Num evento promovido pela FundsPeople e a DNB AM, foram discutidas as principais tendências que moldarão os investimentos sustentáveis nos próximos anos, bem como as métricas de sustentabilidade a que os profissionais mais dão importância.
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Investimentos sustentáveis e energias renováveis. Foi este o tema central do último pequeno-almoço organizado pela FundsPeople em colaboração com a DNB AM. Um evento que contou com a participação de André Almeida, especialista em Soluções de Investimento na Santander AM, Pedro Barata, diretor de Investimentos na ASK Gestão de Patrimónios e atual diretor-executivo da CFA Society Portugal, Jorge Silveira Botelho, responsável pela BBVA Asset Management Portugal e Mikko Ripatti, responsável pela sucursal do Luxemburgo da DNB AM.
Focando essencialmente na primeira parte do tema, várias são as tendências que os especialistas identificam como prováveis no futuro dos investimentos sustentáveis, especialmente perante um cenário global em constante transformação. Entre as referidas estão a economia circular, a dessalinização, a energia solar e eólica e até a energia nuclear. Foram ainda abordadas as métricas que os oradores consideram mais relevantes. Destaque para a avaliação individualizada dos pilares ESG e para a crescente relevância de indicadores financeiros ajustados a este conceito.
Energia eólica, solar e… nuclear
Na visão de Mikko Ripatti, “os diversos eventos climáticos extremos a que temos assistido têm sensibilizado os investidores, impulsionando o interesse em soluções sustentáveis”. O profissional da DNB AM acredita que a energia solar e eólica continuarão como tendências fundamentais nos investimentos sustentáveis, mas destaca também a importância de atividades ligadas ao armazenamento de energia e ao hidrogénio, “apesar dos muitos desafios tecnológicos” no caso deste último.
Também André Almeida vê a energia eólica e solar como “pilares importantes” nesta matéria. No entanto, o especialista em Soluções de Investimento na Santander AM tem a convicção pessoal que o retorno à energia nuclear será inevitável. “Muito provavelmente, uma tendência que vamos ver no futuro é, de facto, um regresso à energia nuclear”, afirma. André Almeida explica que, “mesmo perante a complexidade regulatória existente na Europa, não vamos conseguir fugir dessa necessidade de voltar a ter centrais nucleares a funcionar”, sinalizando uma potencial reavaliação estratégica dessa fonte de energia.
Por sua vez, Pedro Barata destaca ainda a descarbonização como “inevitável, apesar da resistência política dos Estados Unidos”, bem como as tecnologias de dessalinização “como resposta à crescente escassez hídrica em várias regiões do mundo, com destaque para o Algarve, em Portugal”.
Esta visão sobre a dessalinização é partilhada por Jorge Silveira Botelho, que aponta ainda “a economia circular e toda a tecnologia a ela associada, como uma grande tendência”. Num outro campo, o responsável da BBVA Asset Management Portugal enfatiza a importância de abordar as desigualdades sociais. “Investimentos que abordem desigualdades intergeracionais e socioeconómicas têm potencial para crescer, especialmente os ligados à habitação e à eficiência da logística”, refere. O armazenamento de energia e as infraestruturas mais resistentes a eventos climáticos extremos são outras das tendências que, de um modo geral, os profissionais acreditam que moldarão os investimentos sustentáveis no futuro.
ESG Sharpe
No debate sobre as métricas mais relevantes para avaliar investimentos sustentáveis, destaca-se um desafio comum apontado pelos especialistas: a falta delas, ou melhor, a falta de metas universais padronizadas, o que dificulta comparações e avaliações consistentes entre empresas. Jorge Silveira Botelho ilustra como a sua entidade aborda essa questão, por meio de um processo estruturado em quatro pilares distintos. O primeiro destes pilares trata das exclusões, eliminando investimentos que não cumpram critérios mínimos, como violações de direitos humanos ou a exploração do trabalho infantil. O segundo envolve metodologias internas para avaliar a performance sustentável das empresas com base em critérios ESG, que procura “alinhar a sustentabilidade com a materialidade das métricas financeiras, maximizando o potencial de retorno reduzindo os riscos”. O terceiro pilar foca no envolvimento com as empresas e no voto ativo, “promovendo boas práticas nas empresas e aumentando o compromisso com a sustentabilidade”. Por fim, o quarto pilar está relacionado com o grau de impacto, de forma a identificar investimentos que geram impacto positivo e mensurável no ambiente e na sociedade, nomeadamente os fundos enquadrados no artigo 9º do SFDR.
Pedro Barata adiciona um ponto importante ao debate, sugerindo a introdução de métricas financeiras ajustadas ao ESG. Uma espécie de ESG Sharpe, baseado no tradicional índice de Sharpe, mas com um foco específico na relação entre retorno e risco de sustentabilidade. O diretor de Investimentos na ASK Gestão de Patrimónios acredita que a atenção para este tipo de métricas tem vindo a crescer, à medida que a sustentabilidade se torna cada vez mais central nas decisões de investimento.
Complementando essa abordagem, André Almeida propõe a análise individualizada de cada um dos pilares ESG - ambiental, social e de governança - a fim de evitar distorções. “Isso permite evitar que empresas altamente comprometidas com um único pilar acabem com o mesmo score de uma empresa efetivamente sustentável em todos os aspetos”.
Por sua vez, Mikko Rippati destaca critérios mais específicos de medição de emissões e impacto ambiental, como a pegada de carbono de âmbito 1, 2 e 3, além da avaliação de empresas que estabelecem e cumprem metas claras de neutralidade climática. Todas estas perspetivas refletem um esforço conjunto para refinar ferramentas e metodologias, promovendo uma integração mais sólida entre sustentabilidade e desempenho financeiro.