Dois anos de pandemia: a evolução da exposição setorial dos fundos portugueses de ações globais

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Créditos: Hudson Hintze (Unsplash)

Na sequência da análise que temos vindo a realizar sobre o mote Dois anos de panemia, não podemos esquecer a importância que as estratégias de ações globais tiveram neste período. Isto é, foram um refúgio para muitos investidores que pretenderam diversificar os seus investimentos na classe acionista e, ao mesmo tempo, procurar um retorno considerável.

Face aos fundos de ações europeias e americanas, estes fundos globais podem oferecer uma maior flexibilidade e aproveitar algumas oportunidades de investimento que esses produtos podem não conseguir devido à sua restrição geográfica. Mas será que a alocação setorial destes fundos foi significativamente diferente dos fundos de ações europeias ou americanas? Que semelhanças e diferenças podemos encontrar? Analisamos a evolução da exposição setorial destes fundos de gestão nacional.

Perante esta análise, considerámos os fundos nacionais inseridos na categoria Morningstar Global Equity e com dados disponíveis na Morningstar Direct. Segundo este critério, considerámos os seguintes fundos: NB Momentum Sustentável, da GNB Gestão de Ativos, IMGA Global Equities Selection, sob responsabilidade da IM Gestão de Ativos, Caixa Ações Líderes Globais, gerido pela Caixa Gestão de Ativos, BPI Reforma Global Equities PPR/OICVM, BPI Ações Mundiais e BPI Global Investment Fund Opportunities, trio este sob alçada da BPI Gestão de Ativos. Adicionalmente, como muitos fundos de ações nacionais estão classificados como multiativos pela empresa de análise independente, inserimos também neste conjunto o Optimize Capital Reforma PPR/OICVM Agressivo, da Optimize IP, já que mais de 94% do seu portefólio é composto por ações de várias regiões do mundo.

Detalhes da carteira

Ao realizarmos a comparação destes portefólios relativamente ao número de ações em carteira, constatamos que, apesar de serem fundos globais, têm – em média – um número de ações em carteira inferior face às restantes categorias já analisadas. Deste conjunto, o produto com maior número de ações em carteira é o IMGA Global Equities Selection, com 112, e o menor é o Caixa Ações Líderes Globais, com 26.

A semelhança que encontramos é que a percentagem de ativos no Top 10 de títulos nas carteiras, em média, não perece diferenciar muito dos fundos norte-americanos e europeus. Neste caso, é o BPI Reforma Global Equities PPR/OICVM que detém a maior percentagem (60%) e o NB Momentum Sustentável a menor (19%).

Evolução da exposição setorial

Materiais básicos

Fonte: Morningstar Direct.

Se olharmos para a alocação em janeiro de 2020 e janeiro de 2022 no setor dos materiais básicos, verificamos que a alocação está atualmente relativamente igual do que estava há dois anos para a maioria dos fundos em análise. A única exceção trata-se do Caixa Ações Líderes Globais, que aumentou a sua exposição de 7,4%, em janeiro de 2020, para 9%, em janeiro de 2022. As duas empresas responsáveis por tal aumento na exposição foram a BHP e a BASF, empresas que se mantiveram no portefólio ao longo destes anos.

Além desta nota, de sublinhar também as variações na alocação no ano de 2021 por parte do IMGA Global Equities Selection, do BPI Reforma Global Equities PPR e do Optimize Capital Reforma PPR Agressivo.

No que toca ao IMGA Global Equities Selection, este aumentou a sua exposição ao setor no segundo trimestre de 2021, momento em que adicionou à carteira a Celanese, Nucor e a The Mosaic. No entanto, atualmente, conta com menos exposição ao setor e, destas empresas mencionadas, só a Celanese faz parte do portefólio.

Por sua vez, o Optimize Capital Reforma PPR Agressivo, desde setembro até dezembro de 2021, aumentou a sua alocação de 2,3 para 5,7%. Neste período, a equipa de gestão adicionou à carteira a Altri e a CRH. Empresas que se juntaram à carteira onde a Sika e a Corticeira Amorim já faziam parte.

Serviços de comunicação

Fonte: Morningstar Direct.

As grandes variações de alocação ao setor dos serviços de comunicação registaram-se por via do Optimize Capital Reforma PPR Agressivo. É que, apesar da alocação atualmente se manter semelhante ao que era em janeiro de 2020, ao longo deste período houve significativas oscilações. Isto é, logo em março de 2020 a exposição ao setor passou de 7,1% para 2,2%. No entanto, foi uma decisão de curta duração. Dois meses depois, a tendência de exposição já era crescente e, em novembro de 2020, atingiu o pico (13,6%). Nesta altura, a Facebook e a Alphabet eram as empresas preferidas da equipa de gestão. Atualmente, destas duas, só a Facebook continua a fazer parte do portefólio.

