Elena Guanter (Candriam): “Não é preciso investir em matérias-primas ou em defesa para descorrelacionar carteiras. Há outras alternativas”

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Elena Guanter. Créditos: Cedida (Candriam)

2022 está a ser um ano muito difícil para os investidores. A visibilidade é escassa e o cliente tem muitas dúvidas sobre qual é a melhor forma de se posicionar. A mensagem que lhes foi transmitida por Elena Guanter, responsável da Candriam para Portugal e Espanha, é de cautela. “Em caso algum estamos a dizer aos nossos clientes que temos de acrescentar riscos. Esta não é a nossa mensagem.  O que os nossos gestores estão a fazer é monitorizar a situação dia após dia, tentando aproveitar as oportunidades que aparecem sempre, quando há volatilidade nos mercados, mas mantendo-se sempre fiel às nossas convicções e à nossa forma de gerir”, revela em entrevista à FundsPeople.

A Candriam é uma casa muito focada no ESG. E, no atual ambiente de mercado, ser fiel aos princípios significa desistir de procurar gerar rentabilidade em setores que, estando num caminho bullish, encaixam mal com a sustentabilidade, como as matérias-primas ou a defesa. Para Elena Guanter, “não é necessário investir em empresas deste tipo para descorrelacionar. Há outras alternativas. Existem, por exemplo, fundos de retorno absoluto, onde estamos a observar fluxos significativos em estratégias conservadoras e de baixa volatilidade que demonstraram a sua capacidade de descorrelacionar e obter rentabilidades positivas independentemente do ciclo. É o ambiente certo para aumentar a exposição a este tipo de produto”, sublinha.

Como explica, vai haver sempre ambientes mais e menos favoráveis para investimento socialmente responsável. “E o atual não é favorável”, reconhece. Mas isto tem uma leitura dupla. “Serve para sensibilizar os governos para a sua redução da dependência energética de outros países e recursos fósseis. Um barril de petróleo a 100 dólares não vai mudar a perspetiva para o ESG. Muito pelo contrário. O que vai fazer é acelerar a investigação e procurar soluções em tudo o que está relacionado com o investimento em hidrogénio, renováveis, armazenamento de energia alternativa... A médio e longo prazo, esta é uma tendência estrutural”.

Movimentos nas carteiras de clientes

A baixa visibilidade que existe atualmente nos mercados levou a uma redução geral do risco nas carteiras de clientes ibéricos. “Afetou tanto o crédito investment grade como o high yield. E também as ações”, revela. Ao mesmo tempo, o volume de perguntas que os clientes lhes enviam aumentou significativamente. Entre os mais comuns, a exposição de fundos à Rússia.

“A nossa abordagem ESG significou que, como gestora, este mercado não estava no radar. Nem a nível corporativo nem governamental. Nas nossas estratégias sustentáveis, a exposição antes do conflito era de 0%, enquanto nas carteiras tradicionais de fixed income de mercados emergentes deixámos de investir na Rússia em janeiro e a nossa exposição era inferior a 0,002%”.

Neste momento, Guanter recorda que Candriam é uma entidade com uma abordagem conservadora e institucional orientada para o cliente, dada a sua entrada na seguradora New York Life. “Tem uma notação de crédito AAA, algo que a empresa quer preservar. Em tudo o que fazemos, o controlo de risco é fundamental. Em qualquer decisão que seja tomada, os riscos são altamente valorizados. Por essa razão, é em bear markets como o atual que brilhamos como gestores. Estamos a vê-lo, por exemplo, com os nossos fundos de high yield, que estão a ter um desempenho excecionalmente bom. Ou com o bom comportamento das nossas estratégias ESG”.

Para Guanter, a chegada da New York Life em 2014 “marcou um antes e um depois”. Desde então, a gestora duplicou os seus ativos. A nível global, tem um volume de ativos de cerca de 158.000 milhões de euros. O crescimento líquido provém principalmente do ESG e dos produtos temáticos. É algo que permitiu à entidade diversificar o seu património por classe de ativos. “No início éramos conhecidos pelas nossas estratégias de obrigações e alternativos. Agora, um terço dos nossos ativos já estão em estratégias de ações, principalmente produtos sustentáveis e temáticos”.

Objetivos e crescimento futuro

“O nosso objetivo é continuar a crescer, mas não a qualquer preço. Não é algo que com que estejamos obcecados.  Queremos continuar a ter ativos suficientes para ser rentáveis e crescer de forma sustentável, mas oferecendo o melhor serviço e o melhor retorno ajustado ao risco aos nossos clientes.  Por vezes, fechámos vários fundos por razões de dimensão. Para a gestora, a rentabilidade e o controlo de risco é muito mais importante do que o crescimento. É uma estratégia que, a longo prazo, provou ser a mais adequada. O importante é procurar esse crescimento, mas sem renunciar à nossa filosofia”, explica.

Olhando para o futuro, uma das áreas em que detém as maiores expetativas está no mundo ilíquido. É um segmento para o qual, como casa gestora, estão a fazer uma aposta importante com a entrada em 2018 no capital da Tristan Capital, uma empresa imobiliária europeia, ou em 2020 na Kartesia, especializada em dívida privada. Na empresa também chegaram a acordos estratégicos com entidades como a ABN Amro ou a Rothschild. “Dão-nos um crescimento mais sólido e diversificado”, conclui.