Conferência BiG: perspetivas de investimento para 2018

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Uma vez mais o BiG levou a cabo uma conferência aberta aos clientes, na qual reuniu o expertise de cinco conhecidas gestoras internacionais: Candriam, J.P. Morgan AM, Legg Mason AM, Pictet e Vontobel.

A iniciar as hostes, Miguel Luzárraga, head of sales Portugal da J.P. Morgan AM, falou das oportunidades para 2018. Do ponto de vista do crescimento, o especialista lembrou que “nos últimos 18 meses temos assistido a um crescimento sincronizado, vindo de diferentes áreas geográficas”, o que será favorável para os mercados financeiros. Do lado das políticas monetárias, deixou a perspetiva de que não esperam “subidas de taxas de juro muito fortes”, enquanto que no que toca aos balanços dos bancos centrais, têm uma preocupação a apontar: a diminuição das compras de títulos por parte dos bancos centrais causará uma pressão adicional nos preços das obrigações à qual é preciso estar atento. Incontornavelmente e várias vezes falado ao longo da conferência foi o tema da inflação. Da J.P. Morgan são da opinião de que “ainda não se vê uma pressão inflacionista atualmente, mas, a médio prazo, poderá aparecer uma ligeira pressão por via da redução do desemprego – a descer em todas as áreas geográficas – ou por via do da diminuição do output gap”. O sales da entidade vaticinou ainda que “há muito dinheiro investido nas obrigações governamentais que não está a acrescentar valor”, e que, “daqui para a frente, com a subida das taxas de juro, esta classe de ativos será pressionada e, por isso, neste contexto, é uma classe de ativos que desfavorecemos”.

Seguiu-se o contributo da Legg Mason AM, que com Tristan Camp, investment director da entidade, abordou algumas das oportunidades vigentes no mercado norte-americano.  O especialista lembrou que “o corte da taxa de imposto para as empresas no país de 31% para 21%, a implementação da taxa territorial para as mesmas e a permissão para se fazer refletir a despesa total dos gastos de capital” foram fatores importantes para a economia dos EUA. Outra das componentes que o profissional não deixou de relevar como importante para o mercado norte-americano foi a revisão da Dodd Frank que levou à flexibilização das regras para alguns bancos de menor dimensão. “Os negócios mais pequenos saíram beneficiados com este contexto, pois podem usufruir da flexibilização dos empréstimos”, referiu. Deixando uma mensagem positiva relativamente às ações (que muitos consideram já caras) o profissional lembrou que comparativamente com outras classes de ativos – como por exemplo as obrigações governamentais – estas estão mais baratas. Sobre os riscos que se podem esperar daqui para a frente, o especialista alertou para o risco de deflação, mas também para um outro oposto: “um aumento da inflação por via da aceleração do crescimento e da subida das taxas de juro, risco que os mercados não estão a considerar nos seus preços”.

Da Vontobel, Ricardo Comín Jarillo, sales diretor Iberia & Latam, subordinou-se ao tema da “experiência na área do rendimento fixo na era da transparência do cliente”. “O mundo está a mudar de uma forma que não tem marcha trás”, começou por dizer o especialista perante a plateia. Num contexto em que se vê “um crescimento global coordenado, ao qual se junta uma inflação baixa, inevitavelmente os ativos tornam-se caros” e é neste contexto que a entidade diz vislumbrar valor ao nível do rendimento do fixed income. “Não acreditamos que o fixed income vá ter revalorizações muito fortes ao nível do preço, mas acreditamos que a parte do cupão pode servir para ir abatendo à inflação”, atestou. Da casa deixaram ainda a nota da menor preferência por obrigações governamentais, por “não pagarem nada”, enquanto que no high yield consideram difícil encontrar yields ou cupões que compensem. Nesta relação de rentabilidade e risco veem oportunidades em crédito corporativo investment grade com um nível de risco intermédio – BBB ou AA .

