresas que indicaram que querem ter um impacto positivo no ODS 14 e no ODS 15”, sublinha.
Caso prático
Para ilustrar este facto, Iván Merillas mostra um exemplo utilizando o fundo AXA WF ACT Biodiversity, um fundo de ações que investe no tema da biodiversidade. Utilizando a sua carteira a final de outubro de 2022, é possível ver os compromissos em cada um dos ODS:
“Como se pode verificar, 43,31% da carteira está investida em empresas que mostraram o seu interesse/compromisso no ODS 15, enquanto 27,96% o fizeram relativamente ao ODS 14. Tendo em conta que várias empresas visam impactar positivamente tanto o ODS 14 como o ODS 15 e eliminando essa duplicação, podemos obter um valor de compromisso ou exposição à biodiversidade. Neste caso, concluímos que quase 50% da carteira está investida em empresas que demonstram preocupação com a biodiversidade”, indica.
Segundo explica, este cálculo proporciona uma primeira ferramenta de comparação entre carteiras, embora não se deva esquecer que também é preciso explorar outras questões como a materialidade das empresas que compõem a carteira (impacto da atividade económica de cada empresa na biodiversidade) ou a deteção de greenwashing (coerência entre o que se promete fazer e o que realmente se faz). “Ambos exercícios são necessários para realmente avaliar o posicionamento de uma carteira em matéria de biodiversidade”, avisa.
Iván Merillas reconhece que esta primeira aproximação pode gerar alguma controvérsia ou crítica, uma vez que se centra no posicionamento estratégico das empresas e não tanto nos bens, serviços ou soluções que oferecem para combater o impacto nos ecossistemas. “Estes serviços são conhecidos como serviços ambientais ou ecossistémicos e dividem-se em quatro categorias. A biodiversidade proporciona-nos desde serviços de abastecimento através de alimentos, água, medicamentos ou matérias-primas como a madeira, até serviços culturais que nos ajudam na nossa saúda física e mental, ou no descanso e turismo”.
Na sua opinião, a análise a partir desta perspetiva requer a implementação de tecnologias mais sofisticadas, uma vez que atualmente não existem indicadores que meçam diretamente o impacto nestes 19 serviços ecossistémicos. “Por isso, devemos utilizar algoritmos de aprendizagem automática para obter o maior conhecimento possível sobre o impacto das empresas em cada um destes elementos e para poder pontuá-los”.
Adicionalmente, com o objetivo de aproveitar toda a informação que se encontra ao nosso alcance na internet ou redes sociais, o fundador e CEO da Imath Sherpa considera que o mais adequado é usar processamentos de linguagem natural (PNL). “Com o PNL, podemos realizar tarefas como o resumo automático de textos, a extração de relações, a análise de sentimentos, as classificações… E com tudo isto podemos avaliar cada empresa para cada um dos serviços ecossistémicos”.
A conclusão a que chega é que, se implementarmos isto ao fundo AXA WF ACT Biodiversity, a pontuação obtida seria de 8,04, sendo zero impacto muito negativo e 10 um impacto muito positivo nos serviços ecossistémicos. No gráfico seguinte é possível observar a divisão nos quatro campos relacionados com os serviços de abastecimento, bem como a pontuação global.