Mas é o IMGA Global Equities Selection que, constantemente, tem vindo a registar a exposição mais elevada a este setor. A escolha de seleção por parte da equipa de gestão tem sido a Alphabet.

Serviços financeiros

Fonte: Morningstar Direct.

Ao nível do setor dos serviços financeiros, não se registam significativas variações na exposição ao longo dos últimos dois anos.

Atualmente, o IMGA Global Equities Selection é o fundo com maior peso deste setor no portefólio, com cerca de 17%. A maior posição é na empresa The Hartford Financial Services Group.

De atentar que, no último mês de 2022, a tendência foi crescente de exposição a este setor foi crescente. Um movimento semelhante ocorreu ao nível da alocação dos fundos de ações americanas e europeias. Contudo, no geral, este ainda é um setor, em média, com menos preponderância nestes fundos face ao seu peso nos fundos de ações europeias ou americanas.

Saúde

Fonte: Morningstar Direct.

A saúde é um setor com uma elevada preponderância principalmente em dois fundos de ações globais: BPI GIF Opportunities, com 23,5% de alocação, e BPI Ações Mundiais, com 22,9% de exposição. Efetivamente, a exposição a este setor entre estes dois fundos nunca ficou abaixo dos 20% neste período. Atualmente, a ação com maior peso em ambos os portefólios é a Zoetis.

De fevereiro para março de 2020 também se verificou um movimento interessante por parte do fundo gerido pela Optimize IP. Se em fevereiro a alocação a este setor por parte deste fundo era de 6,9%, em março passou a ser de 12,7%, registando-se um movimento em V.

nos últimos meses, a tendência de exposição tem sido decrescente em quase todos os produtos em análise. A única exceção trata-se do IMGA Global Equities Selection, que tem mantido a alocação relativamente constante, sendo a sua maior aposta na Biogen.

Indústrias

Fonte: Morningstar Direct.

As empresas industriais tiveram um peso relativamente significativo no Optimize Capital Reforma PPR Agressivo, face à alocação registada pelos outros fundos. Falamos do pico que vemos no gráfico acima, em maio de 2021. Só em fevereiro de 2020 se registou uma alocação maior a este setor, e foi por parte do mesmo fundo. Contudo, atualmente, este não é o produto com maior preponderância deste setor no portefólio.

Assim, o produto com maior peso de empresas industriais na sua carteira é o Caixa Ações Líderes Globais, cuja exposição ao setor está atualmente em 15,1% - subindo de dezembro de 2021 para janeiro de 2022 quase 4 pontos percentuais.

Tecnologia

Fonte: Morningstar Direct.

É bem visível no gráfico acima a tendência crescente de exposição a empresas tecnológicas nos últimos dois anos. A este nível, o Optimize Capital Reforma PPR Agressivo, que registou mínimos de alocação em março de 2020, parece agora ter grandes convicções, uma vez que, atualmente, mais de 30% do seu portefólio são empresas tecnológicas. A maior aposta é na Microsoft e Adobe.

A alocação por parte dos restantes fundos encontra-se muito próxima, sendo a única exceção a estes o NB Momentum Sustentável, que regista 17,6% de exposição.

Consumo cíclico

Fonte: Morningstar Direct.

Relativamente ao setor do consumo cíclico, após o eclodir da pandemia a nível global, a alocação foi crescente até sensivelmente o último trimestre de 2021.

No entanto, semelhante ao que aconteceu nos fundos de ações americanas e europeias, nos últimos meses, uns gestores têm decidido aumentar a alocação ao mesmo, enquanto outros o oposto. De facto, o BPI GIF Opportunities foi um dos fundos que mais aumentou esta alocação, sendo a Louis Buitton a ação com maior preponderância. Em sentido contrário está o Optimize Capital Reforma, sendo um dos que mais diminui a alocação. Efetivamente, o fundo reduziu a sua posição na Hermes International.

De notar a máxima alocação a este setor verificada pelo IMGA Global Equities Selection no primeiro trimestre de 2021. Na altura, a ação deste setor com maior preponderância na carteira era a International Paper.

Consumo defensivo

Fonte: Morningstar Direct.

Por fim no que concerne ao setor do consumo defensivo, existem algumas discrepâncias entre as percentagens de alocação dos vários fundos. Por exemplo, o intervalo de alocação ao setor varia entre 3,2% e 19,9%.

O Caixa Ações Líderes Globais tem mantido a alocação constante ao setor, sendo atualmente o fundo com maior exposição ao mesmo. A Coca-Cola é a grande responsável por tal feito.

Outros

Fonte: Morningstar Direct.

Neste caso, o gráfico Outros refere-se aos setores de utilities e energia. Uma vez que estes setores têm pouca ponderação nas carteiras dos fundos analisados, não se encontram apresentados individualmente como os restantes.