Duras perspetivas para os perfis cautelosos: uma carteira só com obrigações soberanas quase garante uma rentabilidade negativa

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Phil_Bird, Flickr, Creative Commons

Preveem-se tempos difíceis para os investidores com um perfil cauteloso. A sua principal classe de ativos, as obrigações de alta qualidade creditícia, têm difíceis perspetivas de rentabilidade até a longo prazo. Segundo as estimativas da Robeco, uma carteira de dívida pública global poderá gerar uma rentabilidade média, em euros com divisa coberta, de -0,75% a cinco anos anualizada. Isto é, uma perda quase garantida.

As estimativas de retornos futuros da gestora, recolhidos na décima edição do seu relatório anual de Retornos Esperados (Expected Returns) 2021-2025, pioram se se restringir o universo a ativos soberanos com o rating mais alto (AAA), onde o investidor em euros poderá perder 1,75% todos os anos. Manter-se em liquidez também condena a uma perda quase segura de 0,50% anualizado.

Os juros das obrigações do Tesouro americano a dez anos têm um teto de 1,5% face aos próximos cinco anos e, na Alemanha e Japão, de 0,5% apenas, recorda da gestora holandesa. “Estes números incluem um ligeiro aumento das taxas de juro no fim do período de cinco anos da previsão, que é quando o crescimento vai começar a aumentar. Isto faz com que os investidores em dívida pública obtenham rentabilidades nominais negativas em todos os grandes mercados”, detalham.

Para aspirar a que a sua carteira gere um mínimo de rentabilidade a cinco anos necessariamente terá que assumir risco creditício. Mas manter-se na parte de maior qualidade da curva de corporativos, em investment grade, só lhe fornecerá 0,25% ao ano, em euros.

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Mas a estes números é preciso somar outro fator: o efeito de erosão que provoca a inflação no poder de compra. Segundo as estimativas da Robeco, para o mesmo prazo de cinco anos calcula uma inflação anual de 1,75%. Para superar esse nível, o investidor terá de incorporar na sua carteira de obrigações de pior qualidade creditícia (high yield), mercados emergentes, ativos imobiliários ou ações. Um risco que determinados perfis de investimento não podem (ou não devem) assumir.

Quem puder assumir o risco nas suas carteiras, a Robeco acredita que será recompensado. “Sobretudo porque certos refúgios também vão acabar por ser considerados arriscados”, detalha. “Para a maioria das classes de ativos de risco, a previsível compensação pela volatilidade é substancial, o que dá lugar a rácios de Sharpe atrativos. Ainda que os prémios de risco sejam elevados, a rentabilidade absoluta dos ativos permanecerá abaixo dos seus níveis de equilíbrio”, defendem.

O ponto-chave por detrás destes números está na atuação dos bancos centrais. A Robeco prevê que as taxas de juro reais se mantenham em negativo durante um período prolongado, o que significa que os seus efeitos sobre a relação entre os fundamentais económicos e a evolução dos preços dos ativos, assim como as suas implicações para as alocações multiativos, serão decisivas.