As megatendências

Tiago Vaz, head of sales Portugal & Brazil, da Pictet AM, foi o responsável por introduzir na conferência o tema das megatendências, tópico sobre o qual a casa de investimentos se tem vindo a debruçar. “Se conseguirmos identificar previamente as forças que no futuro vão mudar o mundo, de forma a poder ter exposição a essas forças, melhor”, referiu o especialista na sua introdução. O profissional lembrou que  muitas vezes os investidores estão demasiado “concentrados no curto prazo”, e a solução passa por mudar a sua perspetiva para o “crescimento de longo prazo” que tanto carateriza estas megatendências. Dando vários exemplos de megatendências, o especialista lembrou que, por exemplo, a automação sempre existiu e remonta, por exemplo, aos esquemas executados nas grandes linhas fabris. Atualmente, contudo, “a tecnologia permitiu que os robots se tornassem não só mais pequenos mas também muito mais baratos e, por isso, acessíveis a mais empresas”. “As tecnologias disruptivas são por natureza desconfortáveis porque aparecem para fazer melhor algo que já se fazia. Mas elas só são sustentáveis se os benefícios que trazem forem superiores aos prejuízos”, lembrou.

Goldilocks. Ken Van Weyenberg, head of client portfolio manager asset allocation, da Candriam, recorreu a esta metáfora para explicar afinal em que consiste este tão falado momento de mercado. “Trata-se de uma pequena rapariga, perdida na floresta, à procura de uma casa para dormir e à procura da taça perfeita de papas de aveia: nem muito quente, nem muito fria. Ela finalmente encontra a casa, mas não sabe que vai ser visitada em breve por três ursos, os donos da casa... e da comida”, ironizou. Será este o fim da Goldilocks (a menina acaba por ser comida pelos ursos?), ou terá ela tempo  de usufruir deste ambiente perfeito? Uma pergunta feita pelo profissional que claramente muitos dos profissionais de mercado também se questionam por esta altura. Neste contexto económico, o especialista relevou que “é importante preferir as ações em vez das obrigações, mas também favorecer uma exposição mais doméstica, nomeadamente à Europa”.  Sobre as valuations das ações, o profissional avisou que estas se tornaram mais caras nos EUA desde o início do ano, mas estão ainda “claramente fair value”. As europeias e as de mercados emergentes, por seu lado, podem ser apelidadas de atrativas.

Visão da casa

A própria visão do BiG para 2018 não ficou de fora desta conferência. Como habitual, foi pela mão de João Lampreia, head of research da entidade, que se abordaram temas como o Brexit. Pegando no tópico da Goldilocks deixado pela Candriam, o especialista  admitiu que também no BiG este é o cenário base que consideram por esta altura: “Crescimento sincronizado, inflação relativamente contida, políticas monetárias expansionistas e liquidez no mercado”. De fora, claro, não fica o tópico da “inflação”, que aconselham a ser olhado de perto. “O Banco central europeu reviu sucessivamente em alta as suas perspetivas de crescimento para 2017, mesmo num contexto em que a inflação não estava a subir, por causa da demografia, dívida e digitalização. Nem os próprios bancos centrais sabem porque é que a inflação não está a subir, e diria que estes três D’s são a resposta mais fleumática. Acredito que o mercado está demasiado complacente relativamente à inflação, e não quer dizer que ela não possa subir”, avisou. O percurso percorrido em termos de políticas monetárias pela Reserva Federal norte-americana e pelo BCE também foi tema. João Lampreia, numa comparação entre o caminho feito pela Fed na normalização monetária versus o caminho que poderá ser feito pelo BCE, sublinhou o facto de “nos EUA se ter demorado 10 meses a reduzir a compra de ativos, e se ter levado 14 meses a executar uma subida de taxas de juro”. Situação diametralmente oposta à europeia que “demora o dobro do tempo do ponto de vista da redução da compra de ativos, e mesmo assim, não lhe atribui um nome de ‘tapering’”.