Crescer em mercados privados? É preciso ter tecnologia e equipas com experiência

Karine Litou. BNP Paribas AM
Karine Litou. Créditos: cedida (BNP Paribas AM)

Os mercados de ativos privados são uma história de crescimento dentro da indústria do investimento a nível mundial. Aproveitar as oportunidades que se apresentam inclui, ao mesmo tempo, uma maior complexidade operacional. As gestoras devem prestar os seus serviços de maneira ágil a investidores mais globais e exigentes em termos de transparência, reporting, segurança informática no tratamento dos dados e eficiência operacional. E há que cumprir, ao mesmo tempo, as obrigações regulamentares em constante evolução. Trabalhar neste contexto é difícil; adaptar-se ao dinamismo da indústria exige um investimento constante em tecnologia, talento e capacidade.

Uma opção para as gestoras é contar com a ajuda dos administradores de fundos para externalizar as funções de administração, contabilidade e reporting, bem como direcionar os seus esforços internos para a gestão da carteira, relação com investidores, estruturação de veículo e supervisão. Ou seja, o core da sua atividade.

Esta é a mensagem que Karine Litou, global deputy head de Private Capital & Securities Services na BNP Paribas AM, transmitiu numa entrevista exclusiva com a FundsPeople. A ideia base que apresenta é que há uma clara tendência para uma maior complexidade da estruturação de fundos de mercados privados. Quando uma gestora lança uma estratégia, “não se trata de um único fundo, mas de vários veículos que, com formatos legais e estruturas contáveis diferentes, procura dar resposta às necessidades de vários investidores ou a uma diversificação geográfica dos investimentos subjacentes. E todos fazem parte da mesma estruturação”, explica.

Classes de ativos

Outra tendência é a proliferação de novas classes de ativos e de novos mercados. As gestoras devem contar com uma oferta de gestão flexível que lhes permita beneficiar das oportunidades que vão surgindo e que os investidores pedem.

É o caso da dívida privada. Uma categoria que “está a chamar muito a atenção em termos de fundraising, concretamente estratégias de direct lending, distress debt ou dívida de infraestruturas”, assinala. A evolução dos distintos subsegmentos aumenta a complexidade da estruturação, da administração e do reporting dos fundos.

Continuando com as tipologias de ativos, Karine também menciona o renovado apetite pelas estratégias de mercados secundários, após uma moderação nos primeiros meses do ano. Neste segmento, observa lançamentos de megafundos especializados em transações LP-lead. Grandes limited partners “estão a identificar algumas posições em mercados secundários e a realocar o capital a outras estratégias, como as infraestruturas”. Aqui temos, segundo Karine, “o terceiro tipo de ativo em expansão”, sustentado por megatendências como a transição energética, a descarbonização e o neoshoring.

Dentro do private equity, as estratégias de buyouts e private equity têm uma presença mais consolidada nas carteiras dos investidores. O contexto de fundraising tem sido mais complicado para os fundos com maiores necessidades de financiamento. No entanto, a especialista destaca o maior dinamismo em veículos com menores níveis de dívida, em que os gestores trabalham juntamente com os especialistas de dívida, que também dão apoio à due diligence das empresas investidas.

Sofisticação da procura

À evolução e ao desenvolvimento de novas estratégias junta-se o crescimento e a sofisticação da procura. Isto também “impacta a complexidade da estruturação dos veículos, visto que as gestoras terão de procurar fórmulas que se adaptem às necessidades específicas dos investidores locais”, aponta. Isto implica contar com “ferramentas que permitam ter uma visão consolidada da estratégia e dispor da experiência adequada na equipa para monitorizar este processo”, assinala.

Além disso, a carga operacional aumenta à medida que a dimensão do fundo também aumenta e/ou que a base de clientes alarga. Este processo constitui um verdadeiro desafio para os gestores de ativos, que exige processos sólidos para supervisioná-lo. Os investidores, por sua vez, levam a cabo processos de due diligence mais exigentes e exaustivos sobre procedimentos e sistemas utilizados para o cálculo do valor liquidativo antes de tomarem as suas decisões de investimento.

