Dez questões sobre factor investing

Pawel Janus_ UBS
Cedida

O factor investing não é algo novo, já existe no mercado há vários anos, mas parece atrair cada vez mais interesse por parte dos investidores. Pawel Janus, PhD, head of passive & investment analytics da UBS AM, esteve em Portugal e analisou algumas das questões mais colocadas por parte dos investidores na hora de investir em factores. Uma espécie de guia 360° de investimento em factores, com o cunho da gestora suíça.

1. Quão grande é o mercado?

A verdade é que o investimento baseado em factores tem vindo a registar um crescimento substancial no volume de ativos ao longo dos últimos anos. Por outro lado, o especialista destaca que “grande parte dos fluxos está alocado a estratégias que utilizam um único factor, embora no período mais recente, em particular no ano passado, tenhamos vindo a verificar que cada vez mais dinheiro entra em estratégias de multi-factores”. Atualmente, as estratégias dividend, value e growth são as estratégias com maior volume de ativos sob gestão. “O mercado é amplo, está a crescer e existem cada vez mais soluções de investimento em factores”, resume.

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Source: ETFGI, Bloomberg, UBS Asset Management. Data as of 20 March 2018

2. O factor investing é algo complexo?

“Acreditamos que não tem que ser”, começa por dizer Pawel Janus. Existem duas abordagens que podem ser adotadas de forma a construir uma estratégia de factores: “Uma delas, a mais tradicional, é gerir de forma ativa um fundo. No entanto, estas estratégias têm uma capacidade mais diminuta e têm estruturas de comissões diferentes – um bom gestor quer ser pago como tal. Outra forma é indexar estas estratégias e beneficiar dos méritos das soluções passivas, sendo que estas têm uma maior capacidade, maior transparência e, uma vez que são estratégias passivas, são mais baratas”, explica o profissional.

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3. Os factores cumprem os seus objetivos?

Relativamente ao facto de os factores cumprirem ou não com aquilo a que se propõem, o profissional acredita que “existe uma ideia de que as estratégias de factores são desenvolvidas para gerar alfa, o que não é o caso”. Na verdade, estas estratégias são desenvolvidas para proporcionar exposição a certas características das ações. “Estratégias quality têm como objetivo oferecer exposição a ações que têm determinadas características acima da média, como return on equity, alavancagem ou rentabilidade”, explica, acrescentando outro exemplo: “As estratégias volatility procuram reduzir o risco global do portefólio através do investimento nas ações que possuem uma melhor estabilidade de preços do que a média”. Os gráficos abaixo revelam assim que os factores cumprem , de facto, com o objetivo a que se propõem.

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4. O factor investing supera os portefólios baseados na capitalização de mercado?

No longo prazo, alguns dos factores tendem a oferecer um excedente de retorno positivo, mas o mesmo não se verifica no curto prazo. O exemplo abaixo demonstra isso mesmo. As rentabilidades no curto prazo são positivas no universo MSCI EMU.

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“As estratégias de um único factor proporcionaram cerca de 2,6% de excedente de retorno quando comparadas com o MSCI USA, o que é um valor significativo”, indica Pawel Janus. Por outro lado, é verdade que entre as diferentes estratégias se verificam disparidades substanciais, “que estão relacionadas com o facto dos vários factores apresentarem comportamentos distintos nos diferentes ciclos de mercado”, aponta.

5. As estratégias de factores são todas iguais?

Para quem não está tão por dentro do factor investing, esta pode ser uma percepção natural. No entanto, tal como revela o especialista, as estratégias podem ser bastante diferentes. Dois exemplos são o MSCI Total Shareholder Yield e o S&P High Yield Dividend Aristocrats, os quais apresentam filosofias bastantes distintas.

“O primeiro foca-se em três critérios – dividend yield, net buyback yield e debt reduction yield – e, num mercado como o dos Estados Unidos, existe uma cultura muito forte de buybacks. Se ignorarmos essa componente, estamos a colocar de lado uma componente significativa de retorno”, explica. Por outro lado, o portefólio não terá um bias para sectores mais tradicionais, como as utilities ou as telecomunicações, “que distribuem dividendos mas não levam a cabo buybacks”. Dito isto, esta estratégia revela uma outra característica importante, penalizando empresas que emitem dívida e ao mesmo tempo recompram ações.

