Diversificar sim, mas até certo ponto

EUA
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A diversificação é uma das grandes premissas que seguem os bons investidores. É a melhor forma de reduzir o risco. Os melhores gestores de fundos são fiéis a esta máxima. Tal como recorda Fernando Luque, a ideia de diversificação é possuir ativos que tenham comportamentos díspares em diferentes cenários de mercado. Se um ativo baixa, há outro que sobe. Mas, segundo o editor financeiro da Morningstar, isto representa renunciar uma parte do rendimento da carteira.

“O que um investidor deseja, na realidade, é possuir classes de ativos que subam em conjunto no caso do mercado experimentar uma tendência hawkish. É daí que vem a tendência dos investidores  incluírem nas suas carteiras os fundos mais quentes do momento. No final, o investidor vai deparar-se com um número tão grande e diverso de fundos que a diversificação não poderá desempenhar o seu papel no caso de o mercado dar uma volta (e sabemos que, em períodos de queda, as correlações entre fundos de um mesmo tipo aumentam)”, afirma.

É algo que se pode ver até nas carteiras de grandes investidores institucionais. Nelas aparecem muitos fundos para investir em categorias core como as ações europeias, onde para ganhar exposição a este segmento de mercado incluem um número excessivo de produtos nas carteiras. “Com isso, a única coisa que se consegue é criar o índice mais caro do mundo”, indica numa entrevista à Funds People David Cienfuegos, responsável de negócio de investimentos em Espanha da Willis Towers Watson.

É importante recordar que o efeito positivo da diversificação não se nota sobre a rentabilidade da carteira, mas sobre o seu risco. Também é preciso recordar que para que a diversificação cumpra o seu propósito (de reduzir o risco da carteira) deve necessariamente implicar vários tipos de ativos (ações, obrigações, divisas, matérias-primas...). “Mas muitas vezes, os investidores confundem a quantidade com a qualidade. Diversificar não se trata de incluir o máximo de fundos de um único tipo. Não teria nenhum efeito (ou muito pouco)”, refere Luque.

De acordo com o especialista, também é necessário prestar atenção às correlações que existem entre os diferentes tipos de fundos, ainda que pertençam a classes de ativos muito diferentes. “Por exemplo, é sabido que as obrigações high yield têm um comportamento mais próximo das ações do que as obrigações tradicionais. No fim, tudo isto faz com que os investidores estejam, em geral, sobrediversificados, e ainda mais quando misturam nos seus portefólios diferentes instrumentos de investimento (ações e obrigações diretas, mutual funds, ETF...)”.

“Essa sobrediversficação representa evidentemente um risco em si, um risco semelhante ou maior que o de estar subdiversificado. A solução é, como em muitas coisas na vida, apostar no fácil: ter uma carteira simples, com poucos ativos, mas diferentes (ou seja, com baixa correlação) e dos quais consiga entender perfeitamente os movimentos. Se não entender como se movem cada um dos constituintes da carteira em diferentes contextos de mercado, então não entenderá como se comporta a sua carteira em conjunto”, conclui Luque.