Desafios para os investidores

Mas também há desafios para os limited partners. À medida que aumentam as suas alocações a mercados privados e diversificam em diferentes classes de ativos e jurisdições, “precisam de equipas dedicadas com conhecimentos muito específicos e especializados”. “Há cada vez mais entidades a gerir os seus próprios investimentos nestes ativos. Quando não conseguem assumir a carga operacional, subcontratam as operações de middle-office associadas para obterem, sem esforço, a gestão necessária do fluxo de caixa dos fundos subjacentes em que investem e o correspondente look-through nos seus investimentos. E, neste caso, não se trata apenas de uma questão de grandes volumes. Se um investidor quiser aumentar o peso da sua carteira de 3% para 5%, precisa de “reforçar os processos e o controlo da informação. A tomada de decisões vai assentar numa pilha de documentos que precisa de analisar e entender”. 

Neste sentido, Karine Litou destaca um ponto muito importante: a forma como se partilha a informação. Num mercado em que a informação está fragmentada, falta automatização e os ficheiros têm de ser enviados por correio, “é fundamental manter a segurança na troca de dados, uma das principais fontes de risco”, assinala. Isto mostra que os general partners têm de garantir um processo de comunicação seguro com os seus investidores. E, aqui, é importante estabelecer corretamente as bases quando, do outro lado, os limited partners estão a “evoluir nos seus processos de investimento, pedindo mais transparência, não só na monitorização do fundo no seu conjunto, como também na forma como o gestor faz o seu trabalho”. Uma entidade “tem de ter ferramentas, equipas dedicadas e experiência para enfrentar o aumento da complexidade e das necessidades dos investidores em termos de informação de dados e segurança informática”.

Vantagens da exteriorização da operação

Se uma gestora quiser evoluir no seu negócio e fazê-lo crescer, “precisa de recursos internos, de desenvolver estrutura, experiência e ferramentas de mercados privados, que podem ser muito dispendiosas”, explica.

As gestoras podem optar pela externalização de soluções. Isto permite, por um lado, aceder à tecnologia, trabalhando com um especialista na prestação de serviços especializados, e, por outro, a equipas com experiência. “É cada vez mais difícil atrair talento e mantê-lo, especialmente para as gestoras boutique”, aponta. “Damos às gestoras a capacidade de crescer”, acrescenta. “Na BNP Paribas AM, proporcionamos os serviços necessários em cada momento, acompanhando-os com a tecnologia e experiência necessárias em função de cada etapa. Permitimos às gestoras contarem com recursos desde o zero e irem ajustando-os em função da evolução da gestora, garantindo, além disso, que os processos de investimento e comunicação com os investidores são seguros”.

A divisão de Negócio de Security Services da BNP Paribas AM tem um alcance mundial em 15 mercados, e conta com um volume de 830.000 milhões de euros sob os seus serviços num total de 3.000 veículos de capital privado. As soluções que oferecem aos seus clientes baseiam-se em dois pilares: tecnologia e experiência. Por sua vez, combina duas abordagens: capacidades globais e conhecimento local.

Ferramenta digital

“Desenvolvemos uma solução de tecnologia global que permite automatizar plenamente o processo de fund accounting e serviços de middle office em mercados privados. O foco global permite que as funcionalidades em qualquer jurisdição sejam as mesmas”, explica. A isto acrescenta-se “a experiência das nossas equipas que se articula de maneira local em diferentes jurisdições. É muito importante adaptar-se às necessidades específicas de cada cliente, estar próxima deles. Temos, diria, plenas capacidades em termos de administração, contabilidade de fundos, middle office, etc. para acompanhar os nossos clientes nas suas necessidades sob um modelo de partnership”, acrescenta.

Uma parte distintiva dos seus serviços é uma ferramenta digital em mercados privados. “Uma solução integrada na nossa plataforma que permite aos nossos clientes aceder aos dados quase em tempo real com total transparência”, e que oferece dois portais de informação: um dedicado a gestoras e outro dedicado a investidores.