Os efeitos principais podem-se resumir em três grandes ideias: adeus à reforma fiscal 2.0., a um plano de infraestruturas mais simples e aos limites ao aumento do preço dos medicamentos.
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Os resultados das eleições nos EUA foram ao encontro, no geral, das expectativas, com um desvio importante. Embora, como se antecipava, os democratas tenham ficado com o controlo da Câmara de Representantes e os republicanos com controlo do Senado, o partido de Donald Trump aumentou a sua maioria no Senado e isto, de uma perspetiva política, parece uma validação da estratégia do presidente em adotar uma postura firme sobre a imigração e o comércio. “Para a economia, este resultado misto irá aumentar as possibilidades do abrandamento da economia dos EUA a partir de 2019, com um efeito potencialmente adverso sobre as rentabilidades das obrigações e do dólar e, possivelmente sobre as ações dos EUA”, assegura David Kelly, chefe de estratégia global da J.P. Morgan AM.
O que é óbvio é que, com os democratas a controlar a Câmara de Representantes, Trump terá menos possibilidades de impulsionar novas políticas expansionistas. “Isto significa que a maior parte dos incentivos fiscais que poderíamos ter esperado ficaram provavelmente para trás e que não é previsível uma redução adicional de impostos que se acrescente ao corte de sociedades que ajudaram a promover as ações dos EUA nos últimos três meses. Assim, o crescimento económico nos EUA pode estabilizar a um ritmo sólido embora não exuberante, de 2,8% em 2019. Além disso, existe o risco de que a inflação ultrapasse o objetivo da Reserva Federal em 2019, mas não prevemos que seja por uma margem significativa”, afirma Luca Paolini, estratega chefe da Pictet AM.
A questão é que agora as expectativas do mercado em relação às taxas de juro nos EUA estão mais proximamente alinhadas com os prognósticos da Reserva Federal e na gestora não veem nada nos resultados destas eleições que altere isso a curto prazo. “Uma vez que é pouco provável que haja novas reduções fiscais, esperamos uma pressão em queda sobre o dólar que, de acordo com o nosso modelo, cota cerca de 18% acima do justo valor. Além disso, a dívida do Tesouro dos EUA a dez anos deve responder positivamente a esta probabilidade menor de incentivo fiscal adicional e esperamos que a rentabilidade na maturidade se situe entre os 3 e 3,5% nos próximos meses”, assinala o especialista da empresa suíça.
Mas, uma vez analisados quais poderão ser os efeitos do resultado das eleições nos mercados financeiros quisemos ver qual poderá ser o impacto em três áreas muito específicas das que foram muito faladas: impostos, infraestruturas e saúde.
1. Impostos: no tema fiscal, Kelly considera que o resultado das eleições de meio mandato acabe provavelmente com a ideia de uma reforma fiscal 2.0. “Não se pode aprovar uma lei fiscal sem uma maioria na Câmara Baixa e os democratas não terão nenhum interesse em aprovar outro grande corte fiscal cujo mérito seja atribuído ao presidente e possa animar a economia a tempo para as eleições de 2020. A estratégia mais fácil para os democratas será aprovar um corte fiscal para a classe média, mas apenas se se financiar aumentando os impostos aos rendimentos mais elevados e/ou empresas. Mas isto será inaceitável para o Senado”, relembra.
2. Infraestruturas: neste tema, o especialista da J.P. Morgan AM considera que os democratas poderão estar dispostos a promover mais dinheiro para infraestruturas se se incluir melhorias nas redes elétricas e na internet. “No entanto, a falta de dinheiro e a falta de trabalhadores da construção indica que o mais provável é que se aprove uma lei de infraestruturas bem mais simples”, prevê.
3. Saúde: como o mandato individual desaparece em 2019 e há mais estados que tentam adotar planos de baixa cobertura, o chefe de estratégia global da J.P. Morgan AM acha provável que a Lei de Assistência Acessível (AffordableCareAct) fique menos efetiva com o tempo. “Os democratas não terão nenhum interesse em rejeitá-la e substituí-la. Os republicanos podem estar dispostos a proporcionar financiamento extra para facilitar as mudanças, uma vez que as sondagens indicam que os cuidados médicas é o tema mais importante dos democratas face a 2020. No entanto, não é provável, exatamente por isso, que os parlamentários democratas aprovem nenhuma lei que esteja aprovada por um Senado Republicano. Em contrapartida, os dois partidos poderão, de facto, estar de acordo em combater a dependência dos opiáceos e limitar os aumentos do preço dos medicamentos”.