A diretora-adjunta de Estratégia e responsável pelo Investimento Sustentável em Espanha e Portugal da J.P. Morgan AM insiste no risco de reinvestimento enfrentado pelo investidor, especialmente o europeu, se a previsão de redução das taxas por parte do BCE se concretizar.
O cliente médio voltou a perder um bom ano de rentabilidades. 2024 foi um ano excelente para os ativos de risco, com índices como os norte-americanos a subirem mais de 20%, e mesmo emergentes como a China a apresentar resultados positivos no final do ano. O problema apontado por Elena Domecq é que, se olharmos para os fluxos do ano passado para fundos, uma grande parte do capital refugiou-se em monetários. “O cliente já perdeu dois anos muito bons”, lamenta a diretora-adjunta de Estratégia e responsável pelo Investimento Sustentável em Espanha e Portugal da J.P. Morgan AM.
Elena Domecq compreende que a incerteza, combinada com o cupão atrativo que o cash oferece novamente, tenha atraído os investidores, mas também insiste na imperativa necessidade de fazer algo com essa liquidez. “O risco de reinvestimento é muito real. Especialmente na Europa, onde, se a nossa visão de cortes de taxas por parte do BCE se cumprir, o que a liquidez pagava há um ano será muito menor de mês para mês”, alerta.
Multiativos devem regressar ao core
De igual forma, insiste que “com liquidez é muito difícil atingir o objetivo de investimento a longo prazo”. “O cash pode fazer sentido como parte de uma carteira, mas acreditamos que, em alguns casos, o nível de liquidez subiu muito acima do ótimo”, acrescenta Elena Domecq. Na sua opinião, os multiativos, que registaram vários anos de saída, devem voltar a ser parte central das carteiras do investidor médio.
Em todas as últimas grandes crises, manter-se investido apesar do ruído foi a decisão certa. A um ano, em 75% dos casos, uma carteira 60/40 fechou em terreno positivo. Mas se alargarmos o prazo a três anos, em 100% dos casos a abordagem equilibrada teria gerado rentabilidades positivas para o investidor.
Além disso, o ponto de entrada para o investidor continua a ser muito atrativo. Segundo os cálculos da equipa de Long-Term Capital Assumptions da J.P. Morgan AM, a rentabilidade esperada para uma carteira 60/40 em 2025 é de 5,1%. Ligeiramente abaixo dos 5,3% de 2024, mas ainda muito atrativo em comparação com os 2,8% de 2022.
Visão construtiva para 2025
A visão da J.P. Morgan AM para 2024 é, de modo geral, construtiva. A classe de ativos em que estão mais construtivos é a das ações, especialmente as ações norte-americanas. “Estamos conscientes, no entanto, de que temos dois anos muito bons atrás de nós, pelo que não esperamos os níveis de subidas de 2023 e 2024, nem descartamos episódios de volatilidade, como é completamente normal num ciclo de mercado”, afirma a especialista.
Em obrigações, a gestora acredita que deve ser mantida alguma duração (mas ainda assim neutros), com obrigações governamentais em carteira como proteção, precisamente para esses momentos em que o crescimento económico possa parecer mais fraco do que o esperado. O crédito atuará como a parte em alta das obrigações, mas, mais uma vez, sem esperar grandes estreitamentos dos spreads. Elena Domecq destaca ainda o papel dos ativos alternativos como uma das melhores opções para proteger a carteira contra a inflação.
A proposta da J.P. Morgan AM corresponde ao interesse que observam por parte dos seus clientes. Elena Domecq regista uma procura pelos seus fundos de ações globais, como o JPM Global Focus e o Global Select, bem como pelos seus ETF de gestão ativa.
Riscos
Quanto aos possíveis riscos para este sentimento otimista, Elena Domecq destaca algumas perguntas abertas, como impacto das principais medidas prometidas por Trump na inflação. “Imigração, desregulação e tarifas. Todos são catalisadores positivos para o crescimento dos Estados Unidos, mas também são inflacionistas”, explica. Assim, a nova administração de Trump terá de manter um delicado equilíbrio entre ambas as forças. Porque, apesar dos republicanos terem agora a maioria no Congresso, daqui a dois anos realizam-se as eleições mid-term. “E uma das razões pelas quais o partido democrático perdeu as eleições foi a elevada inflação”, afirma. E se houver uma maior inflação, isso influencia o caminho que as taxas de juro podem seguir nos Estados Unidos, bem como a força do dólar.
Dito isto, Elena Domecq insiste que ainda é muito cedo para fazer afirmações com tantos fatores ainda no ar. “O que conta é o que os republicanos fazem nos seus primeiros 100 dias, não o que foi dito na campanha”, insiste.