Já o S&P High Yield Dividend Aristocrats foca-se em empresas que aumentaram o pagamento de dividendos ao longo de 20 anos. “Mas é preciso ter em conta que, ainda que diga ‘high yield’, na verdade foca-se em dividendos por ação em termos absolutos”, ressalva o especialista, apontando um exemplo: “A West Pharmaceutical Services é uma empresa que tem vindo a aumentar os dividendos por ação nos últimos 20 anos, de 10 cêntimos para 55 cêntimos por ação. Contudo, se considerarmos a dividend yield, esta caiu de forma significativa para perto dos 54 pontos base – o que está bastante abaixo da média do mercado”. Como tal, “é necessário ter cuidado com a forma como estas estratégias são desenvolvidas”, indica o especialista.

6. Pode-se fazer market-timing com factores?

Como afirmado pelo especialista, os factores apresentam comportamentos distintos nos diferentes ciclos de mercado. “Num estágio de fim de ciclo, os factores momentum e quality tendem a superar o mercado. Entre o máximo e o mínimo do mercado, por outro lado, são os factores low volatility e yield que tendem a comportar-se melhor. Já numa fase de recuperação, size e value são os factores que se comportam melhor”, indica o especialista.

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7. Como combinar os diferentes factores?

São duas as formas de construir uma estratégia multi-factores: a abordagem ‘lego’ e a abordagem ‘soup’. “A primeira consiste numa abordagem que procura combinar portefólios de ações nos quais cada um apresenta exposição a um único factor. Já a segunda combina várias ações com uma boa exposição média a mais do que um factor”, revela o profissional.

Para exemplificar ambas as abordagens, Pawel Janus refere os factores value e momentum: “Na abordagem lego focamo-nos nas ações que melhor representam a estratégia value e colocamos de lado as restantes dimensões. Neste caso, é bastante simples encontrar uma variedade de títulos que representem uma única característica, mas tem a desvantagem de anular outro factor. A abordagem soup, por outro lado, procura encontrar ações que, ao mesmo tempo, apresentam valorizações baratas e que estão em crescendo. A vantagem é que não existe o efeito de anulação entre factores, mas existe a desvantagem de não poder ser reajustado quando se pretende expandir a dimensão dos factores”, explica. Em relação a esta ultima frase a principal desvantagem é que o modelo soup não é escalável a mais de 2 a 3 factores, o que significa que quando se querem combinar 6 factores, como é o caso do nosso ETF multifactorial, não é possivel usar este modelo.

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“Este é o poder da diversificação”, avança o especialista relativamente ao gráfico acima. De facto, “não houve um único ano em que os seis factores contribuíram em conjunto de forma negativa ou positiva, pelo que a estrutura da correlação do excedente de retorno tem sido bastante dinâmica”, destaca.

8. O factor investing funciona em diferentes estratégias?

Os factores apresentam características bastante diversas, pelo que a dispersão de retornos dos single factors ETFs é consideravelmente elevada. Por outro lado, a estratégias multifactores nas diferentes geografias proporcionam melhores retornos ajustados ao risco. “Acreditamos que as estratégias multifactores podem substituir as estratégias core porque proporcionam exposição ao mercado, mas as ações são ponderadas de forma diferente e o tracking error entre as estratégias é bastante modesto”, ressalva o especialista.

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9. Os produtos de factores apresentam custos de transação proibitivos?

Os custos de transação das soluções de single factor quando comparadas com os market cap ETF variam bastante. Por outro lado, factores como size ou momentum podem, efetivamente, ser bastante dispendiosos.

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10. Existem factores noutras classes de ativos?

A resposta é simples: sim, existem. O segmento das obrigações e das divisas são dois exemplos disso, onde existem já vários estudos que demonstram o funcionamento e as vantagens destas estratégias. O especialista destaca o segmento das divisas em particular, no qual “é bastante simples indexar estratégias como carry, momentum ou value e através das quais beneficiar de um incremento do retorno do portefólio”, avança.