Dennis Shen, analista da agência de classificação europeia Scope Ratings, revela com números concretos como é que o Brexit está a passar a fatura à economia britânica a nível de investimentos, exportações e consumo.
A incerteza do Brexit e a desaceleração da economia mundial estão a pesar sobre o crescimento do Reino Unido. Dennis Shen, analista da Scope Ratings – agência de classificação creditícia europeia, especializada na análise e classificação de instituições financeiras, empresas, estruturados e finanças públicas – identificou três fatores que estão a contribuir para o abrandamento da economia do Reino Unido.
A diminuição dos investimentos pela prolongada incerteza sobre o Brexit é um dos principais obstáculos. Esta redução tornou-se especialmente visível no setor financeiro onde algumas empresas estão a cancelar investimentos ou se estão a mudar para o estrangeiro. Também esta semana a Honda anunciou que irá encerrar uma unidade de produção no Reino Unido em 2021 devido à incerteza do Brexit. Além disso, a debilidade do setor das exportações num contexto de disputas comerciais mundiais e um menor dinamismo do gasto dos consumidos são outros fatores chave.
O crescimento do PIB do Reino Unido reduziu 0,2% no quarto trimestre de 2018. No conjunto do ano, diminuiu para 1,4% em 2018, depois dos 1,8% de 2017 e uma média de 2% anual no período 2010-2017. Para este ano a agência espera um crescimento apenas de 1%. “A prolongada incerteza económica teve um impacto gradual, mas inegável, no retrocesso do crescimento, incluindo se o Reino Unido evitar um Brexit sem acordo, como esperamos que aconteça. O custo do processo de separação continuará a acumular se as negociações se estenderem para depois de 29 de março”, afirma Shen.
Na Scope Ratings identificaram dez dados concretos que permitem saber como o Brexit está a afetar a economia britânica:
- O investimento empresarial diminuiu -0,9% em 2018, o número anual mais baixo desde 2009.
- O indicador de sentimento da CBI situou-se em janeiro de 2019 logo abaixo dos mínimos posteriores ao referendo de junho de 2016.
- Cerca de 5.000 postos de trabalho no setor dos serviços financeiros poderão ser transferidos até março de 2019, ainda que a incerteza generalizada poderá favorecer transferências adicionais depois de março.
- As importantes entradas líquidas de investimento estrangeiro direto, que ascenderam a uma média de 113.000 milhões de libras esterlinas por ano entre 2014 e 2015 – mais do que para cobrir o déficit da balança por conta corrente do Reino Unido -, esgotaram-se. Entre o primeiro trimestre de 2017 e o terceiro trimestre de 2018, ascenderam a apenas 19.500 milhões de libras esterlinas, o que faz com o Reino Unido dependa mais das entradas de capitais e de dívida.
- Uma depreciação de 15% da libra esterlina depois do referendo de 2016, em termos efetivos normais, contribuiu para o bom comportamento das exportações desde então. Não obstante, a diminuição do crescimento europeu e mundial desde 2018 estendeu-se ao setor exportador britânico, o que agravou a debilidade da economia nacional. As exportações líquidas reduziram em 0,2 pontos percentuais em 2017. Além disso, os efeitos da depreciação anterior da libra esterlina sobre o crescimento das exportações manufatureiras estão a desaparecer.
- O crescimento do consumo dos lares reduziu modestamente para 1,9% anual em 2018, depois dos 2,2% anuais em 2017 e 3,2% em 2016.
- A confiança dos consumidores caiu em janeiro para o nível mais baixo desde 2013.
- Os empréstimos ao consumo sem garantia – que impulsionaram o consumo – diminuíram sob escrutínio regulatório, com um aumento de apenas 6,6% em termos homólogos em dezembro.
- A incerteza do Brexit contribuiu para a debilidade do mercado imobiliário, debilitando a sensação de riqueza dos lares.
- O custo do Brexit para economia já é superior a 1% do PIB desde o referendo de junho de 2016. Os custos da incerteza, incluindo o impacto no potencial crescimento a longo prazo do país, sustentam a nossa perspetiva negativa para os ratings soberanos do Reino Unido.