Dez anos do explorador Global Income Fund

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&rewNoël, Flickr, Creative Commons

Embarquemos numa viagem de 10 anos. Isso mesmo. Foi o que a J.P. Morgan AM propôs recentemente aos presentes no Hotel Ritz, local onde se “viajou” na história do emblemático fundo da casa Global Income Fund. Não podia ter sido melhor a efeméride: os 10 anos de vida do produto permitiram passar em revista a evolução da estratégia, mas também recordar acontecimentos que marcaram a última década, e que deixam alertas sobre a circularidade da história, inclusive a financeira.

Numa conversa informal, Manuel Arroyo, diretor de Estratégia da J.P. Morgan AM para Portugal e Espanha, e Eric Bernbaum, portfolio manager da entidade (que curiosamente conta com os mesmos 10 anos de experiência na indústria financeira e na entidade) “exploraram” o caminho feito pelo Global Income Fund. Um fundo que, como começou por sublinhar o diretor de estratégia, “tem permitido aos investidores capturar cerca de 70%/80% do upside do mercado de ações, com metade da volatilidade”. Caraterística essa que torna o produto muito “interessante”. “O fundo está a captar o rendimento que paga a cada trimestre, mas ao mesmo tempo participa num bull market. Outra coisa interessante é que o fundo tem sido capaz de pagar um rendimento estável. Apenas em 2 dos dez anos o comportamento do NAV foi negativo (em 2011 e 2015)”, introduziu.

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“Viajemos”, então, nos 10 anos do Global Income Fund:

Manuel Arroyo – Como é que descreve este fundo?

Eric Bernbaum- No que toca à nossa filosofia de investimento, o que estamos realmente a tentar fazer é providenciar um  nível de yield atrativo e consistente em termos ajustados ao risco, mas ao mesmo tempo mantendo as perspetivas de retorno de capital. A forma como o fazemos é sempre pensando no balanceamento não apenas do nível absoluto de yield, mas também no risco. Fazêmo-lo através da combinação das equipas de soluções multiativas, através da nossa visão de alocação de ativos macro top down, de forma a conseguirmos pensar nas classes de ativos, geografias, etc. No que toca ao nosso foco no risco, não estamos à procura de “stretch for yield”, ou seja, não nos queremos concentrar em determinadas áreas de risco que achamos que não nos vão compensar. Queremos manter-nos flexíveis ao nível das classes de ativos em que estamos investidos.

Manuel Arroyo - A forma como aborda o rendimento mudou durante estes 10 anos, ou seja, a filosofia de investimento mudou ou continuou constante?

Eric Bernbaum - A filosofia posso dizer que se manteve constante durante os anos, independentemente da volatilidade que temos visto. Acreditamos que tem servido bem o seu propósito. Creio que esta filosofia tem dado aos clientes e investidores um forte sentido de conforto, mas também a ideia daquilo que podem esperar daqui para a frente de uma perspetiva de yield, bem como de uma perspetiva do risco.

Manuel Arroyo - Como é que posicionavam o fundo na altura em que o lançaram e onde é que viam e captavam oportunidades?

Eric Bernbaum - Lançámos o fundo numa altura muito interessante – altura em que eu estava também a começar a minha carreira. Na altura em que o lançámos existia uma grande precaução por parte dos investidores. Nós, sendo um grupo multi-ativos, sentíamos que tínhamos as capacidades e os insights para gerir uma estratégia de rendimento. Quando começámos existiam algumas áreas que sentíamos que eram muito atrativas, e nas quais alocámos a maioria do fundo. A primeira foi o crédito high yield norte-americano. Saídos da crise financeira apenas assistíamos a grandes de-ratings dos títulos, e vimos os spreads a subirem para os 600 pontos base de uma vez só. Também considerámos atrativas algumas áreas menos tradicionais do fixed income, como as obrigações hipotecárias. Também por causa da bolha imobiliária, e da deslocação existente nesses mercados, essa foi uma altura em que conseguimos ter esse tipo de títulos em carteira com um grande desconto, mas ainda assim gerar yields muito atrativas, de 9%-10%, em alguns casos. Encontrámos ainda oportunidades em determinadas ações tradicionais mais orientadas para a distribuição de rendimentos; registaram-se grandes sell-offs nesse tipo de mercados, e sentimos que esse era um bom ponto de entrada. A carteira tinha 50% em high yield, 10% em obrigações hipotecárias, e o que sobra em ações.

Manuel Arroyo - Atualmente, e depois destes dez anos com momentos conturbados, onde é que estão a encontrar oportunidades e onde é que alocam o portefólio?

Eric Bernbaum  - De forma similar à crise financeira, 2008 e 2009 foram anos que representaram muitas oportunidades, como já referi.  A crise do euro e da dívida criaram também  deslocações de mercado, na nossa perspetiva. Uma dessas áreas, à qual iniciámos uma alocação recorrente, foi a das obrigações da periferia europeia. Naquela altura, existia um ambiente de mercado de extremo risk-off, e os spreads das obrigações soberanas dessas países da periferia europeia alargaram de forma tremenda. Para além disso, o BCE atuou como um ‘back stop’ para a economia da zona euro, e a situação começou a melhorar; vimos os spreads das obrigações da periferia europeia a crescer um pouco, e aí fomos capazes de perceber as oportunidades de retorno que poderiam advir dessa yield ou cupão daí para a frente. Mas à medida que as valuations se tornaram mais atrativas, sentimos que existia um trade-off  mais compensador relativamente ao risco nas ações europeias. E, de facto, iniciámos nessa altura novamente a alocação a ações europeias.